segunda-feira, novembro 07, 2011

Leituras de fim-de-semana (e não só...) - 1

Alguns amigos e camaradas, em mais de uma ocasião não escondem a irritação e o cansaço que lhes provoca a comunicação social e dizem não aguentar, mostrando alguma estranheza por se conseguir aguentar tanta infecta “informação”.
Compreendo-os muito bem, mas vou resistindo. Por vezes com surpresas não diria agradáveis mas reveladoras de que, por entre a poeira das palavras, o barulho dos sons (e das luzes), a espuma dos dias, há uns raios do sol da realidade que conseguem infiltrar, erupções do que são as raízes da vida.
Entretanto, e antes de voltar a esta maneira de pegar na questão da (in)formação em luta de classes, um pequeno intróito, que servirá, também e depois, para justificar  intercalações.
Neste caminhar pelo meio de todas estas veredas, umas leituras (voluntárias ou por tarefa) de Marx pelo meio são como que um mergulho em águas profundas, ou um lavar a cabeça por dentro e não só os cabelos…

Por exemplo:

«(… ) Onde isto aconteceu, o trabalho servil raramente brotou da servidão; inversamente, foi sim a servidão que na maioria dos casos brotou do trabalho servil. Aconteceu assimnas províncias romenas. (…) Segundo o Règlement organique – assim se chama aquele código de trabalho servil – cada camponês valáquio deve ao chamado proprietário fundiário, para além de uma massa de pormenorizadas contribuições em géneros: 1. doze dias de trabalho, em geral; 2. um dia de trabalho no campo; 3. Um dia de carregamento de lenha. Summa summarum, 14 dia no ano. (…) Nas palavras secas de autêntica ironia russa, o próprio Règlement explica assim que por 12 dias de trabalho se deve entender o produto de de um trabalho manual de 36 dias; por um dia de trabalho no campo, três dias, e por um dia de carregamento de lenha, igualmente o o triplo, Summa, 42 dias de trabalho servil. Acrescenta-se porém a chamada Jobagie, prestações de serviço devidas so senhor fundiário por necessidades extraordinárias de produção. Na proporção da magnitude da sua população, cada aldeia tem de fornecer anualmente um determinado contingente para a Jobagie. Este trabalho servil suplementar é avaliado em 14 dias para cada camponês valáquio. Assim o trabalho servil prescrito ascende anualmente a 56 dias de trabalho. (…)»

(O Capital, Livro Primeiro, Tomo I, 8º cap., O dia de trabalho,
pp. 270-1)

Assim, com este exemplo se mostra como o trabalho servil se pode ir aproximando, pela regulamentação positiva “bem aplicada”, em servidão.

1 comentário:

GR disse...

Cada dia que passa retrocedemos dezenas de anos!

Isto só mesmo á paulada.

BJS,

GR