Trata-se de mote obrigado a glosa. Ou de vinda à praça pública de um tema imposto. Com falácia.
Há que, com a clareza possível (de que se seja capaz), separar águas. Há que lembrar que - usando o vocábulo imposto - já muitas vezes foi fundamentadamente proposto (e até anganosamente aprovado) a taxação sobre rendimentos de vias de enriquecimento, como lucros de operações especulativas, que são isentos de imposto por mera, descarada e perversa injustiça fiscal; e há que afirmar que a criação de uma taxa sobre fortunas, que não belisque nas formas como elas são "produzidas" são meras formas espectaculares e publicitárias de uma outra maneira de distribuir migalhas para acalmar fomes, de fazer caridadezinha.
Depois... é inevitável. Fala-se de ricos e logo se cita Almeida Garrett, nas Viagens na minha terra (1846!), de Lisboa para Santarém:
«III
(...)
Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? - Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito*, já devia andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, número de corpos que se tem de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro, seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis.»
• - Sobre estas comissões de inquérito o autor terá deixado uma
Nota do Autor: Os protocolos das comissões de inquérito de há oito anos para dez anos a esta parte, sobre o estado das classes trabalhadoras e indigentes em Inglaterra, é prova real dos grandes cálculos da economia política, ciência que eu espero em Deus se há-de desacreditar muito cedo.
Logo a seguir, e referindo-se à economia política, escrevia Almeida Garrett (em 1846, século xix note-se):
A ciência deste século é uma grandessíssima tola.
E como tal, presunçosa e cheia do orgulho dos néscios.
(...)
Nada mau, nada mau… Ou até bom de ler, desde que não sirva de distracção. Desde que faça reflectir.
haverá 3ª parte?
Sem comentários:
Enviar um comentário