A ler Marx, ou a ler sobre Marx, aprende-se sempre muito. Algumas vezes aprende-se melhor o que já se sabia, mesmo aquilo a que a modéstia impede de dizer que se sabia razoavelmente bem… E nunca se sente – ou pode sentir – que se estão a adoptar “argumentos de autoridade”.
Em Marx, sem me contradizer… espero eu, se há aspectos que vou reforçando com as leituras e releituras, um é o do grande respeito que ele tinha pelo trabalho dos outros, dos anteriores e dos coevos. O que coexistia com ausência de frouxidão na argumentação, por vezes quase com violência verbal. Se o ilustra a “conversa” (virtual, ainda que sem gravações-vídeo ou esoterismos) tida e mantida com Adam Smith, grande teórico da/para a burguesia ascendente (e também, agora, para a decadente), até porque o respeito e o aproveitamento de contributos de Adam Smith são evidentes no edifício que Marx ia construindo (e que não está concluído, nem nunca o estará enquanto marxismo), não resisto a transcrever os termos com que se referiu a Bentham (1878-32), um dos pais do “utilitarismo”, a quem chamou “o génio da estupidez burguesa”:
Em Marx, sem me contradizer… espero eu, se há aspectos que vou reforçando com as leituras e releituras, um é o do grande respeito que ele tinha pelo trabalho dos outros, dos anteriores e dos coevos. O que coexistia com ausência de frouxidão na argumentação, por vezes quase com violência verbal. Se o ilustra a “conversa” (virtual, ainda que sem gravações-vídeo ou esoterismos) tida e mantida com Adam Smith, grande teórico da/para a burguesia ascendente (e também, agora, para a decadente), até porque o respeito e o aproveitamento de contributos de Adam Smith são evidentes no edifício que Marx ia construindo (e que não está concluído, nem nunca o estará enquanto marxismo), não resisto a transcrever os termos com que se referiu a Bentham (1878-32), um dos pais do “utilitarismo”, a quem chamou “o génio da estupidez burguesa”:
«A esfera da circulação ou da troca de mercadorias, dentro de cujos limites se move a compra e venda da força de trabalho, era de facto um verdadeiro Éden dos direitos humanos inatos. O que aí impera somente é liberdade, igualdade, propriedade e Bentham. Liberdade! Pois o comprador e o vendedor de uma mercadoria – p.ex., da força de trabalho – são apenas determinados pelo seu livre arbítrio. Eles fazem contrato enquanto pessoas livres, juridicamente de igual condição. O contrato é o resultado final pelo qual as suas vontades dão uma à outra a sua expressão jurídica comum. Igualdade! Pois eles apenas se relacionam entre si como possuidores de mercadorias e trocam equivalente por equivalente. Propriedade! Pois cada um dispõe apenas do que é seu. Bentham! Pois cada um apenas se preocupa consigo. O único poder que os junta e põe em relação é o do seu proveito próprio, da sua vantagem particular, dos seus interesses privados. E exactamente porque cada um apenas se volta para si e nenhum para o outro, todos realizam apenas a obra da sua vantagem recíproca, do interesse conjunto, em consequência de uma harmonia preestabelecida das coisas ou sob os auspícios de uma providência toda-manhosa.
Ao separar-se desta esfera da circulação simples ou da troca de mercadorias, ao qual o livre-cambista vulgaris vai buscar concepções, conceitos e padrões para o seu juízo sobre a sociedade do capital e do trabalho assalariado, algo se transforma já – ao que parece – a fisionomia da nossa dramatis personae*. O antigo possuidor do dinheiro marcha à frente como capitalista, o possuidor da força de trabalho segue-o como seu operário; um significativamente sorridente e zeloso pelo negócio, o outro tímido, contrariado, como alguém que levou a sua própria pele ao mercado e agora nada mais tem a esperar senão… ser esfolado.» (O Capital, edições avante, Livro 1º, tomo I, p. 204)
Ao separar-se desta esfera da circulação simples ou da troca de mercadorias, ao qual o livre-cambista vulgaris vai buscar concepções, conceitos e padrões para o seu juízo sobre a sociedade do capital e do trabalho assalariado, algo se transforma já – ao que parece – a fisionomia da nossa dramatis personae*. O antigo possuidor do dinheiro marcha à frente como capitalista, o possuidor da força de trabalho segue-o como seu operário; um significativamente sorridente e zeloso pelo negócio, o outro tímido, contrariado, como alguém que levou a sua própria pele ao mercado e agora nada mais tem a esperar senão… ser esfolado.» (O Capital, edições avante, Livro 1º, tomo I, p. 204)
É neste quadro (teatral) que se toma partido!
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* - Em latim no texto original: personagem do drama (nota da edição portuguesa)
1 comentário:
A ler Sérgio Ribeiro no anónimo também...
:)
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