No léxico “europês” há
palavras, frases e expressões que, pelo seu uso e/ou pelo seu desuso, ajudam a
entender o que se passa - e se procura fazer passar - melhor que muitos textos de
maior ou menor extensão.
Na actual agitação das
águas “europeias” (isto é, da União Europeia) que, não estagnadas, têm vindo a
apodrecer, apareceu por aqui gente nova a comentar… embora não sejam novidade. Mas o
facto é que (Grécia gratias) os meios de comunicação saíram um pouco das
“velhas receitas” (e dos habituais “cozinheiros”) e recorreram a comentadores
que, não sendo estreias, têm sido relativamente menos utilizados.
O facto é que “syrisas”,
“podemos” e outros cidadãos de afirmada e vangloriada apartidarite (“independentes”…
embora não se saiba muito bem que seja isso) têm alterado as composições dos painéis, e feito ouvir coisas raras. E muitas delas muito certeiras.
Então na área da
economia, ainda que sem rasgos daqueles de rasgar mesmo, diminuiu – por momentos… –
a dominância dos discursos e opiniões que, a vários tons e sons, parecem ter
palas nos olhos e muros nas palavras pelo que só vêem e só dizem monetarismo, dívida e
mercado.
É claro que tal "ar fresco" acontece com as cautelas (e os caldos de galinha) que a prudência aconselha...
Venho
afirmá-lo porque as posições que com mais clareza poderiam apontar para
verdadeiras alternativas políticas continuam a ter aposta uma surdina que as
torna pouco acessíveis, e até impede que se exercitem e amelhorem na sua fonte
privilegiada, no debate que as não exclua.
Vêm estas reflexões a propósito
do verdadeiro muro de silêncio em que
esbarrou a proposta de realização de uma Conferência Inter-Governamental (CIG) que
o PCP levou, pelo seu Grupo Parlamentar, à Assembleia da República. Muro de silêncio que beneficiou da reacção
triste e apagadora do presidente do GP do PS, à maneira de estucador e atrás de
uma questão formal… segundo a qual os deputados na AdaR não teriam de se meter
no que é governamental!
Mas… Mas, queiram-no
ou não quem pretende ter os cordelinhos do que se mostra ao povinho, a proposta
fará o seu caminho e será discutida na AdaR mesmo que se saiba já quem votará contra (hoje e amanhã, após eleições... se não for obrigado a mudar de posição), no rasto do que resulta deste mexer nas águas turvas e revoltas, e
em que a palavra negociação arrasta conferências internacionais, para além
dos conciliábulos conselheirais (de Estado, de EuroGrupo, e “europeus”).
E importa lembrar que,
antes de Maastrich e das CIG que Maastrich trouxe consigo - uma para a União Económica e Monetária e outra para a União Política -, aproveitando um espaço
considerado livre de constrangimentos e em globalização (capitalista financeira-federalista),
era em conferência inter-governamentais que se discutiam e preparavam os passos
a dar na integração europeia. Até elas, essas CIG, serem de cariz suicida, isto é, reúnirem-se enquanto soberanias nacionais para acabarem com as soberanias nacionais.
Por isso mesmo se
releva o enorme significado da recuperação da designação Conferências
Inter-Governamentais porque ela reafirma propostas que vêm de 2011 e que,
como diz o léxico “europês” oficial, «A expressão “Conferência
Intergovernamental” (CIG) designa um processo de negociação entre os governos
dos Estados-Membros com o objectivo de alterar os Tratados.»
Vai mesmo ter de se
falar disto. No local apropriado: na Assembleia da República. Há que ouvir o que vai ser dito, a partir desta exigência de
discutir caminhos feitos, por muito avançados que eles pareçam, e porque se torna
evidente que têm provocado desastres. Nos povos e que os povos podem impedir os que se aproximam. Perigosamente.
1 comentário:
Lutando contra muros de silêncio e indiferença...
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