quinta-feira, janeiro 27, 2011

A credibilidade deste recenseamento eleitoral e as manobras de diversão

A notícia de que o recenseamento eleitoral incluía 1,25 milhões de inscritos a mais fez alguns comentadores dispararem a torto e a direito. Em jeito de campanha.

Três observações.

Cada um escolhe aquilo a que entende dever dar maior crédito. Pelo meu lado, sem me entusiasmar desmedidamente com as contas de uma empresa privada, que qualquer de nós faria com uma máquinazinha de calcular, e a que o Correio da Manhã deu eco, já considerava "com pinças" os números dos inscritos no recenseamento eleitoral. Acompanho a sua evolução desde 2004 para o Parlamento Europeu (8.749 mil) até os actuais 9.630 mil para as presidenciais, e passa por uns 9.685 mil inscritos para as eleições do PE de 2009, o que causa estranheza e dúvidas.

Entendo dever esperar-se o censo da população - embora a sua organização nada o esteja credibilizando -, mas nunca a correcção pode anular ou desviar atenções de resultados destas eleições com significado político, cotejados com os de eleições homólogas de 2006, em que os inscritos eram 8.835 mil, e estão numa linha de progressão que não escandaliza, embora mereça reservas.

A segunda observação vai no sentido de lamentar que se aproveitem estas "notícias", e estas contas com base numa população residente estimada pelo INE, para menosprezar ou até tentar achincalhar quem se preocupa com os resultados eleitorais numa perspectiva bem clara e sem sofismas: a de procurar aperceber-se melhor do estado de espírito e do posicionamento dos portugueses no actual contexto político.

No meu caso, tenho valorizado a análise dos votos expressos, e sobretudo dos votos em branco e nulos, de enorme significado, e tenho menosconsiderado, ou considerando num segundo plano, o dado quantitativo da abstenção, pelas dúvidas que me levanta o número de inscritos e pelo desastre que foi o funcionamento do MAI.

A terceira observação é a de que não se pode considerar eleitor-fantasma o emigrante sazonal (ou precário) que "se encontra no estrangeiro". É verdade que vivemos uma situação em que vemos repetir-se, preocupantemente, a existência de "viúvas de vivos" de que se falava (e escrevia) nos anos 60, por efeito dessa emigração e, por isso mesmo, características de sazonalidade que se prolonga... para além das estações e impede, fisicamente, de votar.


«Eleitores-fantasma são 1,25 milhões
Há cerca de 1,25 milhões de portugueses
que são eleitores-fantasma no País.
São falecidos que ainda não foram eliminados
nas listas das freguesias
ou emigrantes
que mantêm o local de voto em Portugal
apesar de se encontrarem no estrangeiro.
As contas, com base no INE,
foram feitas por Jorge de Sá,
director da Aximage.»

Correio da Manhã

4 comentários:

Graciete Rietsch disse...

E será que alguns mortos também votaram? Eu acho que sim, pelo menos aqueles que continuam a dormir um sono de morte.

Um beijo.

GR disse...

Na minha terrinha "a limpeza” dos cadernos é constante, sei porque ando lá sempre a cheirar.
Talvez por ser uma terra muito pequena, é fácil fazer essa limpeza. Contudo, já não entendo o número de habitantes nela existente. Ou seja, o número é muito maior que os inscritos, foi sempre assim. Sei também que os números com maiores habitantes convém para; candidaturas de variadíssimos Programas da EU e para o vencimento dos presidentes de câmaras e juntas.
Considerando cada vez maior o número de boletins de voto brancos e nulos, de eleitores que não se querem abster, porém, vão às urnas e exprimem o seu voto, não seria de considerar esta votação?
Quanto ao que o MAI fez, um escândalo, uma vergonha! Estive numa mesa onde dezenas de pessoas não votaram, centenas no meu concelho. Confusão total e não tinha uma explicação. Outras foram transferidas com números feitos por eles. O eleitor número 1 de uma freguesia, após ter requerido o CC, ficou com o número 13 mil e tal. Qual a razão? Por que raio os eleitores com números das centenas estão a deixar de existir? Contam como abstencionista?

Bjs,

GR

samuel disse...

Não sejas desmancha-prazeres! Ele ficaram tão contentes... até o do canto superor direito...

Abraço

Antuã disse...

Mal a minha mulher faleceu foi retirada imediatamente dos cadernos eleitorais. O 311 da nossa freguesia já não constava dos mesmos cadernos.