segunda-feira, abril 18, 2011

Os cravos

Na semana passada, uma jornalista da France-Press telefonou-me, fez-me umas perguntas, conversámos um bom bocado de tempo (bom!). Depois, teve a amabilidade de me mandar o seu trabalho.Traduzo-o:


Portugal:

37 anos depois,

os cravos da revolução murcharam

LISBOA, 14 avr 2011 (AFP)

Trinta e sete anos após o advento da democracia em Portugal, os cravos murcharam: “Se tivesse sabido, não teria feito a revolução”, afirmou Otelo Saraiva de Carvalho, estratega do “movimento dos capitães” que derrubou a ditadura em 25 de Abril de 1974. Com 75 anos, “Otelo”, como o chamam os Portugueses, julga hoje que “os objectivos da revolução não foram atingidos”, quanto Portugal é forçado, pela terceira vez desde 1974, a pedir ajuda internacional para evitar a falência. “Este povo, que viveu 48 anos sob uma ditadura militar e fascista, merecia outra coisa que os dois milhões de Portugueses que vivem na pobreza”, declarava quarta-feira numa entrevista à agência Lusa. Pesadamente endividado, Portugal é um dos países mais pobres da União Europeia, com um rendimento anual médio por família de 9.000 euros, de acordo com a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento económicos (OCDE), o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê, além disso, uma contracção da economia de 1,5% do PIB este ano e que o desemprego continue a aumentar para atingir os 12,4% no próximo ano.

“Não teria feito o 25 de Abril se tivesse sabido que iriamos chegar à situação actual”, afirmou “Otelo”, condenado a 15 anos de prisão em 1987, depois amnistiado em 1996, pela sua participação no movimento clandestino de extrema-esquerda FP-25, implicado em 66 atentados que têm feito 17 mortes entre 1980 e 1987.

“Ter-me-ia demitido do exército. Se adivinhasse, teria feito que fazem os jovens agora, teria partido para o estrangeiro ", disse o antigo capitão, que vive hoje da sua reforma de coronel., disse o antigo capitão, que vive hoje da sua reforma de coronel.

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“Pois teria sido uma pena, mas a revolução ter-se-ia feito na mesma! ”, assegurou à AFP, dando uma gargalhada, “o comandante” Mário Tomé, antigo companheiro de armas de "Otelo”. “Terminar com o fascismo e a guerra colonial bastava para justificar o 25 de Abril”, afirma “o comandante” Tomé, que tinha aderido o Movimento das Forças Armadas (MFA) contra a guerra colonial, após dez anos passados ao frente na Guiné-Bissau e em Moçambique. “O povo, que esperou tanto do 25 de Abril, está desiludido, mas o povo tem também a ver com o que se passou”, sublinha quem, aos 71 anos, permanece um militante activo do Bloco de Esquerda (BE, extrema esquerda).

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Sobre os muros dos velhos bairros de Lisboa, numerosos graffitis e slogans “MFA”, “Abril sempre” chamam ainda “aos valores” da revolução dos Cravos. No entanto, confirma Luís Cilia, cantor comprometido contra a ditadura de Antonio Salazar, “a decepção é enorme”. “Os cravos murcharam. Pode-se dizer que Portugal tem um enorme futuro atrás de si", disse à AFP este artista marginalizado, muito tempo exilado em França.

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Para o economista Sérgio Ribeiro, antigo deputado europeu e membro do Comité central do Partido Comunista Português, “só quem se ilude se pode desiludir!”. A 25 de Abril de 1974, Sérgio Ribeiro estava na prisão, desta vez por “ter colaborado” com correspondentes de imprensa estrangeira, após já ter estado encarcerado quase dois anos em 1963 e 1964, por “suspeita” de pertencer ao Partido Comunista na clandestinidade.

“Estou muito grato, pessoalmente e como português, a Otelo pelo seu contributo mas, contrariamente à ele, luto por objectivos, não por ilusões”, disse. “37 anos é nada na nossa História”, acrescenta, reconhecendo ao mesmo tempo que “é verdade que os cravos fenecem, faz parte do ciclo natural… mas, assegura este eterno militante, reflorescem em cada primavera! "

8 comentários:

Anónimo disse...

"é verdade que os cravos fenecem, faz parte do ciclo natural… mas, reflorescem em cada primavera!~~

Maior verdade não há!

A Chispa ! disse...

A entrevista dada por OTELO é o resultado da frustação politica pequeno burguesa em que sempre viveu, ou seja, é mais um "CRAVO" que murchou e que coloca em causa todos aqueles que defendem a teoria pacífica e "democrática" limitada aos valores burgueses do 25 de Abril.

A Chispa!

Ana Martins disse...

"Reflorescem em cada Primavera", Primavera daquelas que fazemos nós e que duram o tempo que as fizermos durar.

Há-de ser tão linda a Primavera no fim deste Inverno!

A luta continua!

Anónimo disse...

Otelo mistificado como um "outro" Fidel de Castro é aquele indivíduo que após o 25 de Abril se apresentou como o catavento que sempre foi em toda a sua vida. O "herói" do 25 de Abril reconduziu o oficial fascista Jaime Neves depois deste ter sido saneado por uma asssmebleia de soldados no quartel da Amadora e recomendou numa carta endereçada a V. Gonçalves que se demitisse porque estava a precisar de "descanço". O homem da democracia directa, também vota desde há muitos anos no Cesaltino em Oeiras. O homem é um político de 1ª água...

GR disse...

“quando tocam à porta, não perguntamos:
- quem foi?
dizemos: QUEM É?
“””””””"""""""""""
Os Cravos reflorescem em cada Primavera !

Gostei muito de ler as tuas palavras cheias de poesia, força e convicção contribuindo para a luta do nosso Partido, dia após dia. Tu Sérgio, camarada Resistente, contribuíste (como tantos outros heróis) directamente na luta contra o fascismo, demorou 48 longos anos, cheios de perigo, prisões, assassinatos, dor, tortura, mas nem por isso desistiram, nem por isso baixaram os braços, lutaram e lutam! nós seguimos os vossos passos e com o mesmo objectivo erguemos bem alto o Cravo Vermelho de Abril e dizemos; a Revolução tem, um enorme futuro à nossa frente!
A LUTA É O CAMINHO!

Gd Bj

GR

Anónimo disse...

Esta de tocarem à porta e perguntarmos quem é e não perguntarmos quem foi, é a esquizofrenia num grau irrecuperável.

cid simoes disse...

Nem mais: "reflorescem em cada primavera!"

Graciete Rietsch disse...

Os cravos são eternos porque, depois de ABRIL, passaram a simbolizar o MUNDO NOVO.

Beijos.