sexta-feira, abril 02, 2010

Underground - Kusturika

Não sei se é defeito, se é feitio. Fico a pensar nas coisas...
Depois de vir de Ourém, de ter deixado, impressionado (isto é, sob o efeito de impressões...), umas linhas e três frases que queria passar ao papel (maneira de dizer...), fui dormir. E pensar. E o comentário que agora encontro na mensagem pôs-me de novo à escrita.
O filme é muito longo, será mesmo demasiado longo. Será? (ou eram as cadeiras que não são para quase 3 horas de assento?). Nalgumas passagens, irritei-me e disse cá para mim "... não, não é assim que se devem tratar coisas tão sérias!». Se calhar não é, mas foi. E foi eficaz quanto ao que presumo - presumidamente... - ter sido a intenção de Kusturika-nascido-em 1954-adulto nos anos 80/90, dada a sua formação e vivências (que o formaram) que o levaram a assim contar a história de um País que é o seu e que deixou de existir. Porque foi assim que aconteceu. Ou que ele viu que devia contar o que aconteceu.
Uma história da Iugoslávia, o país que foi e que deixou de ser, entre 1941 e 1995, com as tabuletas a indicar caminhos para e de Atenas, Berlim, e outras cidades, sempre presentes nos esgotos e subterrâneos (e o que não era subterrâneo, e o que não era no filme o 3º Homem em Viena e nos esgotos de Viena?).
O filme é a Iugoslávia entre quarenta e um e noventa e pouco. Mas também é o já antes, antes de ser o país unificado, é o que foi aquele pedaço da Europa sempre nos entroncamentos da História. A contar, daquela maneira, como nos tropeços da História se avança e se recua, por acção dos homens e das mulheres, como são/somos no tempo em que somos.
«... não, não é assim que se devem tratar coisas tão sérias!»? Mas é! Porque foi a maneira de Kusturika nos contar a história daquele país (o seu, em que cresceu, com os seus pais e os seus avós), e que já não é porque nós somos assim, ou deixamos que sejamos assim. Enquanto. Foi a sua maneira de nos dizer que a guerra não tem nenhum sentido e tem todo o sentido e só é mesmo guerra quando os irmãos (não o seremos todos?) se entre-matam amando-se mas deixando que outras coisas se sobreponham ao amor, à fraternidade que não morre quando os irmãos se matam. Foi a maneira de deixar gelados (a mim deixou) o sorriso e o riso que nos foi despertando ao longo do filme. E a fazer pensar.
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Esta história não tem fim! Muito menos este. Talvez aquele. Aquele começo que é o de uma jangada de pedra «à Saramago»!

8 comentários:

Fel de cão disse...

Quando ontem lia o NO confesso que li duas vezes a notícia (não queria acreditar que iam dedicar umas noites a "passar" filmes de Emir Kusturika).É uma iniciativa de louvar e que me surpreende pela positiva.Os mentores e "operadores" da iniciativa, e a cidade de Ourém,estão de parabéns.Bem hajam por isso.

betinha disse...

Será uma estranha forma de abordar um tema tão sério, é bem verdade. Mas confesso que quando vi o filme pela primeira vez (já há uns bons anos) tive imensa curiosidade de saber mais sobre a Iuguslávia e o seu povo.
Além disso gosto muito daquele cinema meio "non sense" e que no entanto tem a capacidade de nos deixar a pensar.
E a música? Adoro a música Kusturica & No smoking Orchestra!!

GR disse...

Os filmes de Kusturika não nos deixam indiferentes, entre os momentos de humor é bem explícita a mágoa, a desorientação, o horror da guerra. A guerra que Kusturika sentiu e sente e não quer que ninguém a esqueça.
Tive dificuldade em começar a ver o filme deste realizador.
Underground um filme que por vezes perturba, como todos do Kusturika.

Um BJ mt Grande,

GR

Graciete Rietsch disse...

Suponho que vi o filme porque já vi vários filmes de KUSTURIKA,mas não me lembro de nada. Ai a minha cabeça que tem que começar a ser reciclada!!!

Um beijo.

Sérgio Ribeiro disse...

Fel de cão -... mas não apareceste! Assim não ajudas os «mentores e "operadores" da iniciativa»... Estou (meioa9 a brincar. Um abraço.
betinha - pois é, «meio "non sense" mas cheio de sentido(s)!
Que nos deixa a pensar. Nota-se? Beijos
GR - Olá, grande Amiga. Que bom ter-te "cá por casa". Como éque isso vai? Beijos
Graciete - Que bom que seria se tantas cabeças se reciclassem pela tua! Isso das coisas que não se lembram vem com os anos... que trazem coisa demais para lembrar!
Beijos

Fel de cão disse...

Mereço cartão vermelho.O já conhecer os filmes (Não vi Maradona),o Benfica na TV, as quase 3 horas de filme, não justificam a falta.Imperdoável!

Sérgio Ribeiro disse...

Quais perdão?
Perdoadíssimo (por esta!), meu caro.

Um abraço

Justine disse...

Excelente crítica - ou comentário, ou opinião, ou impresão, ou...mas excelente!