Um visitante (a quem muito agradeço) coloca-me, no post anterior, questões muito oportunas sobre o uso e abuso da expressão “classe média”.
É evidente que ninguém pode exigir rigor conceptual às expressões utilizadas na comunicação corrente. Mas há usos e abusos que não resultam de ausência ou menosprezo desse rigor, mas precisamente de deliberada confusão para alimentar a ideologia dos “poderes” que decretaram (sem o poderem fazer, obviamente) o fim das ideologias.
Sobre as “classes médias”, nos 160 anos da edição de O Manifesto do Partido Comunista, transcrevo dois trechos que julgo boas pistas de esclarecimento, a partir da “leitura” de que há duas classes, a que Marx e Engels chamam burguesia e proletariado, sendo esta criada pela própria burguesia com as relações e o modo de produção que impõe:
É evidente que ninguém pode exigir rigor conceptual às expressões utilizadas na comunicação corrente. Mas há usos e abusos que não resultam de ausência ou menosprezo desse rigor, mas precisamente de deliberada confusão para alimentar a ideologia dos “poderes” que decretaram (sem o poderem fazer, obviamente) o fim das ideologias.
Sobre as “classes médias”, nos 160 anos da edição de O Manifesto do Partido Comunista, transcrevo dois trechos que julgo boas pistas de esclarecimento, a partir da “leitura” de que há duas classes, a que Marx e Engels chamam burguesia e proletariado, sendo esta criada pela própria burguesia com as relações e o modo de produção que impõe:
- "Os pequenos estados médios (Mittelstände) até aqui, os pequenos industriais, comerciantes e rentiers (em francês no original), os artesãos e camponeses, todas estas classes caem no proletariado, em parte porque o seu pequeno capital não chega para o empreendimento da grande indústria e sucumbe à concorrência dos capitalistas maiores, em parte porque a sua habilidade é desvalorizada por novos modos de produção. Assim, o proletariado recruta-se de todas as classes da população" (pág. 44)
- "Os estados médios (Mittelstände) – o pequeno industrial, o pequeno comerciante, o artesão, o camponês – todos eles combatem a burguesia para assegurar, face ao declínio, a sua existência como estados médios. Não são, pois, revolucionários, mas conservadores." (pág. 46)
- "A burguesia despiu da sua aparência sagrada todas as actividades até aqui veneráveis e consideradas com pia reverência. Transformou o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência em trabalhadores assalariados pagos por ela." (pág. 39)
3 comentários:
pá, hoje há disponíveis denominações várias para as classes médias, consequência das formas diversas de perspectivar a estrutura de classes sociais nas sociedades do noroeste. algumas das classes médias - a maior parte - correspondem a segmentos assalariados, mas outras classes médias recobrem desde proprietários e empregadores pequenos até aos chamados profissionais liberais. no âmbito da sociologia há muita investigação sobre esta questão. e o que é evidente é que entre operariado (ou proletariado) e burguesia, categorias entendidas no sentido marxiano mais duro, é possível recortar um leque variado de condições sociais que não correspondem a qualquer daquelas classes sociais.
A análise do Manifesto parece-me em termos históricos perfeitamente válida e verificável nos nossos dias.O problema, sf, é que no discurso socratiano e epígonos,eu, pensionista de 800 euros líquidos/mês, no noroeste litoral português passo por ser (na conversa deles) classe média,pois os pobrezinhos de pedir é que são os que precisam da caridadezinha e não de direitos constitucionais.Essa do "marxiano mais duro" para mim é nova...Ou velha?
Ora aí está...
Eu todo contente!
Tenho um post para (a)post(ar), congeminado na noite de sono(lência) e estes dois já aqui tinham estes excelentes contributos...
Bom dia!
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