Porque o Banco de Portugal, porque o Estado da Nação, porque o Marx faz 190 anos e o Manifesto 160, porque o materialismo histórico, porque a Colômbia, porque há Festa da Alegria e vai haver A Festa. Porque a luta!
Mas também se (a)posta à toa. Porque à toa se está na vida. Também.
O que faz com que, às vezes, se tenha surpresas em alguns (a)post(a)s. Que apareceram porque se tropeçou em qualquer coisa… e afinal. E afinal essa “qualquer coisa” tem, ou ganhou, surpreendente importância.
No que chamei “arrumações” mas que pouco arrumam, às vezes fico preso a um papel, a uma revista, a um livro. E lá ficam por fazer as arrumações…
Foi o caso deste livro
O livro andava perdido. Escondido. Comecei por o ver como um(a) (a)post(a) interessante para o som-da-tinta. Scaneei-o. Fiz o post. Como uma curiosidade bibliográfica.
Mas, ao fazer a “ficha” – se assim se pode chamar –, a data da edição prendeu-me. 1866. Um ano antes de Marx publicar O Capital. E se já o tinha folheado, com mais cuidado passei as páginas, li algumas atentamente, vi com cuidado algumas palvras do “vocabulário da linguagem económica” que contem. Socialismo, por exemplo. Communismo, por exemplo. Capital, por exemplo.
É um livro datado. E escrito por alguém que, conhecendo outros escritos, ou vivendo as circunstâncias (!) do tempo em que outros escritos se escreviam, toma a posição de apologia da classe ascendente, tratando o sistema capitalista (já então) como o fim da história. Por isso, um livro datado, ahistórico.
Mas um livro muito interessante porque aborda a economia (política) da maneira por que deve ser abordada e hoje tão deliberadamente esquecida.
- a economia como ciência social. “… é de todas as sciencias a que explica mais especialmente a physiologia e a organização da sociedade laboriosa, as necessidades dos homens, e os meios geraes de as satisfazer, os males do corpo social em relação ao trabalho, as causas d’estes males e os remédios, que se lhes podem applicar”.
- a sua universalidade, isto é, a sua necessária acessibilidade ou a desrazão de ser “reserva de saber" de privilegiados. “Há porém sciencias, que não exercem sobre os povos senão uma influência proporcionada ás luzes que elles tem, e que derivam toda a sua efficacia, não dos conhecimentos acccumulados em algumas cabeças excepcionaes, mas dos conhecimentos espalhados por todos os que tem uso da razão. Tais são a Moral, a Hygiene, a Economia política ou social, e a Política, nas nações em que os homens são livres. D’estas sciencias podia Bentham dizer: que tem mais merecimento quem as propaga do que tem quem as adianta” (citando F.Bastiat).
- O papel determinante das necessidades…. “O homem tem necessidades physicas, intellectuaes e moraes” (título do capítulo II); “Todas as necessidades augmentam com a civilisação”.
- … e da dinâmica social para as satisfazer. “O homem satisfaz suas necessidades por meio das riquezas, que produz directamente ou que procura indirectamente pela troca” (título do capítulo III); “A qualidade, que torna as cousas próprias para satisfazer as nossas necessidades chama-se utilidade. Esta utilidade é: natural ou produzida pelos homens. (…) O valor comprehende pois duas cousas: a utilidade e a trocabilidade, isto é, a propriedade de satisfazer alguma necessidade e a de se poder trocar.”
As mangas para que daria este pano…
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5 comentários:
Anda por aí uma moda que tudo o que é analista usuário/usurário de tempo de antena(anti-PCP)chama de "classe media" em crise.Procurando num dos meus livrinhos de cabeceira,-Pequeno dicionário de Economia,1974na letra C-nada me ensina sobre classe média na estrutura de classes do capitalismo.Como alguns amigos(?) de "esquerda moderna-PS/BE" bebem tais teses classe média acima,classe média abaixo, vejo-me em palpos de aranha (só tenho o curso industrial de 1961)para desmontar tal patranha.Como dria o Vladimir... Que Fazer?-Aguardo a saída do "50 anos de militancia e economia"-Grande Abraço!
Que comentário gratificante. Já ganhei o dia... que estava ganho!
Como é bom saber que valeu a pena o trabalho (e o gosto, e a aprendizagem) por detrás de uma edição como o peq.dic.ec. Pelo que diz e pelo que não diz...
Um grande abraço
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Abordarei o tema, claro
Benditas arrumações...
Não me canso de fazer aquela conta e de olhar com espanto para o resultado obtido: o Marx quando (com o Engels) escreveu o Manifesto, tinha... 30 anos!!!!
São tão belos os livros velhos! Cheios de rugas, cheios de sabedoria e de experiência...
Abenso(nh)adas arrumações....
O cheiro dos livros velhos é especial...
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