sexta-feira, julho 11, 2008

Materialismo histórico - 12 (consciência social)

Para dar passos neste caminho, que – tal como no arquitecto, e não como na abelha – começou por ser esquematizado na minha cabeça, vou recorrendo a “materiais” que “tenho à mão” (isto não vos lembra nada?...). Para “aquele passo”, talvez Iline e Segal e as suas gravuras – mas onde é que está o raio do livro? –, para “aqueloutro”, talvez o dicionário das editions sociales – mas onde raio ele está? ...
Acontece que, para este passo, comecei por me socorrer de Economia Política, de Oskar Lange, e, depois de ter encontrado a edição portuguesa[1], por acaso tropecei na edição francesa que responsabilizo por muito da minha formação e onde me apoiei para as primeiras tentativas de contribuir para formação de outros[2].
Nela fui alertado para a necessidade de, no estudo de uma vertente da multímoda realidade, não nos acantonarmos. Nela aprendi a importância das relações sociais que não são relações económicas, cujo vínculo social se modela por intermédio de coisas–ser humano->coisa<-ser humano–, das relações que decorrem da acção directa e recíproca entre seres humanos.
São as relações sociais decorrentes, por exemplo, da vida familiar, de costumes e princípios morais existentes, de relações de vida em sociedade, em resumo. Os seres humanos estão conscientes dessas relações, da acção e influência que exercem uns sobre os outros mas, em contrapartida, não estão geralmente conscientes das relações económicas, das que têm as coisas por intermediário, e geralmente tomam-nas como relações com as coisas. Não se tem consciência que se troca tempo de trabalho por tempo de trabalho de outros, e julga-se que ele é trocado por dinheiro… e este por coisas.
Nos domínios e nos momentos em que os seres humanos tomam consciência das relações sociais nascem ideias (e ideologias), que representam a forma sob a qual se adquire essa consciência.
Designa-se por consciência social[3] o conjunto das ideias e das posições e atitudes psíquicas sociais.

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[1] - Prelo Editora, Biblioteca de Economia, nº 30, 1979
[2] - ... e a que estou ligado afectivamente pois foi oferta de colegas e camaradas, que comigo trabalhavam na Siderurgia Nacional… em 1962!
[3] - cada expressão, como se chegou a ela, diferentes e justificadas designações, dariam para largas considerações... dariam para semestres.

8 comentários:

samuel disse...

Agora ando mais animado com alguma (só alguma) da nossa malta nova, que parece ter descoberto a maravilha de trocar tempo apenas por tempo, ideias por ideias, amizade por amizade...
Não há muito tempo eu vivia no pesadelo de pensar que dentro de alguns anos já quase ninguém teria amigos, mas apenas "contactos", tal era a cegueira "yuppie", cegueira essa que foi um verdadeiro cemitério de ideias, desastre de que estamos ainda longe de recuperar.
Só se ganha verdadeira consciência social, "praticando" muito... digo eu!...

Abraço,
Belo texto!

Fernando Samuel disse...

E ganha a consciência social é fundamental dar o passo em frente...

«Onde é que está o raio do livro?»: como eu te compreendo...

Abraço amigo.

Maria disse...

Eu li, mas tenho que o reler amanhã, ou seja, daqui a bocado...
Até já.

Sérgio Ribeiro disse...

Que bom ter-vos aqui ao acordar para o dia!
E vamos à ginástica, Samuel.
Como eu te compreendo que me comprendas, Fernando Samuel (já hoje andei aí pela casa à procura da Viviane Forrester...).
Reler, Maria? Isso é que é consciência social (ou inconsciência?). Até já? Bela promessa!
Abraços

Maria disse...

Reler sim, porque a hora a que o li ontem já era tardia, e estava cansada.... e gosto de perceber tudo direitinho (ou esquerdinho...)
... é uma questão de consciência...

Abreijos

Justine disse...

É uma bela lição, a de hoje, cheia de exemplos práticos( o raio do livro, a última vez que o vi, estava naquela prateleira...) e de bibliografia, que também faz falta aos alunos aplicados que nós somos:))

Sérgio Ribeiro disse...

Com alunas destas só posso aprender!
Aliás, é essa a virtu(alidad)de do ofício de ensinar: aprender, aprender sempre.

Anónimo disse...

-Desculpe camarada Prof por ter chegado atrasado à aula.
“a importância das relações sociais que não são relações económicas, cujo vínculo social se modela por intermédio de coisas–ser humano->coisa<-ser humano–, das relações que decorrem da acção directa e recíproca entre seres humanos.
São as relações sociais decorrentes, por exemplo, da vida familiar, de costumes e princípios morais existentes, de relações de vida em sociedade, em resumo. Os seres humanos estão conscientes dessas relações, da acção e influência que exercem uns sobre os outros”


-Esta eu penso que entendi bem. -Pois vivi na pratica estas relações humanas a amizade e a solidariedade e também grandes “zaragatas” mas que logo passavam e voltava tudo ou normal pois situação assim o exigia. “Era assim nos antigos bairros operários a que chamávamos e chamamos “ ilhas” as pessoas ajudavam-se mutuamente cooperavam para poderem sobreviver trocando produtos e ideias acudindo ás desgraças do vizinho ou familiar fazendo com que a vida fosse menos difícil.
a.ferreira