O que é isso do orçamento? - 1

Muito se ouve falar de orçamento. E todos ouvimos falar dessa "coisa" como se fosse algo lá daqueles senhores que dela falam, e que tem de ser aprovada porque senão será uma desgraça.

Um desses senhores, o primeiro, para tal eleito (indirecta e insuficientemente), diz que se não for aprovado aquele orçamento que (ainda não) apresentou, se vai embora porque não governa com orçamentos dos outros; um segundo, que quer ser primeiro, diz que até daria os seus votos (quem lhos deu a ele, e aos "seus" deputados?) mas impõe a condição de o orçamento não vir aumentar os impostos mais do que já aumentados... mesmo que, ainda sem orçamento aprovado, já aumentados; um terceiro, eleito que seria mais importante que os outros dois, farta-se de dizer que os outros (ambos os dois...) têm de ser responsáveis, e até fala de cátedra dando o exemplo dos muitos anos (uma década) em que ele também foi (ir)responsável.

E há um coro de senhores que, não sendo eleitos, mandam nos eleitos, e estão muito preocupados com os mercados e com os conselhos, pareceres e notações que umas agências (de rating) lhes fornecem a seu pedido mas que eles pagam para que sejam aqueles e não outros os pareceres e as notações.

Tudo aparentemente muito preocupado porque os juros sobem e mercados estão à espera de sinais de que os portugueses vão corrigir os seus dislates, aquilo que nos tornou entre as ovelhas mais negras (e ranhosas) de um rebanho em que, olhando com atenção, não se vê nenhumas de outra cor.

Mas o que é isso do orçamento?

Por estas bandas, há muitas décadas que com orçamentos me (pre)ocupo, primeiro para passar nos exames, depois para que as receitas que entravam lá em casa chegassem para as despesas domésticas, também para saber e informar sobre o modo como, no Estado, gastavam o que era nossa contribuição para o bem-estar comum, aliás um enorme mal-estar para a maioria da população, sem crescimento económico, com guerras coloniais às costas e muita emigração, aquilo a que então se chamava Orçamento Geral do Estado.

Foi uma das minhas primeiras publicações, em Fevereiro de 1969. No tempo em que os blogs não comunicavam e a censura apertava.

E hoje continuo. Quando apareceu o PEC, o primeiro, no 1º trimestre deste ano (parece que foi há anos, de tão velho que está...), foi com muita satisfação e militância que andei por vários sítios deste nosso País, onde me chamaram, a dar os meus contributos para o esclarecimento do que era isso e discutir as suas consequências.

Começava (e continuarei a começar, onde tiver oportunidade) por falar no orçamento.

continua