quinta-feira, maio 13, 2010

Croniqueta de uma frustração (e sua recuperação)

Ando a frequentar a Universidade Sénior de Ourém. Como docente de Economia.
Depois de faltas por motivos imperiosos (justificadas, e aceites com a receptividade simpática - ou benevolente - de que "a sua colaboração, doutor, é de inteiro voluntariado..."), preparei-me, com algum complexo de culpa, para este "regresso".
Apesar de sempre ter privilegiado as questões de actualidade, no entendimento de que o que importa, numa Universidade Sénior, é ajudar(mo-nos) a entender o que se está a passar, e não "perdermos o pé" das realidades, não queria, hoje, ir falar, nem do PEC, nem dos ex-ministros das finanças, nem do euro, nem do Benfica, nem do Papa ali ao lado...
Por isso, preparei uma hora de conversa sobre as "leis do mercado", as "curvas da procura e da oferta"... essas coisas.
Cheguei à cidade, fui ao banco levantar uns euros (enquanto são... e depois?, e como será?, e será possível?, como "cenário" é mais que previsível!), passei pela papelaria a comprar o avante!, cumprindo uma espécie de ritual das 5ªs feiras, de que não abdico e de que não quero que se desabituem, e fui "para as aulas". Nariz na porta!
Pois!... é 13 de Maio e... Papa oblige!
Bom... vim para casa e, para não perder todo o trabalho feito, aqui vai uma parte que me parece interessante e que iria glosar (ou hoje ou na próxima 5ª se tomasse demasiado tempo com as curvas da procura e da oferta).


Paradoxos de Giffen e de Veblen

“Bens de Giffen”

Em tempos, na Irlanda, uma praga devastou as plantações de batatas. Menos batatas, aumento no preço das batatas, de acordo com as leis do mercado. No entanto, esse facto fez a população mais pobre comprar quantidades maiores de batatas.
Como pôde isso acontecer, se, pela lei da procura, se o preço sobe a quantidade adquirida diminui?
É que a diminuição do poder de compra com a aquisição das imprescinídíveis batatas, levou os mais pobres a prescindirem do consumo de carne. As quantidades de carne a que poderiam ter acesso com o dinheiro que sobrava reduziram-se drasticamente. Não lhes ficou alternativa senão completar sua dieta gastando os escassos recursos sobrantes na compra de quantidades adicionais de batatas.
Além das batatas desse tempo na Irlanda, outros “bens de Giffen” têm sido recentemente descobertos, como o arroz ou o pão, em outros continentes e em certas regiões. Se, por algum motivo, sobem os preços desses bens essenciais, os mais pobres vêm-se obrigados a comprar maiores quantidades deles.

“Bens de Veblen”

Por razões diferentes, um outro "paradoxo económico", ligado à violação das leis do mercado, é o da preferência por certos bens mais caros, de consumo ostentatório, como obras de arte, vinhos, perfumes, jóias, tapeçarias e automóveis de luxo (ou até produtos farmacêuticos). São os chamados “bens de Veblen”, com procura preferencial dos produtos de mais elevado preço. Também se pode dar o caso, semelhante a este, de maior a frequência de lojas e restaurantes mais caros, igualmente por efeito de demonstração ou ostentação.

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Ah!, não perdem pela demora... de uma semana!

4 comentários:

Justine disse...

Está muito bem explicadinho. Só falta saber quem são os que deram nome a essas leis...

Graciete Rietsch disse...

Óptima aula. Por isso as ruas estão cheíssimas de automóveis(bens de Veblen). E ainda dizem que os portugueses vivem mal!!!!!????

Um beijo,professor amigo.

GR disse...

Interessantíssimo texto/aula.
“Bens de Veblen”?!!! - exactamente o que se está a passar na minha terriola. Apesar da % de desempregados ser a 3ª maior do país.
Actualmente quase não existem lojas dos trezentos (o poder de compra desceu tanto que a classe média baixa, já nem aí pode comprar (?)). Porém, lojas Grumete, casas de comércio das mais altas marcas, crescem como cogumelos.
“Ligados à violação das leis do mercado” violação? das Leis? Por que razão a lei do mercado está a ser corrompida?

Vou fazer um pedido, meter uma cunha,
posso-me inscrever, só para as tuas aulas?

Bjs
GR

GR disse...
Este comentário foi removido pelo autor.