quinta-feira, julho 03, 2008

A reunião do CC do PCP no seu contexto

(continuação)
Os temas da reunião do CC do PCP não foram aqueles que a comunicação trouxe “a lume”. Nem tal seria de esperar. Até porque essa comunicação social não existe para informar sobre o PCP. Ou, tão-só, para informar a partir de "critérios de informação". Existe para outra coisas. A partir de outros critérios.
Os temas da reunião foram a gravidade da situação económica e social, foram a situação internacional, com destaque para o não irlandês, foi a vida e organização do Partido, foi a preparação do XVIIIº Congresso.
Que a situação económica e social é grave parece ser sentido por todos os portugueses, particularmente os trabalhadores mas também por todo o resto da população, nomeadamente os pequenos e médios agricultores e empresários. Só não a sentirão uma minoria de figuras (melhor se diria de “figurões”) que aumentam escandalosamente os seus réditos, em retribuição dos serviços que prestam às grandes empresas e grupos transnacionais.
Que o não irlandês tem uma consequência que se procura escamotear é incontroverso. Até para o presidente polaco… apesar de se pretender calar essa inevitabilidade cobrindo-a de batotas e expedientes.
Quanto à vida e organização do Partido e à preparação do XVIIIº Congresso muito ingénuo seria esperar que tais temas pudessem servir para outra coisa que não fosse para… desinformar, até se chegando ao ridículo de “recuperar” temas velhos e revelhos mas que se esperarão esquecidos, ou que, de tão repisados, passem por “novidade” e “verdade”.
Pelo meu lado, não resisto a referir 4 aspectos que, sobre a gravidade da situação económica e social, quis levar ao debate, com a intenção de reforçar argumentos que ajudem a transformar descontentamento e sofrimento e desespero em tomada de consciência e disposição de luta:
1. os salários não são só um custo para as empresas e o funcionamento da economia, a partir de critérios de competitividade, os salários são, sobretudo, o rendimento dos trabalhadores por venderem a sua força de trabalho;
2. o desemprego é, cada vez mais, o stock da mercadoria força de trabalho, variável estratégica do capitalismo;
3. a demencial escalada do crédito, para compensar os baixos salários face à promoção de tantas novas e algumas artificiais necessidades e de chamados produtos financeiros, está na origem de gravíssimas situações pessoais e familiares, algumas em vésperas de explosão;
4. o ataque à centenária conquista dos limites e regras dos horários de trabalho provoca inaceitável retrocesso civilizacional, humanitário, pois, como dizia Marx, sem o constrangimento das horas de trabalho se recua da exploração a partir dos mecanismos da compra da mercadoria força de trabalho e apropriação da mais-valia para o uso do homem e de todo o seu tempo de vida como força produtiva mercantil, isto é, escravo!

6 comentários:

Fernando Samuel disse...

Isso que dizes e que o CC debateu são coisas sérias, chatas, horrorosas e ainda por cima verdadeiras... o que está a dar é o paleio geral e, naturalmente, essa inevitabilidade que é o ataque ao PCP...
Abraço.

Anónimo disse...

Na minha opinião, este post (e o anterior), é uma grande achega ao curso de m-h que nos estás a dar.
O raciocínio está cada vez mais claro.

Obrigada

Campaniça

Anónimo disse...

-É natural que os media como representantes e porta vozes do verdadeiro PODER politico e económico. Dêem o tratamento que dão ás actividades do PCP. -O contrario é que seria de espantar e até de desconfiar.
O que não invalida e denuncia e o protesto de toda a malta de esquerda.
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"força de trabalho e apropriação da mais-valia para o uso do homem e de todo o seu tempo de vida como força produtiva mercantil, isto é, escravo!"
Bravo é isto mesmo "ESCRAVO" é isso que cada vez mais os trabalhadores se sentem. ESCRAVOS.
a ferreira

samuel disse...

Ó Sérgio
E essas coisas "sérias, chatas, horrorosas", como lhes chama o Fernando Samuel, davam alguma "manchete" de jeito? E no caso de darem... achas que os donos dos jornais iam gostar?

Maria disse...

Já sabemos que os media não falam do PCP, a não seu quando sai algum zé-ninguém que passa logo a VIP (ai, hoje estou mazinha). Porque haveriam os media de falar dessas coisas importantes para nós e para os trabalhadores, se os media são da capital? Não está tudo ligado?
Ou então não percebo nada....

Um abraço, daqui
(e um saravá, que estive na Casa do Jorge Amado!)

Sérgio Ribeiro disse...

Pois é isso tudo, amigos!
Abraços para cá e um saravá para lá (no largo do Pelourinho, n'é?!)