domingo, outubro 03, 2010

Portugal a Produzir

Em tempos, lia Miguel Sousa Tavares. Não porque concordasse com as suas análises (ah! se só lessemos aquelas opiniões com que concordamos...), mas porque me parecia que valia a pena. Depois, desisti de ler aquela prosa petulante e pesporrenta.
Hoje, ao pequeno-almoço, chamaram-me, companheiramente, a atenção para dois períodos da página que MST preenche, semana a semana.
No começo da segunda coluna, escreve ele
«Porém, isso não desculpa José Sócrates. No espectáculo quase indecoroso do debate parlamentar de quinta-feira (excepção: Francisco Louçã, o único preparado e assertivo)...»
e quase no final da terceira coluna (com gravura a preencher duas colunas) escreve ele
«Eu gostei de ouvir Jerónimo de Sousa dizer que o Governo tinha cedido à chantagem dos mercados internacionais (...) Gostei de o ouvir dizer que a alternativa era aumentar a produção e a riqueza: também acho, mas, excluindo a hipótese de querer aumentar os horários de trabalho, e excluindo o aumento da produção dos nossos poços de petróleo e das nossas minas de ouro, não vejo como é que isso se consegue fazer rapidamente, num país onde toda a riqueza produzida é ultrapassada sistematicamente pelos gastos do Estado.»
.
1. Não me detenho no sublinhar da contraditória avaliação do que é preparação e do que é assertivo. É problema de falta de revisão do que se escreveu...
2. Aumentar horários de trabalho aumentaria a produção? E outra organização do trabalho? e menor ou nenhum desemprego?
3. Se MST ouvisse alguém ou alguma coisa além de MST e do que MST gosta de ouvir, dir-lhe-ia (mas não é para ele que escrevo!) que a questão deve ser exactamente colocada ao contrário: é porque o Estado gasta pouco - e cada vez menos bem -, que a nossa produção é sistematicamente ultrapassada por aquilo em que o Estado gasta muito - e cada vez mais pior. E é isso que tem de ser invertido. E é essa a alternativa.
4. E é por isso que o PCP - muito preparada e assertivamente - lançou a sua campanha Portugal a Produzir (não a explorar poços de petróleos ou voltando ao "ouro do Brasil", hoje na fórmula dos dinheiros fictícios do BCE de Frankfurt).

6 comentários:

Justine disse...

É isso mesmo - mas ninguém (ou muito poucos)te ouve!

Mário disse...

Sérgio,

Não posso deixar de não estar de acordo com o Miguel, como invariávelmente. Porém, ainda que pugnar pelo pleno emprego seja uma bandeira que me sustenta o braço, tão pouco creio que seja essa a forma única e mais ajustada ao objectivo de criação de riqueza:

Em linha com o que critícas, como fazêmos o PCP, o mau ivestimento, é por aí que se poderão - na minha opinião - transformar as condições de vida dos Portugueses.
O investimento na infra-estructura deve ser prioridade, mas, assim na super-estructura, ainda que, para dotar de tecnologia; para criar núcleos de investigação e desenvolvimento, o necessário começa por ser a assunção da necessidade e a implementação de uma estratégia política a longo prazo. A identificação do potencial do país que somos, a colocação do mesmo no contexto global, a implementação de programas académicos coerêntes com o a idiossincracia local ou regional Portuguesa nesse paradigma. A planificação da produção alimentar observando a nossa soberania com base na diversidade do tecido productivo, a aposta pela inovação, exclusividade e especialização, algo do qual já tivémos exemplos no passado (um país pequeno que só foi grande quando investiu neste primados, exemplo da vela latina; sextante; carta de marear), são sem dúvida soluções a considerar.

Um destes dias, numa comissão parlamentar, vi um jovem deputado reclamar mais três minutos de intervenção porque a força política anterior também se tinha extra-limitado no seu tempo esses três minutos. Um revolucionário, como sinal da incorporação da sua condição e sendo este apenas um exemplo mínimo, teria reclamado falar o que necessitara, 3, 5, 10 minutos mais, determinando ele o tempo, excesso que, históricamente, quem mediava as intervenções havia mostrado ser aceite.

Não seria de base, mixta, a transformação a defender?


Abraço

Graciete Rietsch disse...

Eu ouço, aprendo , concordo e procuro transmitir.
Oxalá todos ouvissem.
Mas os MST têm grande visibilidade.
Um beijo.

Fernando Samuel disse...

Lá estás tu com essas coisas: assim, só mostras que não estás preparado nem és assertivo...

um abraço.

Mário disse...

Não é hábito vir a casa de outrém discursar de maneira infantil tentando opôr opiniões a outras com as que nesses sitios posso discordar, menos, quando de o fazer fosse a primeira vez. Neste particular, não estou de acordo com o Fernando Samuel: se alguém protagonizou um apartado da vida política no nosso país mostrando extraordinária preparação, diga o mst o que quiser, foi o Sérgio Ribeiro.

Valha ser livre, dentro da liberdade.

Abraço

GR disse...

O problema é que o eleitorado vai atrás dos analistas do sistema (pagos a peso de ouro).
Estamos atravessar um dos piores momentos. O que mais me assusta é a população; desacreditada, cansada, cheia de medo (pelas dívidas, desemprego, fome), a incerteza no futuro é total.
Não é simples contornar esta situação, mas possível!
A alternativa é o, PCP!

Bjs,

GR