Certidão de existência
(para informação da jornalista Clara Ferreira Alves)
Os factos – No regresso ferroviário de mais uma actividade de in/formação
(auto e altero) em que me comprazo há já muitas décadas – esta, na Universidade
Popular do Porto –, continuava a minha indispensável actualização solitária a
ler o semanário Expresso, quando tropecei na Revista cuja capa me
atirou para prioritária leitura da entrevista com o meu colega João Ferreira do
Amaral. Tropeço foi esse que em tropeção se tornou quando, após o introito, a
entrevistadora põe o que seria a primeira pergunta, que pergunta não foi mas a
afirmação de que “subitamente, passou de ser o idiota da aldeia para ser
o homem do momento”. E o tropeção foi tal que, embora não me tenha impedido
de ler o resto, terá sido gota que extravasou o copo ou, em expressão erudita,
o pequeno salto que mudou a quantidade de silenciosa resignação em qualitativo
sobressalto de indignação que me obriga a esta:
CERTIDÃO
DE EXISTÊNCIA
Eu, Sérgio Ribeiro, cidadão português com cartão que o comprova, que
tomou Partido há 54 anos, vem, por esta via, certificar que existe, e informar
ou lembrar
- que, enquanto na tarefa de deputado no Parlamento Europeu, votou
contra o Tratado de Maastrich
- que, na sequência da aprovação deste, integrou a comissão monetária
encarregada de criar a União Económica e Monetária e respectivos instrumento
(moeda única) e instituição (BCE)
- que, nessa situação, publicou muito comentário adrede julgado
oportuno, inclusive um livro (em 1994, Décadas
de EUropa, de que se anexa fotocópia de capa e dois gráficos)
- que, em 1997, publicou um outro livro, formado por 40 fichas que
serviam de fundamentação técnica e argumentos políticos para um Não à Moeda
Única (cuja fotocópia de capa se junta)
- que, no dia 2 de Maio de 1998, fez uma declaração de voto, no
Parlamento Europeu, sequente à votação da criação do euro nessa instância, que
se reproduz em anexo, e com fundamentação que se vê hoje reproduzida como se
original (e “descoberta”) fosse… para passar adiante sobre o pretendido insulto
de “idiota da aldeia” de que JFAmaral é redimido, mas que a outros se
colou como etiqueta ou tatuagem
- que, desde então, tem procurado dar a conhecer as posições tomadas,
acompanhar e contribuir para minorar as consequências da decisão contra a qual
votou, como parte de um colectivo, em múltiplas acções de informação e
esclarecimento, nunca na postura balofa e emplumada de “veem como tínhamos
razão”.
Razão de ser (da certidão)
- No regresso do Porto, guardava uma citação que lá fizera [de Mestre Armando
Castro (1918-1999)] a lembrar a frase que Mark Twain (1835-1910) atribuíra a
Benjamin Disraeli (1804-1881) “há três espécies de mentiras – as mentiras
simples, as mentiras maliciosas e as estatísticas” e, na viagem, juntei uma
quarta espécie: as mentiras do apagamento da verdade.
O
cordão sanitário relativamente às posições e argumentos do PCP, e de quem com
ele seja conotado, combate-se com a luta, mas pode ter contornos pessoais que
levam ao grito individual. Aqui fica este, que não pretende ser tão-só
individual mas reagir a esse silêncio e menosprezo anatematizador que a
entrevista publicada ilustra, e leva ao paroxismo quando subentende
subliminarmente que, a acompanhar JFA, estiveram “economistas americanos
importantes”… enquanto cá pela aldeia teria sido o “idiota” isolado e
recuperável.
Na
entrada da escola minha e do colega João Ferreira do Amaral (por quem tenho
muito respeito… e discordâncias), Bento de Jesus Caraça diz-nos que não
se deve temer o erro se se está pronto a corrigi-lo.
Parafraseio
dizendo que se pode aceitar o silêncio de quem ignora, mas deve repudiar-se a
persistência do silêncio intencional de quem está (ou deve estar)
informado.
certitfico-me,
logo, existo!
3 comentários:
Excelente texto. Necessária denúncia!
A Clara é "fantástica"!!! :-) :-)
Um abraço "idiota".
Pois,mas para os/as "jornalistas",ao servico das empresas de comunicacao,as posicoes tomadas pelos comunistas nao sao para ter em conta.Como dizia o Salazarinho:Nao se fala deles,logo nao existem.
Um beijo
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