… E há ainda, para continuidade desta reflexão, a questão da justiça social, de que tanto se fala - e abusa no falar - quando se diz que há que estabelecer preços acessíveis para os que não podem pagar os aumentos nos “serviços públicos” (como, agora, no caso dos transportes públicos…). E também as taxas moderadoras. Fica para logo mais.
(de anterior "post")
Ficou para agora. E para terminar a série.
Ao aumentar uma enormidade (de 15 a 25%) o preço dos transportes públicos, a juntar a tudo o resto, este governo que tantos senhores serve que aos grupos de três se fazem representar, atingiu cumes de despudor. Até porque não foi capaz de afrontar o ataque (ideológico!) aos serviços públicos. E disso se trata.
A “volta” que lhe deram é costumeira, mas teve – e tem – laivos de excesso. Reconhecendo vir tal medida prejudicar muito os mais desfavorecidos, na "onda" do assistencialismo vá de proclamar intentos de justiça social, dizendo vir em socorro dos coitadinhos, diminuindo-lhes os sacrifícios a que “todos são obrigados", por via da “esmola” aos que comprovem dela necessitar.
Ao manter-se a designação serviços públicos (os transportes públicos), “casando-a” com a de justiça social, pervertem-se as noções, pois a justiça social faz-se a montante. Isto é, os serviços públicos materializam, como obrigação da sociedade para com todos, a concretização de alguns direitos/satisfação de necessidades essenciais do tempo histórico que se vive. E, para que seja possível que o Estado cumpra essas suas funções, a justiça social está na forma como se reparte, na sociedade, o contributo de cada cidadão (contribuinte - contributo!) para que todos tenham o mesmo direito ao que todos… têm direito.
Na sua “filosofia”, os serviços públicos devem tender para que todos tenham o mesmo acesso nas mesmas condições, facultado pelo sacrifício individual de todos, proporcional aos seus rendimentos, expresso na justiça fiscal (com malha apertada e não tão mais larga quanto maiores os rendimentos).
Com a liberdade de haver quem possa dispensar o seu direito aos serviços públicos e ir a um médico de que goste mais que do do centro de saúde, meter os meninos seus numa escola com mais estatuto social e valências que a pública, transportar-se no seu pó-pó de pessoa só em vez de andar de metro, ou de comboio, ou de autocarro. Dentro de certas regras, claro. Como tudo.
Mas não deverá o utilizador pagar algo, não têm qualquer sentido essas frases retumbantes que se inspiram na bem sonante "poluidor-pagador"? É aqui que entram as chamadas taxas moderadoras. Que, na “filosofia” dos serviços públicos deveriam servir, exclusivamente, para dar, aos utilizadores (utentes? que raio de vocábulo...) dos serviços, a lição prática de que tudo tem um custo pelo que não se pode usar desregradamente o que a todos custa. Mas terão de ser iguais para todos, e nunca servir para tornar “sustentáveis” empresarialmente os serviços públicos, para diminuir prejuízos ou ajudar a que haja lucros, numa redutora perspectiva capitalista.
Mas o problema é que outra não têm, nem querem sequer considerar que haja. Temos de lhes abrir as vistas (e/ou as cabeças) para que saibam que existem essas outras perspectivas !
1 comentário:
Então não é na Bíblia que se diz que é mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus?
Contribuamos então para que haja mais pobres felizes(no outro mundo,depois da morte).
Tanta hipocrisia irrita-me!!!!!
Um beijo.
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