Depois de dois dias em que andei por outras paragens da minha vida, que são das mais fundas que ela tem - e num desses dias, ontem, com uma Greve Geral! -, depois desses dois dias em que a morte de Herberto Goulart quase apagou tudo o resto, procuro vir à tona. Tem de ser! Até porque hoje encerra o ano lectivo da Universidade Sénior e realiza-se uma Assembleia Municipal, porque há que fazer coisas relacionadas como o concerto "musica com paredes de vidro" de domingo.
Com essa intenção de "vir à tona", passo os olhos pelos jornais, e retenho-me na situação do Brasil, com particular atenção para o importante artigo de Pedro Guerreiro no avante!, que me traz à memória o livro que escrevi, há 40 anos, com as crónicas que enviei para o Diário de Lisboa a partir da minha participação numa delegação comercial - crónicas e notas que foram, naturalmente..., cortadas pela censura, como o livro apreendido,
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Edição Nº2065 - 26-6-2013
O que está em jogo?
As
manifestações populares no Brasil expuseram de forma vigorosa a luta de classes,
as contradições e a complexidade da situação neste grande
país.
As manifestações contra o
aumento do preço dos transportes e exigindo transportes públicos de qualidade,
tendo sido iniciadas em São Paulo e após violentamente reprimidas pela Polícia
Militar, rapidamente se alastraram a todo o país, incorporando outras
reivindicações sociais.
Recorde-se que o Brasil
iniciou uma viragem política com a eleição do presidente Lula, em 2002, que
melhorando as condições de vida de milhões de brasileiros e afirmando a
soberania nacional – dando um contributo valioso para o avanço da emancipação da
América Latina da alçada dos EUA e para a importante criação e dinâmica dos
BRICS –, não encetou as profundas transformações sociais, económicas e políticas
que atacariam a raiz das brutais desigualdades sociais existentes neste
país.
Integrando-se nos processos
progressistas e de desenvolvimento soberano que têm lugar na América Latina, o
Brasil não vive um processo revolucionário. As forças de esquerda que elegeram
Lula e Dilma, abrindo caminho a uma viragem, estão no governo mas não detêm o
poder.
Aqueles que detêm o poder
económico e que são responsáveis pelos grandes problemas que o Brasil e o seu
povo enfrentam, procuram – desde o primeiro momento e controlando os grandes
meios de comunicação –, determinar o rumo das manifestações populares,
pretendendo virá-las contra as forças políticas progressistas, provocar uma
crise política e, se possível, criar as condições para reverter os avanços
sociais alcançados – num cenário similar a outras operações de ingerência dos
EUA contra países da região.
As forças democráticas e
progressistas brasileiras colocam-se perante o desafio e a necessidade de,
contrariando a tentativa de instrumentalização das manifestações por parte das
forças reacionárias, aproveitar esta oportunidade para impulsionar novas e mais
amplas medidas e transformações de sentido progressista.
Para tal, será fundamental
ampliar, desenvolver e integrar novas camadas na luta organizada dos
trabalhadores e das populações, assegurar a melhoria das condições de vida do
povo brasileiro – em áreas como a saúde, a educação, a habitação ou a segurança
social –, dar solução aos complexos problemas das grandes cidades e resposta às
aspirações da juventude.
Os recentes acontecimentos
demonstram que a continuidade dos avanços alcançados nas condições de vida da
generalidade do povo brasileiro coloca como questão central o aprofundamento do
processo que está na sua origem e que foi iniciado há cerca de dez
anos.
Um caminho que passa pelo
retomar da iniciativa, pelo recrudescimento da luta e participação das massas e,
consequente, reforço e unidade das forças políticas e sociais que se propõem
protagonizar e levar a cabo o programa de profundas transformações democráticas
e progressistas, pelo qual o povo brasileiro desde há muito
anseia.
A resposta às aspirações da
maioria esmagadora do povo brasileiro, o avanço na concretização dos seus
direitos, passa pela conquista de uma justa redistribuição da riqueza e pelo
controlo dos meios e instrumentos económicos que a assegurarão, o que
significará afrontar o domínio dos grandes grupos financeiros e económicos, que
controlam grande parte da economia brasileira.
Isto é, os avanços sociais –
os alcançados e os a alcançar –, só poderão ser consolidados pela realização de
significativas transformações económicas e políticas e pela construção de uma
correlação de forças que as permita concretizar.
Pedro Guerreiro
4 comentários:
Um artigo claro e elucidativo.
Ainda bem que, no meio da tua vida vertiginosa(mas sem vertigens!)tens tempo para chamar a atenção para ele - é um serviço público que continuas a prestar a quem te lê.
Eu também fiquei triste com a morte do Herbert Goulart.
Tive a sorte de ser vizinha dele logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 e guardo as melhores recordações. Muito mais tarde, a Catarina conviveu com ele na CGTP e falava sempre com muito carinho do nosso querido amigo.
Campaniça
Eu também li o artigo de Pedro Guerreiro e fiquei mais esclarecida sobre o que se passa no Brasil, mas também me incomoda o aproveitamento irresponsável, por certos grupos, do justo descontentamento do Povo. Em Portugal algo parecido se pode passar e portanto a luta organizada e contínua tem que ser cada vez mais intensa.
Um beijo.
Lembro-me que hâ uns anitos,Miguel Urbano Rodrigues,disse que o Brasil era um barril de pôlvora.O que tenho lido sobre a situacao actual,dâ-me precisamente essa idêia.O Brasil possui uma mâfia mediâtica monopolista e altamente reacionâria,que estâ a querer manipular o descontentamento popular.Serâ,que o povo brasileiro,terâ lucidez suficiente,para nao se deixar manipular?
Um beijo
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