domingo, outubro 31, 2010

De ex-citação em ex-citação – ele há economistas e economistas

Na preparação (revisão de matéria…) para encontro e trabalho com camaradas sobre a nossa base teórica – em que iria dar o meu contributo de economista para uma conversa sobre O Capital, após o contributo (sempre estimulante e responsabilizador do José Barata-Moura sobre filosofia) saltou-me aquela ex-citação de Marx, de A Miséria da Filosofia, sobre os economistas, de que fiz um “post”.
Claro que nas viagens de ida e de volta, ouvindo as novidades sobre o acordo Santos-Catroga, ou PSD-Governo, ou Cavaco-banqueiros, a dita ex-citação me visitava de vez em quando, e dela me servi na tarefa a que ia e de onde vinha.
Ora o sr. Marx, na resposta ao sr. Proudhon escusava de ter sido tão agressivo para com os economistas! Ou, sendo-o justamente para alguns economistas (e estou verdadeiramente farto de os ouvir…) poderia ter deixado dito que… há economistas e economistas. Não deixar a possibilidade de todos serem metidos no mesmo saco...
(Quem não se sente, não é filho de boa gente!)
Por isso, no regresso a casa, após as viagens e as reflexões que me acompanharam, fui buscar a minha obra capitalzinha (o livro com base no meu doutoramento, de 1988), e de lá retirei uma ex-citação para hoje:
.
1.3.1. O marxismo como metodologia e concepção científica que a integra (em 1.0. Introdução)
«(…) Se deve ser esta a atitude de um marxista, não se pode ignorar ou menosprezar o desenvolvimento notável das ciências e técnicas económicas e sociais contemporâneas de raiz burguesa, que Boccara chama “alquimia moderna, produto do capitalismo monopolista de Estado”, do seu aparecimento, ascensão e crises; no entanto, os seus intérpretes – o pensamento económico “burguês” – viram as costas, por vezes quase com aparente desprezo, a esse imenso trabalho da ciência económica – quanto mais não fosse “de arrumação” – que é O Capital, para já nem falar da atitude relativamente ao que se lhe seguiu e é hoje uma realidade irrecusável. Já Lénine dizia que “a ciência oficial” tentava matar, por uma conspiração de silêncio, a obra de Marx.
«O economista não-marxista (“vulgar”) é “obrigado” a conhecer aquilo de que necessita – e pode conhecer muito bem, como muitas vezes sucede –, promovendo técnicas ao estatuto de ciência e/ou teorizando sobre práticas localizadas ou especulando sobre “modelos" sofisticados construídos em bibliotecas, gabinetes e bancos, com dados de bem discutível credibilidade;
em contrapartida, o economista marxista tem a “obrigação” de “tudo” conhecer porque critica uma concepção parcelada da realidade e porque deve fazer uma abordagem global e actualizada da realidade, num quadro conceptual para que deve contribuir.(…)»
.
E ficaria aqui, relendo e corrigindo e acrescentando. Mas hoje há amigos que vêm aí, e isso é das melhores coisas que um homem pode fazer, conviver com amigos. Fica para depois. Para sempre.
Em formulação de resumo, nesta tarefa permanente – até por decisão congressual e de comités centrais – de estudar, estudar, estudar sempre, ainda que (ou porque) há tanto para fazer, e divulgar:


  • há economistas que sabem "muito" de "coisa nenhuma";

  • há economistas que sabem "pouco" – o mais de que são capazes… – de “tudo”.

1 comentário:

Graciete Rietsch disse...

Há muitas realizações da Ciência que não existiam no tempo de Marx mas que não deixam, hoje, de fazer parte das nossas necessidades(o telemóvel,p.e.).
Portanto devem ter sido em conta quando se estuda Economia e não para dizer que a teoria marxista está ultrapassada.
AS contradições mantêm-se e de que maneira!!!!!

Um beijo.