- Edição Nº2192 - 3-12-2015
Burlas e mentirolas
Mesmo conhecendo-se que não se deve mexer no que está enterrado justifica-se ainda assim voltar a uma das mais visíveis burlas políticas que o governo de Passos e Portas inscreveu na sua passagem pelo poder. Aludimos, naturalmente, à sobre-taxa e à cenoura eleitoral que a sua devolução constituiu, a que não faltou, como nos grandes golpes não falta, a minúcia da encenação que o designado «simulador» do Portal das Finanças preencheu.
A sua evocação não é determinada pelo receio de que tendo sido enterrado possa agora ressuscitar. Voltar ao assunto encontra, sobretudo, razão nesta comprovada falta de memória que a vertigem dos acontecimentos, por mais vis que sejam, acabam por ter na voragem noticiosa que nos submerge. Daqui a poucos meses poucos se lembrarão da golpada política do anterior governo, ainda que seguramente muitos portugueses se tenham decidido, eleitoralmente, em função daquele logro. Talvez ainda menos se lembrem do modo como Passos Coelho sacudiu, em entrevista a um canal de televisão, as suas responsabilidades, por mais difícil que a escolha se apresente entre o que daquela entrevista se deve eleger como mais indigno: se a tentativa de se defender invocando não de tratar de uma promessa mas tão só de uma previsão; se a ligeireza com que tentou transferir explicações para os titulares da pasta das Finanças. Como ainda menos são os que se lembrarão do papel amplificador do semanário «Expresso» naquela burla política. Não fosse a manobra eleitoral de PSD e CDS suficientemente eficaz, aí tivemos aquele jornal a titular a uma semana das eleições «Devolução da sobre-taxa cada vez mais próxima». E para que dúvidas não subsistissem quanto ao seu alinhamento com Passos e Portas foi ver o «Expresso» a escrever exultante, não fosse a burla passar despercebida, que se o «governo conta com 35 por cento de devolução, o simulador do Expresso aponta para valores entre os 60 por cento e os 100 por cento»! Diz-se, e com verdade, que a mentira tem a perna curta. E apesar da memória não ser, em regra, muito mais longa do que a perna, a verdade é que a mentira vem sempre ao de cima mesmo quando aquela é difundida por quem se arvorando de «referência» não passa de uma mera bússola que o magnetismo do grande capital determina.
Jorge Cordeiro
1 comentário:
Não sei se hei-de culpar esta gente que usa a mentira sem o menor sentido de honestidade ,se muita gente que é explorada e vota neles!Bjo
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