Num dia de acordar maldispostos, os dirigentes de um País chamado República Democrática Alemã teriam resolvido levantar um muro a dividir uma cidade em duas.
Ao que se apregoa aos quatro ventos das histórias que se contam, fizeram-no porque, sendo todos muito maus, comunistas para tudo dizer, sob a mais que terrível influência (influência? domínio!) da União Soviética, não suportavam que os habitantes da cidade que controlavam ferreamente (mas mal, ao que se constata) estivessem a fugir para o outro lado da cidade, gerida com saber e arte por uma administração tripartida, os três
“anjos do bem” – Estados Unidos, França e Inglaterra –, onde tinha montado uma vasta e poderosissima rede de “informação” e aliciamento a transmitir para “leste” para convencer os “infelizes” que aquilo era horrível e que do lado “ocidental” é que era bom. Com jeans, meias de vidro, pensos higiénicos e essas coisas todas, e muitas outras que escasseavam do “outro lado”, onde se estaria demasiado preocupado e ocupado em conseguir emprego, educação, saúde, cultura
para todos, e a tentar – umas vezes canhestramente, outras mal… com vícios “ocidentais” – encontrar formas de alcançar esses objectivos.
Então, esses façanhudos dirigentes teriam resolvido levantar o tal muro. Em 1961. Mas dessa construção,
onde e
porquê não se fala. Apenas se fala, e de que maneira, do seu derrube!
Algumas perguntas viriam a propósito, mas ninguém as faz porque as histórias contadas não convidas a que sequer surjam nas mentes mais curiosas.
• Os dois Estados tinham resultado
de quê e
porquê?
• Não nasceram dos escombros de uma guerra em que, destruído o Estado seu fautor, foi ele dividido pelos “aliados” vencedores para que os novos Estados se reconstruíssem, em Paz, sob administrações e tutelas diferentes?
• Não foi um dos “aliados” do “ocidente” que, já com a vitória certa, e depois de destruírem o que puderam mais para “leste” europeu, no extremo leste asiático experimentaram umas bombitas atómicas, talvez o maior crime da Humanidade?
• Não houve, logo em 1949, o aparecimento de uma organização chamada OTAN, com mal-escondidos propósitos belicistas?
• Não foi só 5 anos depois que os “países de leste” responderam, não com uma organização mas com um pacto defensivo chamado de Varsóvia?
• A cidade de Berlim, antiga capital do Estado destruído e extinto,
onde se localizava?
• Estava no novo Estado em construção (RFA) sob “tutela” franco-anglo-estadounidense, ou no meio do novo Estado em construção (RDA) sob “domínio” soviético?
• Não foi acordado que, dada a importância da anterior capital, ela ficaria dividida, transitoriamente, em dois sectores, um de “gestão” anglo-estadounidense-francês, e outro de “gestão” soviética, ainda que já território da RDA?
• Não foram permanentemente violados, do lado “ocidental”, os compromissos tomados relativamente à transitoriedade da situação, enquanto os "soviéticos" promoveram a integração do sector "oriental" da cidade na "Alemanha Oriental" (então RDA), a que, geográgicamente, Berlim pertencia e pertence?
Amenize-se o questionário com uma imagem: Beja, antiga capital e cidade emblemática do Baixo-Alentejo, partida em dois sectores, um de “gestão” tripartida a partir de Aveiro, Faro e Funchal, com relações particulares com o Alto Alentejo, um outro sector parte do Baixo Alentejo, embora com estatuto de apoio a partir da península de Setúbal.
Suponhamos, agora, que, a partir do “sector” aveirense-farense-funchalense, se começava a fazer propaganda insistente (e raro verdadeira) das maravilhas dos ovos moles, do quente mar algarvio e seus/suas visitantes, das ponchas e espetadas, desfazendo no ensopado de borrego e deturpando totalmente o assassinato de Catarina e a história da reforma agrária…
“venham para este lado que aqui é o paraíso, aí é o inferno!”. Os bejenses e o Baixo-Alentejo e a península de Setúbal não iam fazer nada?
.
Por aqui me fico. Por agora.
Quer isto dizer que a construção de um muro foi boa solução? Vê-se que não! Como em tantos outros lados – são tantos!, querem a lista de onde eles estão? –, acho que não o seja.
Mas é preciso conhecer a História e não aceitar as histórias que nos contam.