sexta-feira, janeiro 21, 2011

História de familia e de (mau) exemplo

Há um jornal, o Correio da Manhã, que está a lançar uma petição, com pompa de circunstância com o título de "o enriquecimento ilícito é um crime".
Ora é esse mesmo jornal que, hoje, ao almoço, me ofereceu a possibilidade de ler um longa entrevista (de várias páginas) com Cavaco Silva, em que um dos temas é... poupança .
Estas duas prioritárias informativas coexistem página com página, compaginam-se...
E falamos de quê?
Poupança é o que sobra, nos rendimentos de cada um/família, depois do que é gasto no consumo, na satisfação da suas necessidades.
A família Cavaco Silva foi sempre muito poupadinha, graças a deus. Isto é, foi sempre conseguindo que, depois de dispendida a parte dos seus rendimentos necessária para alimentação, renda da casa, roupa, estudos dos filhos, transportes, diversões, ainda sobrarem "uns dinheiros" para pôr de parte. Poupava! E foi procurando que essas poupanças se multiplicassem. Aplicava-as.
Até aqui, tudo bem. Há quem o faça depositando em bancos nas condições mais favoráveis, há quem invista no que quer que seja, há quem se meta em negócios, há quem arrisce na lotaria ou no euromilhões, etc. (não há muito mais...).
À sua maneira, com toda a aparente (e não há que duvidar) legitimidade, a família Cavaco Silva até conseguiu comprar uma casa para férias no Algarve deles (a célebre Vivenda Mariani, que poderia chamar-se, como tantas outras, O Nosso Sonho).
Mas houve uma altura da vida dos Cavacos Silvas em que, dada a dimensão das poupanças provenientes de várias origens, e o tipo de relações pessoais tidas, manteúdas e entretecidas, uma parte dessas poupanças foi aplicada nuns determinados títulos, por sugestão ou indirectamente (dadas as boas relações com determinados a(s)gentes dessas operações). Títulos de que me dispenso de dizer o nome mas que, de um momento para o outro, subiram de um valor 100 para um valor 240, sem que nada tenha sido produzido com essas poupanças no entretanto. Ao que parece - e foi dito numa escapadela de desabafo -, noutras aplicações de poupanças a família teria perdido “uns cobres”, em operações que os dois titulares mal controlavam, cheios de confiança em quem tanta confiança lhes merecia.
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Cá por mim – e acho que não é idiossincrático – não suporto isto.
Dispor de 100 unidades monetárias, que correspondem a acesso a bens materiais, a coisas que satisfazem necessidades, seja de consumo, seja de produção – e só para isso serve o dinheiro –, e tê-las multiplicadas duas vezes e quase meia sem que, entretanto, nada tenham ajudado a produzir, e que sirva para consumo ou produção, é inaceitável no plano ético… ou o que queiram chamar. Porque corresponde a retirar a outros, que, entretanto, trabalharam, ou a produzir ou a distribuir ou a cumprir serviços necessários, a correspondente capacidade de acesso a bens materiais, a coisas que satisfazem necessidades. Ou seja, acresceram as posses e possibilidades daqueles que, dizendo à maneira de Almeida Garrett, se alimentam dos pobres que, com as suas acções (em todos os sentidos) vão fabricando.
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O Correio da Manhã lá terá as suas razões para lançar a petição "o enriquecimento ilícito é um crime", como terá os seus critérios editoriais para ouvir Cavaco Silva a dois dias de uma eleição. Mas não dá a "bota com a perdigota".
Para encurtar razões (ou texto), vou buscar outras leituras, que adapto, e já que escrevi ética, peço a ajuda de Tomás de Aquino, que até é santo:
Usura significa juros excessivos, cobrança exorbitante de dinheiro nos empréstimos financeiros caracterizando nalguns direitos penais. O seu autor (agente activo do ilícito) é denominado de agiota, não só o particular na forma da lei que define crimes contra o sistema financeiro, conhecida como “lei dos crimes do colarinho branco”, sendo delinquente todo aquele que especula indevidamente, que ultrapassa o máximo da taxa legal-constitucional (se existe). A usura também é conhecida como “vantagens leoninas”.
Desde os primórdios da Humanidade, a usura sempre foi condenada, tanto pelas regras da justiça dos homens, como pela a igreja católica, que considera a usura pecado, como mais explicitamente que qualquer outro se manifesta S. Tomás de Aquino. Sublinhando, também, que “toda injustiça é pecado”, como a resultante de especulações financeiras e ganhos
de lucros fáceis.
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A propósito, Cavaco Silva assinou a petição contra o enriquecimento ilícito?, e quantos padres e devotos militantes aconselharão o voto no "pecador"?

Também, com os exemplos banqueiros e ambrosianos...


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