sábado, dezembro 25, 2010

Eleições presidenciais - episódios de uma luta

O que li aqui, convidou-me (ou convocou-me?... como quiserem...) a partilhar o que lido estava, e também a sugerir (ou a convidar para?... como quiserem...) uma reflexão sobre o que são eleições e para que servem.
Se só contassem os votos nas urnas, para muito pouco serviriam as eleições. Por isso, quero denunciar os falsos democratas que reduzem a democracia ao voto, que se confinam à democracia representativa como a formação social capitalista a impõe (com as condicionantes a que a relação de forças sociais a podem obrigar), que esquecem, ou escondem, ou tripudiam a democracia participativa, que faz de cada um de nós um cidadão, o que é bem mais que um eleitor!
Leiam, se fazem favor, e digam-me, se quiserem continuar a fazer-me o favor, se o Francisco Lopes, naquela noite de 21 de Dezembro, não ganhou mesmo as eleições, no quadro de uma luta que não se resume ao voto no dia 23 de Janeiro. Embora este voto seja muito importante. E em Francisco Lopes!

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para quem não conseguir "entrar"

A noite em que Francisco Lopes ganhou as presidenciais
por Ana Sá Lopes,

(publicado no i em 23 de Dezembro de 2010)

A batalha de Francisco Lopes nas Presidenciais é "honrar" o Partido Comunista. Derrotar o Presidente da República num debate é, só por si, um feito maior
As expectativas não eram brilhantes. Francisco Lopes, o candidato do PCP, que não se tinha destacado até agora - publicamente - por nenhuma intervenção política extraordinária ia confrontar o político mais popular do país, Aníbal Cavaco Silva. Já se sabia que o poder de Lopes dentro da direcção comunista era inversamente proporcional à sua popularidade fora de portas: excluindo o universo PCP, é preciso andar com uma candeia acesa para descobrir uma alma que saiba quem é Lopes e o que fez.

A situação não melhorou por aí além desde que Francisco Lopes foi entronizado candidato oficial do partido: nenhuma das suas intervenções públicas provocou especial assombro popular. Lá estava ele, certinho e sem história, a cumprir a tarefa de levar o PCP à campanha presidencial - tendo em conta a deserção do Bloco da dita, a tarefa partidária assumia um papel especial no universo à esquerda do PS, mas nem assim a estrela de Francisco Lopes luzia.

Mas, inesperadamente, no frente-a-frente com Cavaco Silva, a star is born. Francisco Lopes obrigou à entrada na campanha daquele que - em conjunto com a famigerada história das "escutas" - é o assunto mais incómodo para o candidato Cavaco Silva: a sua relação com o Banco Português de Negócios. E essa machadada sem piedade, logo no começo do debate, foi seguida por um indisfarçável nervosismo do Presidente durante o resto do tempo, incapaz de responder à acusação de que tinha feito "em quatro dias um acordo com o governo para cobrir uma fraude" [a nacionalização do BPN] onde estava envolvido Oliveira Costa "ex-colaborador de Cavaco Silva e financiador da primeira campanha"

À saída, Cavaco Silva foi obrigado a repetir, quase ipsis verbis, um famoso comunicado da Presidência, emitido a um domingo, onde afirmava que "nunca tinha comprado nem vendido nada ao BPN", como se isso constituisse qualquer património justificativo, tendo em conta que tinha comprado e vendido acções à Sociedade Lusa de Negócios, detentora do Banco Português de Negócios.

O desvario de Cavaco Silva foi tanto, que chegou ao ponto de, pasme-se, praticamente co-responsabilizar Francisco Lopes pela aprovação do Orçamento do Estado - na sua qualidade de "deputado". Tendo em conta que o PCP, e naturalmente Francisco Lopes, votou contra o Orçamento, ouvir Cavaco Silva dizer que "o Orçamento é feito pelo governo e pelos deputados e Francisco Lopes é um deputado" é tão absurdo que raia o patético.

Francisco Lopes foi inteligente e extremamente hábil na forma como co-responsabilizou Cavaco Silva pela aprovação do Orçamento, recorrendo inclusivé à ironia - a contradição de um Presidente que ao mesmo tempo em que se vangloria de ter conseguido o acordo PS/PSD se esforça por se distanciar do resultado final. Enquanto isto, Cavaco Silva recitava as suas qualidades ao país: "Os portugueses não esquecem quem criou o 14º mês para os pensionistas" e, entre outras bondades, quem "trouxe a Autoeuropa para Palmela". Mas isto foi noutro tempo, com outros poderes. Agora, a comoção só pode ser geral quando o Presidente enuncia ter escrito "dezenas de cartas" a chefes de Estado a pressionar para a eleição de Portugal para o Conselho de Segurança da ONU.

Francisco Lopes já ganhou as eleições presidenciais. A batalha dele era esta: "honrar" o Partido Comunista Português. Derrotar num debate o Presidente da República é, só por si, um feito maior.

Redactora principal

7 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Li o artigo de Ana Sá Lopes que apresentaste e fiquei encantada. De facto Francisco Lopes ganhou,por margem larga, o debate com o actual Presidente da República. Disse claramente qual seria o seu comportamento se fosse Presidente e desmascarou, por completo, o seu adversário que entrou nervoso e saiu nervosísssimo. E isso correspondeu a ganhar as eleições no dia 23 de Janeiro.
As eleições não se ganhm só nas urnas porque ainda há muitas pressões que impedem as pessoas de reflectir, sem constrangimento, sobre as causas da derrocada deste País, mas a acção do candidato Francisco Lopes e de quem o apoia é um grande passo rumo a um NOVO MUNDO.
Portanto o voto em Francisco Lopes é importante e imprescindível.
Oxalá a sua extraordinária campanha encontre mais eco principalmente naqueles(e são tantos)que sofrem os horrores desta política de subserviência ao grande capital.

Um beijo.

Anónimo disse...

Que boa prenda de Natal!
Os olhos até me luziam ao ler o artigo do I, que tu transcreves. Obrigada.
Beijinhos para os dois e turrinhas para o Monty.

Campaniça

Sérgio Ribeiro disse...

Graciete - Temos de continuar (e reforçar) a luta neste episódio... da luta. As mais fraternas saudações.

Campaniça - Aceites, agradecidos e retribuidos os beijos e as "turras".
Ouvi dizer que o natal é invenção dos avós, é verdade?
Muitos abreijos.

Maria disse...

Já te tinha dado a minha opinião, mal o debate acabou...
É verdade que o nosso candidato ganhou o debate. E de que maneira!!!

Beijo em dia frio e chuvoso.

Pedro disse...

Mesmo assim há que ter cuidado. A autora aproveita-se da prestação de Francisco Lopes para atacar Cavaco. Mas é ela própria que procura desvalorizar a nossa candidatura "A batalha de Francisco Lopes nas Presidenciais é "honrar" o Partido Comunista."
A candidatura de Francisco Lopes é mais do que isto, é a necessidade de impôr uma ruptura com as actuais políticas!

Sérgio Ribeiro disse...

Maria - A avaliação de camaradas tive-a logo após o debate quando me telefonaram - estava eu a jantar o meu aniversário - a dar os parabéns... pelo debate! (-:))
Beijos

Pedro - Tens toda a razão. Há - sempre! - que estar atento.
A opinião de Ana Sá Lopes não é a nossa. Nem alguma vez esperámos que fosse. Mas é uma avaliação com muitos aspectos positivos... o que não é nada normal!
Abraço

samuel disse...

Quem diria... quando o nome de Francisco Lopes apareceu!

Abraço.