quarta-feira, maio 05, 2010

Reflexões lentas... de luta

Olho à minha volta e vejo gente assustada. Mesmo que o meu ver possa motivar reservas por querer ir dentro e não se ficar pelas epidermes. E acho que é mais que desonesto, que é criminoso o que nos estão a fazer.
Vamos lá a ver se nos entendemos. Aquilo que eu vejo é o receio de perdermos o que se julga ser - porque nos querem convencer que é - um privilégio, uma regalia, uma benesse. Pois não é!
Tomemos os salários, os subsídios de desemprego, as reformas.
1. O salário é pago porque houve um contrato – explícito ou não –, a partir do qual o trabalhador trabalha (emprega a sua força de trabalho) ao serviço de um empregador durante um certo tempo dos dias da sua vida, em determinadas condições, cumprindo tarefas que lhe são destinadas pelos empregadores e seus colaboradores, a crescente parte destes também assalariados para cumprirem a tarefa de coordenar, articular, enquadrar, o trabalho de todos.
2. Se não houvesse esse tempo certo – o horário – e essas condições determinadas, estar-se-ia ainda na escravatura, em que o hoje dito empregador se servia de todo o tempo de vida do trabalhador nas condições que entendesse melhores para si, sem constrangimentos.
3. Foi por existir esse vínculo contratual – explícito ou não –, em que uns trocam o emprego da sua força de trabalho por um salário que recebem e passa a ser seu, e outros trocam o salário que pagam – e seu deixa de ser – pela apropriação (ou uso) do que os outros cumprirem como tarefas, que as condições dessa relação foram sendo estruturadas para além da simples troca.
4. Assim, uns descontam parte do que recebem para assegurar que, se vierem a não ter onde empregar a sua força de trabalho, terão um subsídio de desemprego, devendo os outros contribuir para essas reservas com uma parcela que não incluem nos salários que pagam e lhes dará o direito também a esse subsídio se como assalariados se considerarem.
5. Também o mesmo se faz para assegurar as reformas, como via de manter os rendimentos de quem passou a idade de trocar horas de emprego da sua força de trabalho por salários.
6. E, diga-se, esses descontos e taxas para-salariais não têm nada a ver com obras públicas e outras funções do Estado para que há os devidos impostos – IRC, IRS, IVA.
7. Há quem chame a isto “modelo social”. Será… É, sim, o resultado de uma negociação – explícita ou não – entre uns e outros, no contexto social em que coexistem, e depende, evidentemente, da relação de forças em presença.
8. Houve períodos na História em que essa relação de forças foi tornada favorável (ou menos desfavorável) aos trabalhadores, até porque o panorama internacional não tranquilizava os que trocavam meios monetários por si adiantados por força de trabalho de outros, que os recebiam como salários. Pelo que o tal “modelo social” se estruturou como cedência não-voluntária de uns e conquista de outros, sem alteração qualitativa da relação de forças.
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Quero eu dizer com isto que os subsídios de desemprego e as reformas não são favores ou dádivas, não têm nada a ver com TGV e IIIªTT, e que, em vez de estarmos todos assustados porque nos pode ser retirado o que resulta de nossas contribuições, teríamos era de pedir contas a quem aplicou especulativamente esses fundos assim criados, e pretende manter as suas manigâncias financeiras, e aumentadas – sempre aumentadas – as suas taxas de acumulação do capital, seja sob que forma for.

5 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Perfeitamente claro este post.
Porque se confundem salários com imposto? Que têm a ver as obras públicas com a compra (apropiação) da força de trabalho dos trabalhadores?
Mas é o que se pretende com este PEC? Pagar as dívidas do Estado com a força de trabalho dos tra balhadores. Muito injusto é este PEC, mas ainda o acham insuficiente.

Um beijo.

GR disse...

Mais uma vez entramos, lemos e ficamos esclarecidíssimos.
Isto não é um post, mas uma aula.

Na verdade os sucessivos governos adormeceram o povo, eles já não sabem reivindicar, não têm a certeza dos seus direitos e quanto mais obscurantismo houver, mais medo existe!

Bjs,

GR

Ana Martins disse...

Cada vez gosto mais das tuas reflexões. Publicitá-la-ei.

Obrigada!

Sérgio Ribeiro disse...

Meus caros eventuais leitores: Abro a caixa de comentários e tinha aqui 3 comentários, de visitantes conhecidos e queridos, e mais quatro comentários "estranhos", de anónimos. Um, reproduzindo um "post" em combate.blogspot.com, do Pedro Namora (para onde vos remeto), e três iguais, "postados hoje às 13.50, 13,52 e 14.08" em campanha publicitária de um livro. Usando o meu direito (?) de apagar comentários, resolvi apagar os dois comentários repetidos (mantendo, contragosto, um), e o reproduzido do blog do Pedro Namora, com a intenção de fazer um "post" remetendo para o blog do autor, com uma pequena nota. Pareceu-me ser a atitude correcta.
Assim fiz. Cuidadosamente.
Pois desapareceram-me todos os comentários!
Ele há mistérios...
Por quanto tempo beneficiaremos desta liberdade de usar a blogosfera?

Maria disse...

Este post não é uma reflexão lenta. É uma aula de Economia!

Obrigada.