Adam Smith foi um homem e um momento histórico dos relevantes, dos decisivos. Como os há na música, na arquitectura, sei lá..., em qualquer actividade humana que se venha desenvolvendo ao longo dos milénios.
Adam Smith foi, talvez (há sempre que colocar um talvez quando se fala de um ou de o, porque toda a obra individual é colectiva...), o mais importante representante do ascenso do capitalismo, enquanto manifestação superstrutural do modo de produção e formação social a tornar-se dominante, com a "descoberta" da mão invisível do mercado (dos mercados...), e a sua obra "Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações", de 1776, depois de ter escrito uma década antes "A teoria dos sentimentos morais", em tempos em que os economistas também filosofavam e tinham preocupações morais.
Quase um século depois, Marx escreveu O Capital (maneira de dizer que exige que se acrescente que O Capital foi sendo escrito ao longo de uma seriíssima vida e investigação... e ainda está a ser escrito), que começa por "A riqueza das sociedades...", e em que, logo a partir das primeiras páginas, Adam Smith é visita permanente com quem Marx muito "conversa"...
Dito isto, voltemos a "A verdadeira riqueza das Nações: caminhos para o Desenvolvimento Humano" que é o título (talvez pretensioso...) do Relatório de Desenvolvimento Humano - edição do 20º aniversário, publicação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Apesar da atenção que estou a ter relativamente a esta investigação, que vai entrar na terceira década, e que há muito venho dedicando e continuarei a dedicar, não espero dela "milagres" parecidos com os de Adam Smith e de Karl Marx (da minha "vizinha" não falo porque é "santa da casa"...), mas considero os seus resultados como um instrumento imprescindível para o acompanhamento da realidade que vivemos. Mais: que, com esse instrumento, temos a possibilidade de acrescentar alguma coisa (dependendo das unhas de quem pegue na guitarra) à compreensão da realidade, escorados na base teórica que é a nossa.
Todas as nações são diferentes, sendo todas iguais no que é a sua riqueza. Como medi-la? Pelo PIB, isto é, Produto Interno Bruto? Não, até porque, na apresentação deste 20º relatório do trabalho do PNUD - e do seu índice de desenvolvimento humano (IDH) - se substitui o PIB per capita pelo Rendimento Nacional Bruto (RNB) per capita "para incluir o rendimento das remessas externas e do apoio internacional ao desenvolvimento". Será então o RNB per capita? Se assim fosse, a mais rica nação seria o Lietchenstein (menos de 35 mil habitantes) e a 2ª o Qatar (pouco mais de 800 mil habitantes.
É a procura de uma medida mais humana da "riqueza das nações" (Tévoédjrè escreveu, nos idos anos 7o, um interessante A pobreza, riqueza dos povos...) que está nas intenções dos criadores do IDH do PNUD. Será trabalho insano, ou seja, de gente sem juízo, procurar fazê-lo? Bem me parece que não, mas já tenho dúvidas sobre a sanidade de quem dedica algumas das suas horas a procurar aproveitar o que se vai avançando nesse caminho e a procurar divulgá-lo, quando o tempo parece ser de outras lutas. E a presumível insanidade estará na convicção de que essas outras lutas não podem prescindir destas procuras.
Isto anda tudo ligado... e estudar a riqueza das nações (todas diferentes, todas iguais porque gente com passado, cultura e futuro) com indicadores de saúde, de educação, de desigualdades, de desigualdade de género, de pobreza multidimensional, é por demais aliciante. E necessário.
2 comentários:
Sobretudo, muito necessário.
Abraço.
Obrigada pela lição. O mal do nosso Povo será não ter sido ensinado a estudar e a pensar?
Um beijo.
Enviar um comentário