domingo, maio 27, 2012

0 a 0 e 30 mil a 0

Passo os olhos pelas capas dos jornai. Fico a saber, repetidamente, muita coisa.
Que no jogo-treino com a Macedónia, Portugal empatou 0 a 0 (e que jogou mal mas que isso não abala as esperanças-ilusões-diversão), e mais umas coisas sobre o Relvas-escalracho, e que só 0,5% dos desempregados "arrisca" (não será teve condições para?...) empreendo(i)rar a pílula, e que os ordenados dos chefões da EDP não tem influência na factura da luz que pagamos, e que o MRS recebe 10 mil euros por meia hora de baboseiras semanais, e outras coisas mais e que tais sobre os super-espiões e as suas ligações.
Nada ficaria era a saber de um outro resultado de mais de 30 mil a 0, só em Lisboa, contra o(s) pactos(s) de agressão e de um discurso de esperança e alternativa contra o desespero e a inevitabilidade. Nem uma foto, nem uma uma linha em corpo miúdo (ou, então..., tão miúdo que nem o vi nas primeiras páginas dos jornais).
Não ficaria a saber... mas soube!... por que estive lá com mais de 29.999. Fiz parte dos 30 mil que se juntaram aos 12 mil do Porto, na semana passada. E é preciso que todos os que lá estiveram digam aos outros, aos familiares, aos vizinhos, o que os jornais não dizem nas primeiras páginas.
Que, em duas manifestações, promovidas por um partido, se esteve, ordeiramente e com a alegria de estarmos juntos e de muitos sermos, a dizer Basta!

Por mais que nos calem, têm de nos ouvir. Até porque, com atrasos de custos sociais irreparáveis, se começa a ouvir, e se virá a ouvir, o que oportunamente foi por nós dito e exigido, e dito e exigido continuará, mas a que se fizeram, e se fazem, orelhas moucas.

E uma reflexão me assalta. A partir de uma imagem que trouxe de Lisboa..
Ao passar ao lado do edifício do Banco de Portugal, em cortejo consciente, determinado, encontrando e abraçando amigos, tropecei em enormíssimos contentores de lixo cheios de entulho, e me perguntei que confiança era aquela na nossa consciência que coloca, no caminho de uma manifestação de dezenas de milhares de pessoas em protesto indignado (mas calmo, consciente, vivo, alegre... sim!, alegre), pdregulhos, pedaços de cimento, tábuas, materiais de desconstrução?
Teria bastado arremessar contra um vidro de uma janela  - logo do Banco de Portugal! - uma pedra, uma daquelas tantas ali oferecidas,  para que, hoje, tivéssemos vindo, toda a manifestação que fomos e somos, nas primeiras páginas dos jornais.
Mas não é essa a nossa luta! A nossa luta é, sem tempo, sem prazos... mas com pressa e sempre, a tomada de consciência (também consciência da força que temos) e a sua transmissão a outros/nós. Para que seja maior, para que cresça, para que seja a  força que é a nossa.

7 comentários:

Maria disse...

Muito pertinente a tua observação sobre o entulho ao pé do BdeP, mesmo ali a jeito...
Mas nós somos diferentes, sendo iguais!

Beijo.

Eduardo Baptista disse...

Sérgio
Belo texto, belas reflexões em que a força, a alegria e poesia se fundem para apontar o caminho da consciência que coletivamente estamos a edificar.
Não pude deixar de reproduzir parte das tuas palavras no meu blogue http://c-de.blogspot.pt/
Um grande abraço

Sérgio Ribeiro disse...

Maria - exactamente, Maria. Nós tropeçamos no entulho... e continuamos o nosso caminho, não é?

Eduardo - Obrigado pelo estimulo. E por teres reproduzido coisas que escrevi.

Beijo e abraço

Justine disse...

Grande texto!

Olinda disse...

A violência gratuita não faz parte da nossa luta.A nossa consciencia política sabe a quem aproveitaria qualquer tipo de disturbio.(mas as vezes,apetecia-me...isto sou eu com os meus botões)

Abraço

Graciete Rietsch disse...

A nossa liuta é séria. Não se faz com o arremessar de pedregulhos. Faz-se com a força da nossa convicção de que o Sol há-de nascer para todos nós.

Um beijo.

cid simoes disse...

A realidade não existe. A "Lusa" viu "algumas centenas" de manifestantes e os jornais "de referência" acreditaram na Lusa e não no que viram.