O amigo Roberto Chichorro "encomendou-me" um texto para o catálogo da exposição a inaugurar nas festas da cidade de Ourém, em que se lembrasse o 25 de Junho, e da lembrança se fizesse o motivo da exposição, da vinda da embaixadora de Moçambique a Ourém (e de amigos seus), do convívio em que o Roberto é sempre fautor e pródigo. O texto saíu assim e, para quem dispara tanto escrito, sentir que acertou uma ou ou outra vez não será vaidade ou imodéstia e seria falsa modéstia não o mostrar. Por isso, aqui o publico.
Sérgio Ribeiro
25 de
Junho
O homem olha-se nos traços e nas cores tão do Roberto, e vê
para além do cachimbo por que ele trocou o pedaço de broa da foto que lhe terá
sugerido o retrato.
Lembra 25 de Junho de há 40 anos, como lhe foi pedido para um
curto texto.
Lembra o plenário no salão enorme do Palácio de Genebra, na
sessão de encerramento da 60ª Conferência da Organização Internacional do
Trabalho, das Nações Unidas, que começara a 5 de Junho e lhe enchera aqueles
dias de trabalho e luta .
25 de Junho de 1975, no 40º ano da vida
do homem, recordado 40 anos depois, para este 25 Junho de 2015. O meio – o
fiel? – da vida já vivida.
Em Genebra, enquanto se arrumavam papeis, se tomavam notas
para relatórios (e se havia que relatar!… com a entrada da OLP para a OIT e a
saída teatral da sala das delegações dos Estados Unidos e de Israel ameaçando
cumprir as ameaças com que tinham chantageado a votação em que Portugal novo e
em construção participara), enquanto se faziam despedidas, a notícia, solene
e do alto da tribuna, da independência de Moçambique. Naquele dia, por aquelas
horas.
Entre a delegação portuguesa alguns se abraçaram,
emocionados, como a muitos quilómetros se abraçaram, emocionados, Samora Machel
e Vasco Gonçalves. Os homens, aqueles homens e aquelas mulheres, viviam todos
os sonhos, todas as esperanças do mundo. Do mundo nas suas mãos abertas e nos
seus abraços emocionados. Também em Genebra.
40 anos passaram. 40 anos que não foram os anos sonhados mas
que não mataram as esperanças.
Hoje, 40 anos passados, talvez não em Genebra, não só em
Maputo e Lisboa mas também em Ourém, portugueses e moçambicanos abraçam-se e
vivem as cores e os traços que nos unem e a que Roberto Chichorro deu toda a
enorme qualidade de artista das duas pátrias.
Talvez este texto devesse ser preenchido de frases e opiniões
sobre o artista, a sua arte, o que a sua arte nos traz. Talvez. Mas o que a sua
arte nos traz vivemo-la em cada quadro, em cada traço, em cada cor, em cada
forma, de mulheres e homens, de bichos e coisas, de natureza viva, cheia de luz,
de África, da sua infância, da sua vida, que Roberto nos oferece em arte, e que
o homem, este homem, tem o privilégio de ver nascer, crescer, tornar-se fruto e
futuro, nos vizinhos encontros, nas conversas, na fraterna com-vivência.
1 comentário:
Bonito texto, bela a fraternidade.
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