terça-feira, outubro 05, 2010

Vivendo este dia!

Vivendo este dia.
Em que responsáveis pelas malfeitorias (ao povo, aos trabalhadores) apelam a co-responsáveis pelas malfeitorias para que se chegue a consensos... para continuarem na mesma senda de malfeitorias.
Lá, na cidade grande, e aqui, na cidade pequena. Enquanto ignoram quem está sempre - porque sempre esteve - disponível para se procurarem novos rumos. Por que lutam!
O resto é folclore, é papel colorido em que se embrulham rebuçados minguados.

17 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Contra tudo e quase todos a luta continua . Assim se fazem os 5 de Outubro,os 25 de Abril e o novo doa que há-de surgir.

Um beijo.

Carlos Gomes disse...

O folclore é o saber do povo, os seus usos e costumes,a sua própria identidade. A utilização do termo folclore de uma forma depreciativa revela um certo preconceito em relação à cultura popular e amesquinha-a. Em todo o país e nas comunidades portuguesas existem cerca de dois mil e quinhentos agrupamentos folclóricos e de música tradicional, uns melhores do que outros é certo, mas em todos os casos procurando preservar a cultura tradicional. São centenas de milhares de pessoas que, sempre que ouvem o termo "folclore" empregue depreciativamente se sentem ofendidos. Também eles podiam utilizar outros termos mais caros à classe política de igual forma depreciativa. Desde logo, a palavra político oferece inúmeras variantes... penso que não é necessário nem faz sentido empregar estereotipos próprios de uma burguesia citadina com preconceitos em relação ao mundo rural!

Sérgio Ribeiro disse...

Graciete - Exactamente, camarada Graciete.

Carlos Gomes - O que diz é pertinente. Aceito a crítica.Já sobre a "classe política" (que não sei que seja...)... teria muita coisa a dizer, e só utilizei depreciativamente a palavra folclore, não para depreciar o folclore mas a política (urbana ou rural) que usa e abusa do SEU próprio folclore..

Carlos Gomes disse...

...eu apenas disse que esses milhares de pessoas que legitimamente se sentem ofendidas pela utilização depreciativa do termo folclore poderiam de igual modo fazer o mesmo em relação a outros termos como é o caso da palavra político.
E, quando digo que esses milhares de pessoas não apreciam mesmo nada tal facto, sei do que digo. Bastará ouvi-las por vezes nos espectáculos que organizam e nas publicações relacionadas com essa temática. E, em Ourém, existem também cerca de meia dúzia de agrupamentos folclóricos.
De resto, qualquer preconceito a respeito do folclore é injustificado... foi no folclore que os grandes compositores de música erudita se inspiraram, sobretudo no período do Romantismo. Scarlati viveu entre nós e compôs um fandango e outra música da Beira Litoral. Podíamos ainda citar os portugueses Luís de Freitas Branco e Fernão Lopes Graça. E por aí fora!
- Deixemos que certos políticos ignorantes insultem o folclore porque mais não revelam do que o seu desprezo pelas coisas do povo!

Sérgio Ribeiro disse...

Caro Carlos Gomes - Por favor, não insista.
Já aceitei a crítica, até porque respeito (e admiro) o associativismo cultural que se materializa em actos e actividades de folclore... E qualquer preconceito, sobre o que quer que seja, é injustificado. Porque é pré-conceito!
Entretanto, não confundamos as coisas: há bom e há mau folclore, e há folclore que nem é... folclore. Adiante.
Mas olhe que isso da música erudita se basear na música do povo é como em tudo, o que não tiver raízes populares pouco dura. As recolhas do Giacometi são trabalho inestimável, em que colaborou com o Lopes Graça, o nosso vizinho de Tomar - que era Fernando e não Fernão - e tive com eles muito boas relações pessoais.

Saudações

samuel disse...

Carlos Gomes e Sérgio:

Se, nalguma curva do caminho, a palavra “folclore” deixou, aqui e ali, de ter a dignidade que mereceria, para passar a ser símbolo de qualquer coisa de ridículo, falso e descredibilizado, a culpa, quase sempre, foi dos próprios praticantes de folclore que, desrespeitando a sua própria cultura popular e colectiva, estragam tudo. Inventando trajes, tocando mal e porcamente, cantando desafinado, copiando danças, surripiando cantigas de outras regiões do país e espetando-lhes com uns versos a falar da sua terra, dizendo que é uma musica tradicional “mesmo daqui”, etc., etc., etc.

Felizmente, há grupos que estão bem acima desta lamentável mediocridade em que caiu muito do nosso folclore.

Portanto, quando se utiliza o termo “folclórico” para classificar coisas a roçar o ridículo, indigentes, sem raízes, utiliza-se muito bem e os praticantes e ensaiadores de grupos folclóricos deveriam antes procurar estudar e aperfeiçoar aquilo que fazem, em vez de se ofenderem corporativamente.

Nunca vi uma ou um grande fadista ofender-se com o termo “fadistices”!

Nunca vi o José Afonso ofender-se com as piadas sobre os “baladeiros” que cantavam mal e tocavam ainda pior!

Viva a música tradicional e popular portuguesa e os seus muitos praticantes apaixonados!

Abraço.

Carlos Gomes disse...

Estou plenamente de acordo com o Samuel. De facto, em grande medida, a culpa é dos próprios "folcloristas" que deturpam e abandalham o folclore. Mas também existe um certo preconceito em virtude do Estado Novo ter patrocinado e tutelado o folclore, aliás como o fez em relação ao futebol, ao fado e a outras coisas... só que, em relação a estas, o preconceito foi ultrapassado. Mas, seguindo a mesma linha de raciocínio, também muito do epítetos pouco abonatórios que se vão ouvindo em relação aos políticos, indistintamente, é culpa deles próprios... e, se pegarmos nas variantes da palavra político que vêm no dicionário, também não deverão ter razões para se ofenderem. Apesar de tudo, esforço-me por ver as coisas pelo lado positivo, em relação à política, ao folclore e a tudo o mais!

Sérgio Ribeiro disse...

Ora aqui fica uma conversa interessante (a meu critério). Em que se partiu de posição diferentes por mal esclarecidas e cse hegou a acordo sem que houvesse tido que berrar, insultar, ofender,
Obrigado Carlos Gomes, obrigado Samuel e. já agora..., obrigado a mim (não tenho de quê!)
Só mais uma achega: tal como no folclore, há "políticos" bons e há "políticos" maus, isto é... não metamos todos no mesmo saco. Aliás, políticos somos todos, o que não há é essa coisa de "classe política" como um grupo social corporativo.
Saudações

Mário disse...

De pouca relevância, aqui fica uma opinião: Toda a expressão artística de raíz sócio-cultural é folclore, não deixando lugar para o bom e o mau, só ao folclore, que o deixa de ser de não encontrar identificação pelas massas e com a sua realidade.

Um exemplo mínimo de difusão cultural e folclórica, adaptação, toma base na arte xávega, a qual, já de si e segundo Redol, trazida dos arados, alimenta danças e músicas diferentes de Aveiro à Caparica, obrigando assim mesmo a certas modificações quantitativas e qualitativas do motivo, enquanto as condições ambientais derivam ainda que de forma inapreciável.

Sérgio Ribeiro disse...

Mário - mais um bom contributo para uma boa conversa! Obrigado

Carlos Gomes disse...

"Toda a expressão artística de raíz sócio-cultural é folclore" - esta afirmação levar-nos-ía a concluir que o folclore não é afinal uma expressão do saber do povo para passar a representar indistintamente todos os grupos sociais. Sucede que, no sentido em que habitualmente o povo é referido relativamente a esta temática, o folclore reporta aos grupos sociais que, numa sociedade pré-industrial, construíram o seu modo de vida, as suas crenças, os seus divertimentos, os seus rituais, a sua medicina, a sua alimentação e formas de trabalho. Pelo que, apesar de reflectir a estratificação social à época, o folclore não respeita certamente aos grupos sociais ociosos. No Alentejo, eram os camponeses que cantavam e não os patrões, foram os escravos que no Brasil inventaram a feijoada porque as mulheres ricas não cozinhavam, etc.
O Dr. Sérgio Ribeiro não esperava certamente aqui um debate sobre etnografia... :-)

Sérgio Ribeiro disse...

Ó meu caro, eu aqui espero tudo.
Mas fosse tudo como esta conversa...

Mário Pinto disse...

Não existindo qualquer parágrafo que dissocie "sócio-cultural" de "massas", podemos entender a "realidade" como sustento do folclore. A realidade é aquela que a super-estructura, concretamente a classe trabalhadora, debela e transforma, entende e reflecte, lutando das mais diversas formas contra o condicionamento pela infra-estructura num paradigma capitalista, esta provavelmente em mãos de "grupos/cidadãos" burgueses.
Assim, os "grupos sociais ociosos", por seu lado, impactam de forma significativa no folclore, não sendo, porém, o seu percursor.
A liberdade, essa outra musa, do expressar colectivo conforma para a sua formulação folclórica, para o seu esquema de cristalização, a vontade de muitos, e, a identificação de inquietações ou experiências comuns de diferentes indivíduos.

O levantamento etnográfico, desenvolvido por alguns, obriga-se a observar dinâmicas, soluções, ou mesmo, mentiras de cariz histórico de muitos, tranformando-se assim em folclore se aqueles dos quais recolheu e sintetizou informação a sancionarem como expressão, de outra forma, cultura que será para alguns, apenas resultará imposição para todos. Esta, conhecida, poderá ser ditatorial, demagógica, mas, nunca democrática; nunca folclore, capitalismo, ou mesmo, imperialismo (hoje!)!

Carlos Gomes disse...

A industrialização dos processos de produção arrancou às suas origens grandes levas de agricultores (e não só!) para os transformar em operários, uniformizando-os no "traje", nos hábitos e no modo de pensar. O ruído das máquinas silenciou a alegria dos trabalhadores habituados que estavam aos cânticos de trabalho com que faziam acompanhar o ritmo das lides da lavoura. A sociedade de consumo fez o resto: padronizou os hábitos à escala do planeta, impôs o jeans, o hamburguer e a coca-cola em detrimento dos produtos regionais, símbolos de identidade.
Por conseguinte, não podemos estender o conceito de "folclore" a uma sociedade industrializada, com hábitos massificados, ainda que sob manifestações da cultura moderna subsistam raízes da genuína cultura popular.
Outro aspecto reside na influência que resultou nefasta da intervenção do Estado Novo, a qual não tem merecido a atenção suficiente. Mas isso dá pano para mangas!...

Mário disse...

Não atendendo às assunções imobilistas do último texto, sobre o folclore deixarei um exemplo da permanência do mesmo na era ¿industrial?, ¿pós -industrial?:

Num baptizado, um padre, porque aí me encontrava obrigado, teve a felicidade de me questionar sobre o significado do acto ao qual assistia, respondendo eu: Uma representação folclórica da tentativa de entrega de uma vontade aos valores da religião adoptada pela maioria da população deste país (um folclore que não assumo, mas aí está).
Não vale a pena mencionar os esgares e sapos que nesse momento descompuseram a deísta figura (única revelação assumida e por tal legitimação da defesa na fé nesse louco conto "esquizofrenizador") desse vendedor de banha da cobra.

Mais, numa plataforma marítima, turno a turno, porque limitados nos movimentos, existem modelos comuns de comportamento ocioso mediados pela aceitação ou disconformidade na incorporação de actividades que históricamente se propõem ao grupo. O ambiente no qual se transformam estes trabalhadores, é ou não folclore? Não sendo passível de transmissão fora do contexto?
Observando a possibilidade transferência à realidade pessoal de cada indivíduo, por razões sociais, económicas, físicas, e a sua difusão, formando parte da experiência de toda uma população, ou apenas por concentração geográfica na proveniência desses trabalhadores, ou pelo contrário, na sua representação folclórica, qual seria o lugar do modo, do folclore, da sala de convívio?

O Canto coral alentejano, é folclore?

A cultura somos nós, essa eu sei, povo, e por tal popular, ou o povo de antes era idóneo para parar e patentar a cultura?
A defesa imobilista da modernidade é tão conservadora quanto a preocupação pelo stock de naftalina da mercearia, outra coisa é parar o tempo e condicionar a cultura ou alcunhar a contra-cultura.

Não será o cercado um latifúndio tão grande que permita pelos menos colocar-mo-nos ao redor da cultura? Não será esta, sendo a do povo, que ao virar-mo-nos, novos, com as costas fartas de os cansar, os deixe sem reacção por falta de experiência com o que não protagonizam?

O Saramago dizia que escrever de determinada forma é bem, mas que, toda a forma convencionada é isso mesmo, um convencionalismo. Mesmo desde a antropologia, o folclore não cresce numa marisma nem se parece a um gingko-biloba.

Mário disse...

Não atendendo às assunções imobilistas do último texto, sobre o folclore deixarei um exemplo da permanência do mesmo na era ¿industrial?, ¿pós -industrial?:

Num baptizado, um padre, porque aí me encontrava obrigado, teve a felicidade de me questionar sobre o significado do acto ao qual assistia, respondendo eu: Uma representação folclórica da tentativa de entrega de uma vontade aos valores da religião adoptada pela maioria da população deste país (um folclore que não assumo, mas aí está).
Não vale a pena mencionar os esgares e sapos que nesse momento descompuseram a deísta figura (única revelação assumida e por tal legitimação da defesa na fé nesse louco conto "esquizofrenizador") desse vendedor de banha da cobra.

Mais, numa plataforma marítima, turno a turno, porque limitados nos movimentos, existem modelos comuns de comportamento ocioso mediados pela aceitação ou disconformidade na incorporação de actividades que históricamente se propõem ao grupo. O ambiente no qual se transformam estes trabalhadores, é ou não folclore? Não sendo passível de transmissão fora do contexto?
Observando a possibilidade transferência à realidade pessoal de cada indivíduo, por razões sociais, económicas, físicas, e a sua difusão, formando parte da experiência de toda uma população, ou apenas por concentração geográfica na proveniência desses trabalhadores, ou pelo contrário, na sua representação folclórica, qual seria o lugar do modo, do folclore, da sala de convívio?

O Canto coral alentejano, é folclore?

A cultura somos nós, essa eu sei, povo, e por tal popular, ou o povo de antes era idóneo para parar e patentar a cultura?
A defesa imobilista da modernidade é tão conservadora quanto a preocupação pelo stock de naftalina da mercearia, outra coisa é parar o tempo e condicionar a cultura ou alcunhar a contra-cultura.

Não será o cercado um latifúndio tão grande que permita pelos menos colocar-mo-nos ao redor da cultura? Não será esta, sendo a do povo, que ao virar-mo-nos, novos, com as costas fartas de os cansar, os deixe sem reacção por falta de experiência com o que não protagonizam?

O Saramago dizia que escrever de determinada forma é bem, mas que, toda a forma convencionada é isso mesmo, um convencionalismo. Mesmo desde a antropologia, o folclore não cresce numa marisma nem se parece a um gingko-biloba.

Mário disse...

Não atendendo às assunções imobilistas do último texto, sobre o folclore deixarei um exemplo da permanência do mesmo na era ¿industrial?, ¿pós -industrial?:

Num baptizado, um padre, porque aí me encontrava obrigado, teve a felicidade de me questionar sobre o significado do acto ao qual assistia, respondendo eu: Uma representação folclórica da tentativa de entrega de uma vontade aos valores da religião adoptada pela maioria da população deste país (um folclore que não assumo, mas aí está).
Não vale a pena mencionar os esgares e sapos que nesse momento descompuseram a deísta figura (única revelação assumida e por tal legitimação da defesa na fé nesse louco conto "esquizofrenizador") desse vendedor de banha da cobra.

Mais, numa plataforma marítima, turno a turno, porque limitados nos movimentos, existem modelos comuns de comportamento ocioso mediados pela aceitação ou disconformidade na incorporação de actividades que históricamente se propõem ao grupo. O ambiente no qual se transformam estes trabalhadores, é ou não folclore? Não sendo passível de transmissão fora do contexto?
Observando a possibilidade transferência à realidade pessoal de cada indivíduo, por razões sociais, económicas, físicas, e a sua difusão, formando parte da experiência de toda uma população, ou apenas por concentração geográfica na proveniência desses trabalhadores, ou pelo contrário, na sua representação folclórica, qual seria o lugar do modo, do folclore, da sala de convívio?

O Canto coral alentejano, é folclore?

A cultura somos nós, essa eu sei, povo, e por tal popular, ou o povo de antes era idóneo para parar e patentar a cultura?
A defesa imobilista da modernidade é tão conservadora quanto a preocupação pelo stock de naftalina da mercearia, outra coisa é parar o tempo e condicionar a cultura ou alcunhar a contra-cultura.

Não será o cercado um latifúndio tão grande que permita pelos menos colocar-mo-nos ao redor da cultura? Não será esta, sendo a do povo, que ao virar-mo-nos, novos, com as costas fartas de os cansar, os deixe sem reacção por falta de experiência com o que não protagonizam?

O Saramago dizia que escrever de determinada forma é bem, mas que, toda a forma convencionada é isso mesmo, um convencionalismo. Mesmo desde a antropologia, o folclore não cresce numa marisma nem se parece a um gingko-biloba.