Nalguns fins-de-semana - naqueles em que arranjo tempo para ler o Expresso e os seus colaboradores - sinto-me inferior. Sem complexos. São todos tão inteligentes, são todos (ou quase todos...) tão sabedores e communicativos nas respectivas especialidades, na cultura (artes e letras), na economia, nos negócios, na política, que eu começo por me sentir mesmo inferior. E aprendo sempre. Sem ironia!
É verdade que alguns me irritam logo à primeira leitura, e passo adiante. Há outros que me irritam à segunda leitura... mas só me irrito "à séria" quando entram em áreas que minimamente domino, e em que procuro estar actualizado. E acho muito significativo que vislumbre, na economia, para além da espuma e poeira levantadas pelo povo grego (ao votar contra a austeridade e a manipulação), uma redescoberta de Keynes. Redescoberta a meu ver serôdia, até porque, logo ao eclodir da crise, cheguei a prever que se iria tentar a via que bebe em Keynes como forma de recuperar dos malefícios evidentes do caminho inspirado, teoricamente, em Hayek e Friedman, o que não foi o caso, insistindo-se e persistindo-se na financeirização, no monetarismo, no "mercado". Por isso, achei curiosa a citação que um desses colaboradores expressos (Henrique Monteiro) foi buscar a Keynes "quando os factos mudam, eu mudo a minha opinião", o que me parece citação muito lisongeira para quem não tem opinião, ou não a tem para além do factual, ou seja, não tem uma leitura da História (que, evidentemente, também tem de se ir confrontando com o fluir histórico... com os factos mas nunca "lidos" adinamicamente).
Neste espírito e aparente desocupação cheguei à última página da revista, depois de passar pelo caderno Economia (a que voltarei, aqui ou noutros lugares, pois traz informações e opiniões interesantes), e me asssalta a crónica de Pedro Mexia - À espera dos bárbaros. E assalta-me pelo lado do sentimento de inferioridade (cultural) que a primeira leitura dos seus textos me traz, neste caso logo atenuado pela anotação do erro - talvez gralha... - no nome do autor do poema, Kavafis -1863-1933- e não Kafavis, e por, nesse texto, o autor fazer a confissão (na primeira pessoa do plural) de que se começa a perceber muita coisa que há muito, pelas nossas bandas, com a nossa leitura da História, foi antevisto, previsto e prevenido. Só que essa leitura da História é, ainda, tabú, ou foi-lhe passada precipitada certidão de óbito por desastres colaterais.
Será que alguns inteligentes e cultos estão a despertar?
A propósito,
vou deixar,
em anexo
o poema À espera dos bárbaros
2 comentários:
Sempre ótimas lições. Muito aprendo eu com este blog!!!!!!
A propósito, comecei a ver o "Borgen".
Um grande abraço.
Que bom ver-te por aqui. É um grande estímulo.
Sobre o "Borgen", que parece ter acabado, há tanto para dizer!
Tem, entre outras, essa virtude.
Abraço amigo
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