quarta-feira, janeiro 12, 2011

Previsões BP e comentário - continuação 2

O aparecimento, neste momento de campanha eleitoral, do Boletim de Inverno do Banco de Portugal seria uma boa oportunidade, pelos elementos que fornece, para se discutirem, seriamente, os gravíssimos problemas que a economia e a sociedade portuguesa enfrentam. Mas é evidente que essa discussão séria, não para ganhar votos aqui e ali, à custa da desinformação, mas para que o povo português tome consciência do beco em que os representantes eleitos nos colocaram, só interessa a quem tem a intenção de lutar, em todas as frents, para que se mude de rumo. E é possível, necessário, urgente (numa escala de tempo que não se mede em dias ou semanas.
Na anterior mensagem sobre este tema, deixei algumas reflexões, e tive a satisfação de receceber um comentário com contributos interessantes (obrigado, Ricardo!).
Vou transcrever o comentário e aditar mais umas observações.
Escreveu o Ricardo:
«Alguns contributos:
1.º O BP projecta que o emprego diminua 1% em 2011 e 0,2% em 2012.
2.º O BP estima que ainda em 2012 o PIB se situe abaixo do de 2007, calculado a preços de 2007 (portanto, comparáveis).
3.º O BP estima que, independentemente da metodologia utilizada, a taxa de crescimento potencial do PIB português se situa claramente abaixo do 1% ao ano.
4.º O BP calcula uma probabilidade que representa o risco do cenário macroeconómico nacional se agravar:

Conclusão, o risco para as projecções do PIB serem inferiores é de 60% em 2011 e de 63% em 2012; as relativas ao consumo privado são de 59% e 64%, respectivamente... Revelando que o cenário poderá ser muito mais grave que o entretanto projectado.
Vê o gráfico 5.1. da página 20 do Boletim de Inverno do BP... Palavras para quê?»


Na verdade, o gráfico 5.1 e respectivo quadro (completado pelas notas do estimado comentador retiradas do quadro 5.2) dispensa palavras.


Acresce que toda a estratégia assenta em factores de risco determinados por projecções de uma variável externa claramente irrealista e numa opção interna que só se pode considerar suicida (não para os interesses ao serviço de que se elaborou a estratégia e no cumprimento de ordens exteriores, mas para a economia e a sociedade portuguesa).
Repare-se que o Banco de Portugal, reduzido à sua expressão mais simples, de gabinete de estudos e de entidade reguladora que nada regula, aponta no quadro 3.3 para a evolução de duas componentes do produto que o demonstram gritantemente.
Prevê-se uma inflexão na curva das exportações que qualquer leigo com um mínimo de bom senso (nem se trata de leituras) acharia irrealista, pois passa de uma queda desde 2007 para, por obra e graça de não se adivinha o quê ou quam para uma subida espectacular de mais de 15 pontos em 2011 e de 22 pontos em 2012 relativamente ao índice 100 em 2009, em contrapartida com uma queda continuada na FBCF, isto é, no investimento, a ser projectado para 95, 88,5 e 82, respectivamente para os anos de 2010, 2011 e 2012 relativamente ao mesmo índice 100 para 2009.


Mas não me fiquei pelo gráfico 3.3, e usando modestas "ferramentas", com base no Boletim de Inverno, elaborei este gráfico em que se pode observar o que nos esperaria ... se não mudarmos de rumo, entretanto.
E o rumo terá de mudar porque menos investimento - há um problema de financiamento da economia que tem de ser resolvido, e não é pelo endividamento externo! -, confiando em exportações em que não se confia, a situação da procura interna, nas suas componentes consumo público e, sobretudo, consumo privado, configura perspectivas de gravíssima situação social. Sem que Portugal tenha, como outros países terão, "almofadas", ou seja, situações sociais de relativo desafogo e muito menor desigualdade social.

2 comentários:

Ricardo disse...

Para reforçar a perspectiva da necessidade de outro rumo, que passe pela produção e dinamização da procura agregada fica um reparo sobre o gráfico 3.3. do Banco de Portugal.
Álém do irrealismo já demonstrado, qual a razão para não incluir a evolução das importações? Será porque a perspectiva que apresentam ser ocmpletamente irrealista?
É que se o investimento continua em queda, se a capacidade produtiva instalada continua estagnada ou mesmo em quebra (redução do investimento e do emprego) como é possível aumentar as exportações sem aumentar as importações numa proporção próxima? Ou a ideia é fazer como o fascismo durante a 2ª Guerra Mundial? Retirar o pão ao povo para o exportar?

Abraço!

Sérgio Ribeiro disse...

Também tinha reparado na falta, no gráfico, da curva das importações. Também me pareceu significativa. Tens toda a razão até porque a variação de existência não possibilita que outra outra alternativa (econométrica) que não seja a de baixar o consumo. De quê? De Ferraris?, ou de pão a quem já pouco consome?

Abraço