Foi a Lésya que, hoje de manhã, ao chegar, me falou das manifestações em França e dos tumultos na Grécia.
A Lésya é uma senhora ucraniana que nos ajuda, três manhãs por semana, a manter "a mansão" habitável. Gosta de conversar comigo. Começou por ser um pouco complicado porque os sinais espalhados pela casa colidiam com o que julgava eu (e ela...) que era anti-comunismo. Mas lá fomos conversando, ficando a dificuldade para o seu diminuto domínio do português.
Vim descobrindo (eu!) que o que ela é é anti-russa, como em Pinhel se é anti-Atouguia, ou em Galiza, ou na Catalunha, ou no País Basco, anti-Andaluzia.
E lá nos vamos entendendo, politicamente, apesar da sua religiosidade. Que, no entanto, não apaga uma cultura política de fundo que tem a ver com uma outra formação cultural (e democrática!), ou restos dela. Revelando todas as virtualidades de ter crescido ainda numa sociedade diferentemente organizada.
Hoje, vinha indignada com todas as mentiras (dos políticos, Sarkosy e outros), com a política anti-social (as reformas, os salários, sempre o ataque aos que trabalham... e isso), com a desilusão com os actuais dirigentes ucranianos que a chegaram a iludir.
De permeio, lá disse uma ou duas coisitas, a tentar fazer-me entender...
Mas ela, embalada, mostrava a sua indignação pelo recuo social, pela repressão, sobretudo pela mentira de que se apercebe, ao mesmo tempo que valorizava a tranquilidade que sente em Portugal, apesar das suas/dela dificuldades crescentes.
Lá ripostei, falei dos nossos "brandos costumes", mas sublinhei, e com toda a força, a luta em que estamos, o 29 de Setembro, a violência que foi a do fascismo. E terminei, dizendo-lhe "é o capitalismo, Lésya!", nas suas variadas maneiras mas uma só forma de exploração, a dos trabalhadores.
Já não reagiu como aqui há uns meses, e deixou-me trabalhar...
E ela também foi trabalhar... que é para isso que lhe pagamos (como Marx falava do exemplo do alfaiate não explorado nem explorador), e não para discutir política comigo!