Numa troca de… nem-sei-que-lhe-chamar… (talvez de opiniões) em que me deixei envolver sobre o Prémio Nobel da Paz (PNP) deste ano, acabei por deixar cair uma questão que levantei, nada me convidava a continuar a “conversa” mas a questão ficou a circular pelas minhas reflexões
Ela pode referir-se como sendo a das “razões chinesas”. E, embora pareça questão ao lado da da atribuição do PNP, as razões (ou melhor: a estratégia e os critérios) que levaram à sua atribuição tinham de levar às “razões chineses” porque o que subjaz na escolha é não a paz e acordos entre Estados (e outros itens do critério de atribuição) mas a dissidência enquanto direito humano e a sua repressão na China. Por isso, quais as razões (se assim me consentem que diga…) que a China tinha para reprimir a dissidência de Liu Xaobo.
Desde logo, não concedo que toda a dissidência e toda a maneira de a manifestar sejam direitos intocáveis por fazerem parte do direito à liberdade, e este ser um absoluto, ou até o direito.
Um homem tem o direito de pensar que o seu país, a comunidade em que nasceu e vive deveria ser uma colónia de um outro grupo de países com poder colonizador, e que o deveria ser per omnia secula seculorum ou por tantos séculos quantos os necessários (a acrescentar aos séculos de colonizado que já teve) para assimilar o sistema que nesse grupo de países vigora… com todo o vigor e como se fosse o fim da humanidade (incluindo, portanto, países colonizadores e países colonizados).
E não só um homem tem esse direito de assim pensar, como tem o de o afirmar, mas terá o direito de o manifestar de todas as maneiras? Como a de se colocar ao serviço desses grupo de países colonizadores, chamemos-lhe metrópoles, a de utilizar e ser utilizado pelos poderosíssimos meios de que as metrópoles dispõem, em desafio descoberto e encoberto ao que o seu próprio país parece querer, libertar-se de laços coloniais e da miséria que estes provocaram e ainda provocam a milhares de milhões de compatriotas seus?
Para não gastar muito mais cera, para a concretização desse seu sonho, Liu Xaobo, como li, por exemplo em “Réseau Voltaire”, tem agido continuadamente desde 1988, como o mostrou em entrevista a um jornalista sueco em 2006, em que “celebrou a guerra estado-unidense para exportação da democracia para o Iraque, estando-se em presença de um personagem que, contra o seu país invoca directamente o domínio colonial e indirectamente a guerra de agressão; é um sonho que lhe vale, ao mesmo tempo, a detenção em prisões chinesas e o Prémio Nobel da Paz”.
Dir-me-ão, e pertinentemente, que mais escandalosa foi a atribuição do PNP a Obama no ano passado porque, por mais que haja quem o queira mostrar como um campeão da Paz, continua a ser, e sem tréguas, a imagem da guerra que se faz e exporta. No entanto, o que a atribuição deste ano provoca são outras reflexões, não as da atribuição do prémio a quem se considera poder merecer “prémio” contrário pelo que não fez pela Paz e pelo que continua protagonizar como Guerra (porquê, se ainda não, se tem intenções de seriam outras questões), mas a atribuição do prémio por critérios e razões colaterais aos da criação e ao título que ele tem.
Ela pode referir-se como sendo a das “razões chinesas”. E, embora pareça questão ao lado da da atribuição do PNP, as razões (ou melhor: a estratégia e os critérios) que levaram à sua atribuição tinham de levar às “razões chineses” porque o que subjaz na escolha é não a paz e acordos entre Estados (e outros itens do critério de atribuição) mas a dissidência enquanto direito humano e a sua repressão na China. Por isso, quais as razões (se assim me consentem que diga…) que a China tinha para reprimir a dissidência de Liu Xaobo.
Desde logo, não concedo que toda a dissidência e toda a maneira de a manifestar sejam direitos intocáveis por fazerem parte do direito à liberdade, e este ser um absoluto, ou até o direito.
Um homem tem o direito de pensar que o seu país, a comunidade em que nasceu e vive deveria ser uma colónia de um outro grupo de países com poder colonizador, e que o deveria ser per omnia secula seculorum ou por tantos séculos quantos os necessários (a acrescentar aos séculos de colonizado que já teve) para assimilar o sistema que nesse grupo de países vigora… com todo o vigor e como se fosse o fim da humanidade (incluindo, portanto, países colonizadores e países colonizados).
E não só um homem tem esse direito de assim pensar, como tem o de o afirmar, mas terá o direito de o manifestar de todas as maneiras? Como a de se colocar ao serviço desses grupo de países colonizadores, chamemos-lhe metrópoles, a de utilizar e ser utilizado pelos poderosíssimos meios de que as metrópoles dispõem, em desafio descoberto e encoberto ao que o seu próprio país parece querer, libertar-se de laços coloniais e da miséria que estes provocaram e ainda provocam a milhares de milhões de compatriotas seus?
Para não gastar muito mais cera, para a concretização desse seu sonho, Liu Xaobo, como li, por exemplo em “Réseau Voltaire”, tem agido continuadamente desde 1988, como o mostrou em entrevista a um jornalista sueco em 2006, em que “celebrou a guerra estado-unidense para exportação da democracia para o Iraque, estando-se em presença de um personagem que, contra o seu país invoca directamente o domínio colonial e indirectamente a guerra de agressão; é um sonho que lhe vale, ao mesmo tempo, a detenção em prisões chinesas e o Prémio Nobel da Paz”.
Dir-me-ão, e pertinentemente, que mais escandalosa foi a atribuição do PNP a Obama no ano passado porque, por mais que haja quem o queira mostrar como um campeão da Paz, continua a ser, e sem tréguas, a imagem da guerra que se faz e exporta. No entanto, o que a atribuição deste ano provoca são outras reflexões, não as da atribuição do prémio a quem se considera poder merecer “prémio” contrário pelo que não fez pela Paz e pelo que continua protagonizar como Guerra (porquê, se ainda não, se tem intenções de seriam outras questões), mas a atribuição do prémio por critérios e razões colaterais aos da criação e ao título que ele tem.
5 comentários:
Muito bem explicada a razão por que se consideram mal atribuídos os PRÉMIOS NOBEL da PAZ , este ano e no ano passado.
Um beijo.
Se o cidadão Liu fosse cidadão do meu país e "reivindicasse" para o meu país as coisas que Liu "reivindica" para a China... votaria favoravelmente a sua ida para a prisão. Disse!
O PNP... esse, nos tempos que correm, não vale nada.
Abraço.
Graciete - estão a ser utilizados, são (ou podem ser, porque nem sempre o terão sido ou serão)instrumentos do capitalismo.
Samuel - que ele e outros como ele "reivindiquem" será um direito seu, agora que façam coisas para que, agora que se juntem a outros, no interior e no exterior, para que é que há que impedir! E, desculpa lá..., olha que o PNP está a valer de muito... pela negativa.
Abraço e beijo (por outra ordem)
Os Os Prémios Ignobel da Paz estão a ser bem distribuídos.
registo a classificação «troca de nem-sei-que-lhe-chamar» e «conversa entre aspas». pela minha parte entendi - e assumi - que a conversa a que Sérgio Ribeiro fez alusão não era entre aspas, era debate ou discussão em espaço público, e que a troca - entendido assim o caso - era de argumentos ou opiniões, sem dificuldade de lhe encontrar nome, sem talvez e sem aspas.
já agora. por acaso Liu Xiaobo assinou um documento, a carta 08, em que, entre outras coisas, é defendido o direito à greve e o direito à manifestação na china. por acaso algo tão básico no plano da liberdade quão o que é celebrado, defendido e usado também pelos comunistas em portugal. mas - entre a incapacidade de compreender e a falta de compreensão - compreendo que seja mais adequado classificar Liu Xiaobo como advogado de uma china colonizada e agente desse desígnio, ainda que seja entendimento do mesmo Liu Xiaobo que - cito e traduzo do inglês - “a era do colonianismo já passou”. (curioso. as palavras de Liu Xiaobo não merecem interpretação - ele é defensor da solução colonial para a china, disse-o e não se fala mais sobre o assunto - mas as palavras do comité nobel norueguês não só merecem como necessitam de tradução - são «instrumentos do capitalismo», não são palavras autênticas, correspondentes a um juízo genuíno, não, têm injectada intenção alienadora, portanto enganadora.)
por fim. em portugal pode chamar-se dissidente a um comunista? isto é, haverá razões portuguesas que justifiquem a aplicação a quem é comunista em portugal de uma receita semelhante à que foi aplicada a Liu Xiaobo na china? será que se deve ilegalizar o pcp e perseguir e prender os comunistas por que têm como horizonte doutrinário e de acção uma ditatura que - tomando como indicador os resultados eleitorais consecutivos há trinta e cinco anos - a grande maioria dos portugueses não pretende? ou, cá - ao contrário do que vale na china para quem tem opiniões políticas diferentes -, um comunista tem a liberdade e o direito de ser comunista e pode ser reconhecido como comunista e não como um órfão da urss? (estas perguntas são retóricas.)
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