Primeiro de Agosto, primeiro de inverno.
O dia quis corresponder ao provérbio. Esteve cinzento, chuvoso, invernoso.
Mas, pior que o clima meteorológico, foi o clima social.
Como alguma comunicação social sublinhou, este também pode ser chamado o 1º dia do inverno do nosso descontentamento, depois das "troivoadas" que sobre nós se abateram, ou estão a carregar o ambiente de nuvens de que tantos ainda não se aperceberam que cargas de água contém, que raios e coriscos transportam.
As tarifas dos transportes públicos postas hoje em prática são um sinal, e não são um sinal pequeno, são uma grande borbulha, uma enorme verruga.
Umas amostras:
- + 25,3% no passe simples (zona 1) na linha de Sintra
- + 15,2% nos passes L123
- + 16,0% nos passes Softlusa Barreiro-Terreiro do Paço
- + 20,0% no título T1 da STCP
- + 16,7% no bilhete (1 zona) do Metro de Lisboa
E vêm governantes falar, simultaneamente e com enorme descaro, de justiça social e de serviço público, e não falta quem sublinhe o nível das dívida das empresas públicas de transporte porque “a dívida” é a mãe de todos os males.
Mas, se é verdade que há que exigir racionalidade económica na gestão dos recursos, quaisquer que eles sejam, a avaliação dos serviços públicos não pode ser feita com base critérios de lucros e de dívida. Pela razão muito simples de que serviço público é um serviço que, no capitalismo, está fora da órbita do mercado, e tem de escapar à estrita contabilidade monetarizada (e com dinheiro artificial e crédito falso e falseado... tudo só negócio).
Que administradores e altos quadros de empresas de serviço público ganhem tanto (alguns muito mais que o PR), que só possam pôr o traseiro em estofos de carros de última gama, que passem por esses lugares em sinecuras ou trânsitos de/para lugares políticos e outros ainda melhor remunerados, que se metam em habilidosas operações especulativas, é escandaloso, por isso inaceitável. E a única coisa que gastos e dívidas com essa origem podem justificar não é a desvalorização ou anatematização do serviço público, nem o aumento desbragado do contributo que os utentes devem despender para terem direito... ao que têm direito!
E, já agora e com toda a pertinência: o que é isso de serviço público?, em que se distingue de uma mercadoria ou serviço em mercados onde se cruzam a oferta para multiplicar o capital-dinheiro e a procura daqueles que, com ela-mercadoria ou ele-serviço, satisfazem as suas necessidades, ou desejos que em necessidades foram tornadas?
Procurarei curtas respostas
(minhas, claro!… embora com “ajudas”, como sempre)
para estas perguntas tão actuais
e de tão urgente reflexão e debate.
3 comentários:
Acertámos no provérbio… quase.
No resto... como não estar de acordo?
Abraço.
Ontem, 1 de Agosto, não éramos milhões, mas o suficient para fazer parar o tânsito.Gostei da concentração. Teve entusiasmo e resultou muito bem. Depois vim para casa a pensar. A nossa força é muito, se paramos o trânsito numa artéria da cidade, podemos parar o País e alterar-lhe o rumo.
Por isso é urgente continuar a luta e usar toda a coragem e determinação.
Um beijo.
Samuel - São interessantes (e agradáveis) as "coincidências".
Há fundos histórico-culturais, referências comuns, que nos dão força, a força que é nossa. E há a realidade a ser a mesma e nossa. Um abraço
Graciete - Gostei de te ler. transmites a tua animação, confiança, entusiasmo. Porque a luta nos dá força. Que pode ter pequena expressão mas que pode ser um sinal da muita força que temos e que tantos desconhecem... mas descobrirão. Um beijo
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