segunda-feira, novembro 17, 2014

Ainda (e sempre) a morte do Zé

Para muitos, terá sido uma notícia inesperada. E brutal. Para alguns, terá sido a notícia adiada nos seus últimos dias de luta. Nem por isso menos brutal. Que nos impede de trabalhar, com a sua perda e já saudade a ocupar-nos o pensamento.
E, para todos, foi tudo tão rápido! Sobretudo, depois da notícia ser posta a correr nas nossas vias de comunicação. No sábado de manhã, o Zé morreu, à tarde, o enterro é amanhã com cremação no Alto de S. João às 19 horas. Assim, a correr. E assim foi! E assim talvez tivesse de ser. Mas ficou-nos um vazio dentro do vazio que a morte e o enterro do Zé deixaram em tantos de nós. Que vamos recuperando, enchendo-o com tudo o que o Zé nos deixou.
Sinto-me incapaz de retomar, com normalidade, o trabalho e a luta (que quero ligados) sem deitar  cá para fora duas ou três observações que me ocupam.
O Zé há tempos que tinha problemas de saúde, desde o deixar de fumar, que tanto o abalou, aos diabetes e outras rasteiras que a idade nos vai armadilhando. Mas a sua morte que tanto nos dói foi provocada por circunstâncias que nos indignam (ou deviam indignar!). O Zé ia ser sujeito a uma intervenção sem grandes riscos (embora todas e tudo os tenham) num hospital e, nesse hospital, aconteceu-lhe o que parece ter passado a ser a condenação de todos, ou quase todos, que aos hospitais têm de recorrer. Foi invadido por uma bactéria que, apesar dos esforços para a expulsar, se multiplicou numa colónia de bactérias. O Zé não resistiu à septicémia. A morte do Zé, pelas causas que teve, teria sido evitável se outra fosse a política em relação aos hospitais públicos, ao Serviço Nacional de Saúde.
Depois, magoa viver um tempo em que morte de um homem como o Zé, pelo exemplo de vida honrada e dedicada a um viver mais humano e a uma Humanidade em construção, pela sua cultura, pela sua intrínseca humanidade, pelo seu currículo, tenha ocupado o espaço e o tempo que ocupou na comunicação social, tempo e espaço que se pode dizer que nenhum foi relativamente ao que lhe era devido se os critérios editoriais não fossem de classe e o Zé um exemplo da luta da outra classe.
Foi tudo tão rápido (e silencioso) que se poderia quase dizer que apenas teria sido a morte de mais um (como foi!), mas foi  também de mais um que, pelo que fez da sua vida durante a sua vida, bem justificou a emoção de tantos mil que o quiseram acompanhar até ao fim físico. E que o acompanharam, tristes e lamentando não o fazerem num cortejo fúnebre até ao cemitério, enchendo aquele curto trecho das ruas de Lisboa. Todos os que estiveram no Alto de S. João sentiram (e continuarão a viver) a importância que o Zé teve nas suas vidas e nas lutas que se travam a todos os níveis, e a muitos custou ter de fazer aquele pequeno trajecto nos passeios encurtados pelos carros estacionados, e sentiram como uma violência ver o carro que transportava o corpo do Zé ter de parar nos semáforos, ao sinal vermelho.

Viva o José Casanova!
Pelo que foi e pelo tanto que nos deixou.        .      

7 comentários:

Maria disse...

Foi tudo rápido. A notícia / informação foi dada como qualquer outra, não se tendo dado o destaque que, a meu ver, o Zé merecia.
Também no domingo houve falhas e, sobre estas, e porque são questões de organização, não as vou mencionar aqui. Mas sei que não fui só eu quem reparou nas falhas. Outros Camaradas também o assinalaram. Amanhã tenho ovárias perguntas a colocar on devo, e para as quais quero resposta. Como o Zé sempre me disse que deveria ser.

Abraço.

Olinda disse...

Sô hoje,soube da partida do Zê.A minha nora dizia-me que o Mârio (meu filho)foi levar os meninos ä Joana (minha filha),para poder ir ao funeral do Casanova.A minha nora ê infogrâfica no DN e trabalhou ,no Domingo.Eu,como sempre saio desta cidade,ao sâbado,e regresso Segunda.Fiquei perplexa.Sabia-o doente,tinha estado com ele ,hâ pouco tempo,e entre os desanimos do estado da situacao,falou-me dos problemas de saûde.Mas,partir assim?Estou de acordo,que jâ nos comeca a fazer falta.Belo texto,o teu,que expressa bem o sentimento comum a todos que conviveram com o Zê.Serâ sempre lembrado.

Um beijo

Unknown disse...

Belo texto !
O camarada e amigo Zé é daqueles , que estará sempre connosco ,pelo seu exemplo de honestidade e luta!

Guilherme da Fonseca-Statter disse...

Subscrevo e assino por baixo... Porque o José Casanova tinha sido colega de trabalho de minha mulher, tive ocasião de conviver com ele algumas vezes... E foi também o José Casanova quem me alertou para algumas das minhas ingenuidades de ilustre desconhecido e desconhecedor dos meandros da «política» portuguesa.

samuel disse...

O próprio Zé nunca esperaria melhor… vindo desta canalha!
Abraço.

Justine disse...

Junto à tua a minha indignação e perplexidade!

GR disse...

Este é o texto sentido que todos gostaríamos de ter escrito.
Várias e reprováveis/inadmissíveis falhas sentimos, com a notícia e depois com o cortejo fúnebre (incompreensível pelo menos a qualquer nortenho) seja quem for o cidadão, tenha a orientação politica que tiver, jamais se faria uma entrada no cemitério desta forma, todos tiveram culpa; a Câmara de Lisboa, a PSP e mais...Foi um dia que tudo fez doer.
VIVA O José Casanova
e
Continuemos a Luta consequente que ele bem jovem encetou.

BJS,

GR