sexta-feira, junho 28, 2013

Atenção ao Brasil!

Depois de dois dias em que andei por outras paragens da minha vida, que são das mais fundas que ela tem - e num desses dias, ontem, com uma Greve Geral! -, depois desses dois dias em que a morte de Herberto Goulart quase apagou tudo o resto, procuro vir à tona. Tem de ser! Até porque hoje encerra o ano lectivo da Universidade Sénior e realiza-se uma Assembleia Municipal, porque há que fazer coisas relacionadas como o concerto "musica com paredes de vidro" de domingo.
Com essa intenção de "vir à tona", passo os olhos pelos jornais, e retenho-me na situação do Brasil, com particular atenção para o importante artigo de Pedro Guerreiro no avante!, que me traz à memória o livro que escrevi, há 40 anos, com as crónicas que enviei para o Diário de Lisboa a partir da minha participação numa delegação comercial - crónicas e notas que foram, naturalmente..., cortadas pela censura, como o livro apreendido,



- Edição Nº2065  -  26-6-2013


O que está em jogo?

As manifestações populares no Brasil expuseram de forma vigorosa a luta de classes, as contradições e a complexidade da situação neste grande país.
As manifestações contra o aumento do preço dos transportes e exigindo transportes públicos de qualidade, tendo sido iniciadas em São Paulo e após violentamente reprimidas pela Polícia Militar, rapidamente se alastraram a todo o país, incorporando outras reivindicações sociais.
Recorde-se que o Brasil iniciou uma viragem política com a eleição do presidente Lula, em 2002, que melhorando as condições de vida de milhões de brasileiros e afirmando a soberania nacional – dando um contributo valioso para o avanço da emancipação da América Latina da alçada dos EUA e para a importante criação e dinâmica dos BRICS –, não encetou as profundas transformações sociais, económicas e políticas que atacariam a raiz das brutais desigualdades sociais existentes neste país.
Integrando-se nos processos progressistas e de desenvolvimento soberano que têm lugar na América Latina, o Brasil não vive um processo revolucionário. As forças de esquerda que elegeram Lula e Dilma, abrindo caminho a uma viragem, estão no governo mas não detêm o poder.
Aqueles que detêm o poder económico e que são responsáveis pelos grandes problemas que o Brasil e o seu povo enfrentam, procuram – desde o primeiro momento e controlando os grandes meios de comunicação –, determinar o rumo das manifestações populares, pretendendo virá-las contra as forças políticas progressistas, provocar uma crise política e, se possível, criar as condições para reverter os avanços sociais alcançados – num cenário similar a outras operações de ingerência dos EUA contra países da região.
As forças democráticas e progressistas brasileiras colocam-se perante o desafio e a necessidade de, contrariando a tentativa de instrumentalização das manifestações por parte das forças reacionárias, aproveitar esta oportunidade para impulsionar novas e mais amplas medidas e transformações de sentido progressista.
Para tal, será fundamental ampliar, desenvolver e integrar novas camadas na luta organizada dos trabalhadores e das populações, assegurar a melhoria das condições de vida do povo brasileiro – em áreas como a saúde, a educação, a habitação ou a segurança social –, dar solução aos complexos problemas das grandes cidades e resposta às aspirações da juventude.
Os recentes acontecimentos demonstram que a continuidade dos avanços alcançados nas condições de vida da generalidade do povo brasileiro coloca como questão central o aprofundamento do processo que está na sua origem e que foi iniciado há cerca de dez anos.
Um caminho que passa pelo retomar da iniciativa, pelo recrudescimento da luta e participação das massas e, consequente, reforço e unidade das forças políticas e sociais que se propõem protagonizar e levar a cabo o programa de profundas transformações democráticas e progressistas, pelo qual o povo brasileiro desde há muito anseia.
A resposta às aspirações da maioria esmagadora do povo brasileiro, o avanço na concretização dos seus direitos, passa pela conquista de uma justa redistribuição da riqueza e pelo controlo dos meios e instrumentos económicos que a assegurarão, o que significará afrontar o domínio dos grandes grupos financeiros e económicos, que controlam grande parte da economia brasileira.
Isto é, os avanços sociais – os alcançados e os a alcançar –, só poderão ser consolidados pela realização de significativas transformações económicas e políticas e pela construção de uma correlação de forças que as permita concretizar.


Pedro Guerreiro

4 comentários:

Justine disse...

Um artigo claro e elucidativo.
Ainda bem que, no meio da tua vida vertiginosa(mas sem vertigens!)tens tempo para chamar a atenção para ele - é um serviço público que continuas a prestar a quem te lê.

Anónimo disse...

Eu também fiquei triste com a morte do Herbert Goulart.
Tive a sorte de ser vizinha dele logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 e guardo as melhores recordações. Muito mais tarde, a Catarina conviveu com ele na CGTP e falava sempre com muito carinho do nosso querido amigo.

Campaniça

Graciete Rietsch disse...

Eu também li o artigo de Pedro Guerreiro e fiquei mais esclarecida sobre o que se passa no Brasil, mas também me incomoda o aproveitamento irresponsável, por certos grupos, do justo descontentamento do Povo. Em Portugal algo parecido se pode passar e portanto a luta organizada e contínua tem que ser cada vez mais intensa.

Um beijo.

Olinda disse...

Lembro-me que hâ uns anitos,Miguel Urbano Rodrigues,disse que o Brasil era um barril de pôlvora.O que tenho lido sobre a situacao actual,dâ-me precisamente essa idêia.O Brasil possui uma mâfia mediâtica monopolista e altamente reacionâria,que estâ a querer manipular o descontentamento popular.Serâ,que o povo brasileiro,terâ lucidez suficiente,para nao se deixar manipular?


Um beijo