Tenho "guardado" este post que, em 2010, me surpreendeu porque me apanhou desprevenido e muito agradecido por tannto me ter agradado a surpresa:
Abril 24 2010
"Não, o 25 de Abril de 1974 não me
apanhou como à grande maioria dos portugueses. Não foi a rádio
surpreendentemente transformada em Rádio Liberdade, depois de ter sido Grândola
o pontapé de saída; não foi o telefonema incrédulo de um amigo recebido
reticentemente e terminado com risos ou lágrimas ou abraços que o telefone pode
trocar; não foi o tropeçar, a caminho do trabalho, com a nova a correr de mão em
mão, com gente a sair para as ruas diferentes, transmutadas, a começarem o parto
de um país novo tendo a gravidez sido escondida ou disfarçada.
Na manhã do 25 de Abril de 1974
acordei na cela 44 de Caxias-Norte. Comecei nesse acordar mais um dia de prisão,
naquela fase em que parece que nos puseram de salmoura, preparando-nos para
interrogatórios, torturas e duras provas.
Como nas poucas manhãs anteriores, mas
cada vez com maior economia de tempo e esforço, reencontrei-me e localizei-me.
Sentia-me bem instalado, naquela cela com casa de banho acopulada, com duche e
tudo, uma mesa de pedra, um armário, uma bela vista sobre o Jamor e uma réstia
de Tejo. Que diferença relativamente a 1963 e 1964! Todas as manhãs me recordava
dos "curros" do Aljube e das "casamatas" que, ali perto, deviam ser um amontoado
de pedras húmidas, ratos e aranhas. E recordava também como. em Novembro de 1963
carregara os colchões dessas "casamatas" até estas celas, assim precariamente
inauguradas, para depois nos transferirem rapidamente para o reduto
Sul."
Sérgio Ribeiro "... porque vivi e
quero contar"
«(...) O
25 de Abril foi o meu “segundo nascimento”. Já muitas vezes o
disse e muitas vezes o repetirei.
Nascera, pela primeira vez…, em
Dezembro de 1935, já com a Constituição e o Estatuto do Trabalho Nacional
fascistas no berço, comecei a crescer no ano
da morte de Ricardo Reis[1], o ano da guerra
civil de Espanha, da revolta dos marinheiros, da abertura do Tarrafal, andei na
escola primária durante a guerra, fiz-me adulto na descoberta do que era o
fascismo e a vestir a pele da luta contra a opressão, a exploração, a guerra
colonial.
Na luta, percorri o caminho para
o 25 de Abril libertador, passo a passo no “rumo
à vitória”, caindo aqui, logo me levantando. Sempre me sabendo acompanhado.
Um no meio de muitos. (...)»
7 comentários:
Lindo texto de um herói sempre alinhado com o heróico coletivo.
Não foram só os militares que fizeram o 25 de Abril. Devemos-lhes muito. Mas tiveram sempre ao seu lado "muitos homens na prisão".
Um grande abraço.
São homens assim que transportam a esperança da humanidade.
A linha é a da frente,a batalha sempre a mesma.
Forte abraço,
mário
O burro do Cavaco despiu a albarda e tornou-se o mais recente deputado da maioria/merda cds/psd.Até dá vómitos ouvir a besta!
Aluta continua
Abraço
E de cabeça levantada continuarmos a caminhada!
Passar a noite de 24 de Abril em Estarreja sempre é melhor que na cadeia. Até sempre.
“E mais o lembro por parecer tão esquecido estar, ou mal contado. Involuntária ou deliberadamente.”
Durante vários meses procurei no youtube vídeos, onde teimosamente tentei encontrar o camarada Sérgio Ribeiro o militante Resistente, saindo da prisão fascista de Caxias.
Consegui! Este é um deles (http://www.youtube.com/watch?v=okiHjcc32rs&feature=email).
Esquecido? Nunca!
Mal contado? não há necessidade. Temos livros, net, sessões públicas onde nos dão como referência o teu exemplo de Militante, Lutador, Resistente.
Esquecido? Nunca!
Ainda esta semana (24 Abril) podemos constatar, num dos muitos jantares a que foste convidado (lembrado) para comemorar o 25 de Abril, o silêncio feito, aquando da tua intervenção. Estava a falar o Resistente, o militante comunista que saiu da prisão, em Abril 1974 com a Revolução e o silêncio fez-se, para te ouvir. Quando partiste para mais outra (das muitas comemorações a Abril), os amigos e camaradas de Estarreja estavam satisfeitos, orgulhosos por terem tido a oportunidade de conviver com o (seu) camarada Sérgio Ribeiro. Eu, como eles, como muitos, tentamos seguir o teu exemplo, és para nós “um exemplo” a seguir.
Sim, há mais bons exemplos e muitos. Mas é de ti que agora falo com orgulho e ser uma privilegiada por te conhecer e nunca me esquecer.
Obrigada camarada por teres lutado pela nossa Liberdade.
GR
Hoje foi dia 25 de Abril, só não o viveu quem não esteve para aí virado.
Um cravo
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