Na viagem de fim de curso a Angola, em 1958, na Livraria Lello, em Luanda, o camarada Felisberto vendeu-me os os três volumes de Os Subterrâneos da Liberdade, do Jorge Amado. E mais uns livros que em Lisboa... não se encontravam...
Durante a viagem, li-os. Sofregamente. Embora saboreando algumas páginas. Como esta, que se me agarrou para toda a vida. «Eram em Santos
Branco soldado António;
Manuel, mulato pardo;
negro, negro de carvão era o soldado Romão.
António leu um papel,
circulava entre os soldados de mão em mão,
escondido.
"Soldado, que fazes tu?",
o papel lhe perguntava.
"Vais teu fuzil apontar contra os grevistas de Santos,
teus irmãos trabalhadores?"
Eram em Santos três soldados, de baioneta calada.
Quando soube o coronel,
contado por um tenente,
dos resmungos dos soldados,
meteu na cinta o revólver,
se encaminhou para o quartel.
Os soldados resolveram sortear quem entre eles com o coronel falaria.
Eram em Santos três soldados, de baioneta calada.
Branco soldado António;
Manuel mulato pardo;
negro, negro de carvão, era o soldado Romão.
Nem começaram a falar.
Eram em Santos três soldados,
os três num muro encostados.
Eram em Santos três soldados,
vermelho sangue dos três!"
vermelho sangue dos três!"
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Os subterrâneos da liberdade, II, Jorge Amado
2 comentários:
E assim se mata a liberdade e se procura asfixiar a luta.
Um beijo.
Há muitos anos li este livro, gostei de reler.
Bjs,
GR
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