domingo, julho 27, 2008

expressamente

Não são raros os amigos e camaradas que me dizem «… o “Expresso?”... já não o leio!” (e onde está expresso podem estar outros títulos).
Como raros não são os que, com ar piedoso-compungido acrescentam “… como é que tu ainda os lês?!” quase como quem critica.
Pois ainda faço mais. Comento-os. Mas só de vez em quando, e não por (a)mor deles. Pelo que eles nos ensinam do tempo que vivemos e do modo como está a ser vivido por aqueles de quem eles… “fazem a cabeça”.
Três apontamentos sobre três vectores fundamentais:

  1. a crise
    Soros (o famoso especulador húngaro) «critica o paradigma vigente do “fundamentalismo” do mercado» e diz que o que está a acontecer «é basicamente o fim de um período de 30 anos de expansão no crédito baseado no dólar como moeda de reserva» (quando, desde 15 de Agosto de 1971, deixou de o ser, isto digo eu…).
    E aponta como culpados «alguns dos protagonistas políticos deste período de confiança quase cega nos mecanismos de mercado: Ronald Reagan, Margaret Thatcher (…) eles desenvolveram uma crença forte na magia do mercado» (mas conseguiram, com “ajudas traidoras”, o objectivo: fazer cair uma alternativa no terreno, assim travando, adiando, a derrota do sistema capitalista).
    Vale a pena ler também as «palavras de “Maestro”» (do sr. Greenspan, quase duas décadas presidente do FED dos EUA) para se ver a dimensão da crise que o capitalismo está a atravessar e as “saídas” procuradas: «se baixarmos a guarda podemos criar um enorme problema» (diz ele, pouco coincidente com Soros).
  2. a diplomacia económica
    Sempre defendemos uma representação nacional adequada ao tempo presente, de interdependência económica (e não só) , e não a diplomacia “à Congresso de Viena do século XIX”. Fizemo-lo, pela primeira vez e vivenciadamente, quando em Junho de 1974 encontrámos, em Geneve, 4 representações de Portugal (com sedes próprias, pessoal de cada uma que se desconhecia, políticas e gastos em quadruplicado). Mas a questão é sempre a mesma: o Estado ao serviço de quem, de que classe? Ler que o inefável ministro da economia se vangloria de ser o ministério e o governo, «uma direcção comercial de luxo», lembra O Manifesto (mas porque é que tanta coisa me está a lembrar O Manifesto?...): «o moderno poder do Estado é apenas uma comissão que administra os negócios de toda a classe burguesa.»
    O País é muito mais que os negócios de um grupo, e assemelhar o Governo a uma empresa é a total assunção de um papel de classe. Contra os trabalhadores.
  3. os deputados que dormem
    Caricaturar o poder democrático é o contrário de criticar o uso perverso feito da democracia com o fim de a pôr ao serviço de interesses privados.
    A democracia não se reduz à vertente institucional, representativa. Esta tem de ser, e só assim é democracia, parte de um todo em que a vertente participativa é imprescindível e preponderante.
    A campanha da diminuição de deputados, com o argumento-pretexto de que há eleitos que são maus representantes do povo é o caminho para diminuir o número e a intervenção dos eleitos que não querem perder a sua qualidade de representantes e a sua ligação à vertente participativa, que a querem estimular e reflectir na vertente representativa.
    A criação de uma “casta” de “elegíveis”, eleitos por um número cada vez mais desinteressado e reduzido de votantes, é a via para que os executivos, “homologados democraticamente”, sejam conselhos de administração de um poder económico financeiro, cumprindo regras (ou desregras) de uma economia de mercado ideológica, fundamentalista, e ignorando as questões sociais, as gentes, o povo, o que é a raiz e razão da democracia.

10 comentários:

Maria disse...

Pertenço ao grupo dos que já não lêem o expresso, nem qualquer outro jornal, diário. Leio apenas um semanário, que sai à quinta feira...
Prefiro mil vezes ler os teus comentários ao que diz o expresso...
... é que se aprende muito mais...

Abreijos

Anónimo disse...

E eu concordo com a Maria.

Campaniça

Sérgio Ribeiro disse...

Sinto-me muito honrado!...
Mas vê lá tu se também eu (e outros melhores que eu) deixam de ler esta "bosta" toda!?
Cada vez mais me parece necessária uma... vigilância revolucionária.
Mas custa, isso custa.
Se lesses o que um gajo diz sobre o Leonardo Cohen! Poupo-te...
Abreijos

Sérgio Ribeiro disse...

Olá Campaniça! Estávamos em simultâneo...
Tudo bem? Bom regresso?

samuel disse...

"Prontos"... Sempre que der para produzir posts como este, então o dinheiro e o tempo foram bem gastos.

Abraço

Anónimo disse...

Por mais que isso nos custe, temos que os ler, não podemos nem devemos alhearmo-nos do que eles pensam e dizem, doutra forma não conseguimos conbatê-los,com eficácia.
Obrigado por mais esta lição que é a tua postagem.
Abraço

Anónimo disse...

De Bilderberg oriundos
prometem mundos e fundos
para enganar os incautos.
Vendido ao quilo o papel
daria talvez bom preço;
é por isso que vos peço
que se lerem o expresso,
lacaio de gente tirana,
não desistam,lutem sempre
Sigam o exemplo do RANA!

Condolencias à família do Álvaro Rana.

Anónimo disse...

Sérgio, fizemos uma excelente viagem de regresso. Foram uns dias óptimos e uns passeios excelentes. Ccntinuo a dormir bem. Vamos ver até quando.

Campaniça

Fernando Samuel disse...

Sim, por que raio é que o Manifesto nos vem à memória com cada vez maior frequência? Há-de haver razões para isso...

Abraço.

Anónimo disse...

Belo texto.