sexta-feira, dezembro 31, 2010

Igualdade em Lágrima de Preta, de António Gedeão

Ao escrever aquela coisa sobre a igualdade corporal (que também tem os seus odores, como por vezes se comprova, e um comentador oportunamente lembrou), tinha a intenção de que tal ousadia fosse a primeira de mais duas ou três. Sobre a igualdade de género, a igualdade de cor de pele, a igualdade de oportunidades (que anda por aí na moda e ao serviço...), e outras, até fechar com a igualdade social, e como a lei (a Constituição) deveria existir (e em Portugal existe, ainda que maltratada) para, face às reais desigualdades, reparar algumas, compensar outras, proteger, enfim, os mais desiguais entre os iguais.

Eis senão quando, sou confrontado com um outro comentador que sugere (sem quaisquer más intenções, diga-se) que aquilo que eu escrevera poderia ter tido "inspirado" em poema de António Gedeão. Como conheço razoavelmente o poeta, surpreendi-me. Fui à procura, não tivesse o meu subconsciente gravado alguma coisa sem autorização e, depois, ainda menos autorizado, eu a tivesse reproduzido. Não encontrei nada de que o culpe, nem ao sub nem ao inconsciente que também sou.

O que encontrei, isso sim, foi a velha e conhecida interpretação do meu amigo Manuel Freire do

poema Lágrima de Preta, que logo resolvi aproveitar para ver se acabo o ano melhor do que ele foi. Não no que respeita ao anónimo do séc. xxi, de que não tenho que me queixar, mas dos motivos que me foram sendo dados para o seu sustento.

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro
nem vestígios de ódio,
água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

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E fica a "ponte" para os ulteriores tratamentos do tema da igualdade, em vários registos. Desiguais, obviamente.

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BOM ANO NOVO OVO

4 comentários:

jrd disse...

Igualdade nas lágrimas.
Permite-me o 'comentário', mas acho que os brancos ainda têm de verter muitas, para saber do choro dos negros.
Abraço

Maria disse...

Igualdade em TUDO!!!!!!!
A interacção entre quem escreve e quem comenta dá nisto...

Bom ano novo ovo. E um beijo.

samuel disse...

E é uma bela ponte... que milhões de seres humanos de todas as cores ainda terão que atravessar.

Abraço.

Graciete Rietsch disse...

Óptimo poema que fala realmente de igualdade. Eu penso que, àparte as diferenças naturais, deveríamos ser todos iguais e, repito, pelo menos em oportunidades. O modo como a nossa sociedade está organizada e os velhos vícios do passado, ainda tão enraizados, complicam muito a vida às mulheres. E o próprio racismo ainda anda por aí.

Um beijo.