Já com o repasto a aproximar-se do fim, a entrevistadora teve um ligeiro sobressalto.
A refeição-conversa correra bem, o gravador devia estar cheio e, segundo o transcrito, o entrevistado dissera coisas importantes e interessantes da sua área profissional, sem sair do seu confinamamento político-ideológico, salvo numa resumida resposta de definição em discurso directo: "Sou de esquerda. A minha área é essa, social-democracia. Mas nos anos 90 cometeram um erro colossal, ficaram cheios de complexos com a União Soviética", sem que quem conduzia a entrevista - a entrevistadora, claro - quisesse estragar a refeição com o pedido de explicitações sobre qual o entendimento de "ser de esquerda" e sobre quem cometera o "erro colossal" - os sociais-democratas e/ou os social-democratizáveis?! - e se teria sido erro ou a inevitável postura de (não) ser de esquerda da social-democracia quando se julga poder e por estar ao serviço do real poder...
Adiante... regresse-se à "questão de moral" que aqui me trouxe e ao sobressalto que a motivou.
Quase no final transcrito das (repito) interessantes e importantes coisas ditas no âmbito da profissão de professor de economia do entrevistado, saltou uma pequena pergunta "Isso não é antidemocrático?", o que não atrapalhou o emérito e sério técnico mas também conhecedor (ao que parece...) dos meandros pouco sérios de áreas confinantes: "Admito que possa vir a ser votado. Pode haver uma sessão parlamentar, à noite da véspera de um feriado (...)" e passou à frente. Estaria salvaguardada a demo cracia e a entrevistadora poderia pedir a conta quase logo a seguir, após um pósfácio prandial em que se sentou à mesa o "pai da democracia". Desta! O dr. Mário Soares, que almoçara numa mesa próxima do restaurante com vista larga sobre o Tejo.
2 comentários:
O pai de quem?!...
Desta!... que sofremos.
Pelo menos, é assim que lhe chamam, e eu acho muito bem porque será o maior responsável (um dos maiores é)pelo estado em que estamos. É a demo cra cia.
Um abraço forte
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