Li, em diagonal obviamente, o Documento de Estratégia Orçamental – 2011-2015, esta tarde apresentado pelo ministro das finanças.
Tive a sensação de rejuvenescer. Voltei aos tempos escolares e – mesmo em diagonal… –, fiz-de-conta.
Até porque se trata de contas… é adequado fazer-de-conta.
- Faça-se então de conta que não se vive em capitalismo
- Faça-se de conta que as relações sociais de produção não são o que são
- Faça-se de conta que a economia não é o que é
- Faça-se de conta que o mercado (ou os mercados?) funciona(m) com uma mão invisível que tudo regula, e que não é (são) exclusivamente movido(s) pelo objectivo de acumular capital-dinheiro, seja verdadeiro (com base metálica) ou fictício
- Faça-se conta que o Estado é neutro e que não está ao serviço do capital financeiro
- Faça-se conta que não há fuga ao fisco por parte de quem tem, para fugir ao fisco e à justiça, pernas e braços e luvas e caridadezinha de compensação, e o Estado ao seu serviço
- Faça-se de conta que os salários são apenas custos horários de mão-de-obra, e não o preço da força de trabalho e, por isso, aquilo com que os trabalhadores compram os melões, e o pão, e os livros, e os telemóveis para os filhos, e o resto
Feitas estas contas todas (e muitas outras que ficam por fazer), o documento, pomposamente sub-titulado Programa de Assistência Económica e Financeira, até esté muito bem organizado, com boa apresentção gráfica, e mereceria ser discutido… mas sem se fazer-de-conta.
O que deveria ser o âmago da discussão, ou que deveria estar nas entranhas da discussão que ele mereceria, não se discute. Porque há um pensamento único e indiscutível, porque o que se quer é fazer-de-conta, com as contas que se fazem.
Há outra economia, há outra política.
3 comentários:
Um grande abraço camarada.Ainda não regressei ao meu dia a dia.
Temos ainda a Festa onde te hei-de encontrar.E depois vou ler e aprender com os meus blogs preferidos.
Mais um beijo.
Excelente texto!
Mas sem fazer de conta, pois é a realidade pura, hoje no Norte fizeram-se duas Manifestações os Vitivinicultores na Régua e no Porto dos Utentes dos Transportes Públicos.
"Quando o Povo acorda é sempre cedo", é um bom começo!
Bjs,
GR
Está um belo texto! E tens toda a razão, ainda por cima:)))))
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