segunda-feira, outubro 18, 2010

Sobre uma ficção chamada economia portuguesa para 2011


Os últimos dados sobre as perspectivas macroeconómicas de Portugal, fornecidos pelo Ministério das Finanças na apresentação do Orçamento de Estado para 2011 (julga-se que são os últimos, sendo das 15 horas de sábado, depois de sucessivamente adiados e alterados até essa hora…) são verdadeiramente de susto.
Não só pelo que são como expressão de uma política que prossegue, anti-social, obediente a “mercados”, bancos e banqueiros, e violenta, mas também como exercício técnico.
Logo a primeira linha é falaciosa (ou deveria dizer falsa?!). O crescimento do PIB de 0,2% é – nesta estratégia que se reflecte nas outras linhas – algo em que ninguém pode acreditar, é desmentido por todas as outras fontes. Se o governo puder concretizar as medidas a que obedientemente se propõe, o PIB não estagnará mas descerá (cresce para baixo!), o que irá ainda mais agravar todas as taxas que terão o PIB como denominador e que se intentam melhorar: o défice, a dívida.
As duas linhas seguintes apresentam números da maior relevância social. Segundo eles, os consumos irão diminuir, o privado 0,5% e o público 8,8 (!), sendo este, além de um dos dados que o governo pode directamente determinar, verdadeiramente assustador (e provocará a queda do consumo privado, pois não se pagando aos funcionários as famílias não consomem), e isto resultará da quebra do investimento em 2,7%, pois o Estado não investirá e os investidores significativos andam por outras "praias de fora", e aqui não investem nem pagam impostos com o pretexto de que, se tivessem de pagar, não ficariam cá… onde não ficam!
Daqui, resultará a quebra da procura interna em 2,5%, mais umas facadas no sr. Keynes que salvou a economia capitalista com aquela coisa da procura efectiva, agora transformada em desefectiva porque deixou de haver oferta e procura... e só há “mercados”!
As duas linhas seguintes são de sinal contrário. A das importações tem de mostrar descida e a das exportações tem de mostrar subida e significativa. Só que, se se podem impedir as importações, não se vê como conseguir concretizar aquele volume de exportações se os actores que o podem fazer estão na “mesma onda” de dificultar as suas importações.
Tudo isto, em resumo, quer dizer (por outra ordem) que:
  • Não se investe,
  • pouco se produz,
  • dificulta-se a importação,
  • não se consome,
  • exporta-se o que for possível, desde que se consiga encontrar quem importe.
Em complemento:
  • A taxa de desemprego continua a subir, ou até dispara,
  • não se resolve o problema do endividamento, até se agrava!

O que vale é que tudo isto (e não a economia portuguesa) é ficção se nós quisermos e pusermos Portugal a Produzir!

4 comentários:

Anónimo disse...

"Como são funestas as alianças com os capitalistas".
"Um governo que tome medidas contra o povo, deve ser considerado como seu inimigo, como um governo que merece ser derrubado e esmagado pela insurreição das classes trabalhadoras". Lenine, set. 1917.
Não causa surpresa que os actuais discursos de J. Sousa e C. Silva sejam já, um grande enjoo para quem os ouve. Eles, nunca estudaram Lenine e por isso se revelam tão limitados.

samuel disse...

Discutir o Euro?! Talvez... quando for mesmo mau, mas para todos. Por agora ainda há muita gente a ganhar muito com ele...

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Que quadro tão preocupante sobre o estado da economia no nosso país!!!!!

Um beijo.

Pintassilgo disse...

O que é preciso é produzir.