de dias de agora:
(...) depois, li melhor os três últimos parágrafos e, sem nada retirar ao grande prazer (dorido) que me deu todo o testemunho do Borges Coelho na Seara Nova, um testemunho comovente (é o termo certo), e esses três últimos parágrafos fizeram-me (re)pensar e perceber, ou perceber melhor... mais ao fundo, algumas coisas verdadeiramente importantes… sobre (a partir do) Álvaro Cunhal e do Borges Coelho.
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No antepenúltimo parágrafo, por exemplo(s), sobre a “prática socrática e cartesiana da dúvida para atingir a verdade” com que BC teria interpelado AC (“falei ao Álvaro na…”),
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e que este não teria posto em causa, mas a que teria respondido que “as dúvidas não o atormentavam”.
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Desde logo, considero haver uma enorme diferença entre “a prática socrática e cartesiana da dúvida” (metódica, sistemática) e “aS dúvidaS”,
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e não pôr em causa aquela prática – “para atingir a verdade” (!)… – em nada contradiz não se ser atormentado por dúvidas ao percorrer um caminho traçado.
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Porque quem conscientemente traça um caminho, decerto o faz a partir das certezas do momento em que o traça, e estas não têm de ser postas em causa pelas dúvidas que o irão assaltando (e atormentando), embora o possam perturbar se, tomando o lugar de algumas certezas, forem dúvida sistemática e sobre tudo.
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Ora Álvaro afirma, desde muito novo, as suas certezas e… que, para além delas, tem dúvidas.
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O seu artigo, de 1939, "um problema de consciência", para O Diabo, é muito esclarecedor.
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AC tem a certeza, com outras resultantes da sua “leitura da História”, de que a sua existência é efémera (dizia Cesário Verde “se eu não morresse, nunca…”), que a História é um fluir em que cada um intervém, influencia, e ele escolhe, em consciência, o sentido que quer que essa influência tenha., não angustiado pelo que já teria feito (e pelas dúvidas) mas determinado pelas certezas para viver o tempo que ainda possa ter de vida.
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Parece-nos excessivo, ou abusivo, que, pelo facto das dúvidas não atormentarem quem tem um caminho traçado, isso possa levar à interpretação de que esse caminho é inflexível, inalterável.
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E não ter dúvida quanto ao fim e quanto ao fluir da História nunca autorizará concluir que não se tem duvidaS quanto ao(s) modo(s) e ao(s) tempo(s).
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Aliás, e porque é reincidente, esta “subtileza gramatical” do singular e dos plurais suscita a abertura de um parêntese para a questão das liberdades e da liberdade, cujo “reino” só se poderá alcançar depois de ultrapassado o “reino da necessidade”… por mais liberdades que se vão conquistando, e independentemente da evolução das necessidades.
(...)
2 comentários:
Creio que as dúvidas só assaltam quem é intrinsecamente honesto, o que é o caso de quem escreveu, de quem leu e de quem é citado...
Excelente post!
Dúvidas existirão sempre dada a rapidez com que a sociedade se modifica. Mas certezas quanto ao objetivo a alcançar creio que devem existir. Quanto à liberdade plena, plena, concordo que só é possível quando todas as necessidades estiverem satisfeitas. Só que estas também mudam com a evolução e o progresso. Portanto penso eu "de que"o conceito de liberdade terá que se ir adaptando.
Mas isto são apenas algumas reflexões que me surgiram depois da leitura do post. Valem apenas como uma ideiazinha que surge com muitas dúvidas, evidentemente.
Um abraço de muita amizade e consideração, sem dúvida nenhuma.
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