quinta-feira, junho 10, 2010

Brevíssima nota

A "graça" de ontem, de ter deixado um post para sair à hora em que estava a participar numa tertúlia sobre direitos humanos, deu azo a alguns comentários que, de certo modo, me obrigam a vir dizer como correu a iniciativa.
Conversar aqui sobre o que se conversou ali seria muito interessante, e o facto é que trouxe muito... trabalho para casa.
Uma sala cheia, um ambiente muito agradável, uma recepção simpática e estimulante para o "orador convidado" que era eu... e fiquei pouco à vontade com a designação. "Orador convidado", eu?...
Bom... à volta do, ou a começar pelo, comentário ao livro (e ao filme) "O rapaz do pijama às riscas" conversou-se de forma animada, viva, com a auto-crítica do "orador convidado" ter falado demais! E, às vezes, "ao lado"...
Mas foi uma noite muito bem passada.
Regressei a casa, e aqui, enriquecido pela conversa que houve, com esse "trabalho para casa" que me agrada sempre trazer e de que deixo uma pista:
  • háverá sempre judeus e nazis, ou católicos e protestantes (o autor de "O rapaz do pijama às riscas", o John Boyne, é irlandês e está ainda na casa dos trinta anos), ou bósnios e sérvios, ou brancos e pretos, ou atouguienses e "da "vila velha", ou homens e mulheres, ou lampiões e lagartos (ou dragões), ou sionistas e árabes, ou coreanos que são do sul e coreanos que são do norte, ou uns que querem explorar outros e outros que o sabem e não querem ser explorados, e por aí fora
  • haverá sempre eu (ou nós) e o outro (ou outros, ou outras)
  • mas também há declarações - solenes e verdadeiras - de que "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos, que dotados de razão e de consciência, devem agir para com os outros em espírito de fraternidade".
  • então... porque não?
  • porque os seres humanos também nascem diferentes, e diferentes são as circunstâncias em que nascem e crescem, circunstâncias que, ao longo da vida, além de confirmarem que diferentes somos, acirram as diferenças, e destas há uns que querem tirar vantagens pessoais ou de grupo, egoístas, ignorando as declarações solenes que alguns desses mesmos até assinaram, fazendo figas atrás das costas.
Iguais e diferentes, diferentes e iguais!
A luta dos seres que humanos são e querem viver num futuro de humanos seres é pelo não apagamento da razão, é pelo despertar e enraizar de consciências. É agir e lutar para que uns para com os outros se aja em espírito de fraternidade.
Fácil de dizer? Difícil a luta! Mas imprescindível e cada vez mais urgente.
Imprescindível, urgente, vital. É que estamos a correr tantos riscos!
Leia-se o artigo de ontem de Fidel Castro, no limiar da tragédia. Até começa por nos falar do campeonato de mundo de futebol... mas é muito, muito sério!

4 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Li o artigo de FIDEL. Notável e encorajador para a nossa luta,que cada vez mais é necessária e urgente.Gostei também muito do que escreveste,camarada.

Um beijoi.

poesianopopular disse...

Camarada Sérgio!
Penso que o problema está; no acreditar!
Eu acredito, tu acreditas!
Ele acredita?
O que é preciso fazer para que ele/s (o/s outro/s acredite/m?
Decerto não será - só paciência, tambem tem de haver capacidade - contamos contigo!
abraço

GR disse...

Já vi (hoje) o filme, vou comprar amanhã (!) o livro.
Gostei. A amizade cheia de inocência e adversidade, num dos piores momentos da História da Humanidade, a 2ªG. G. Mundial. O final é o que dá coerência o filme.
Como gostaria de ter assistido ao (teu) debate.
Sobre Fidel,
Uma análise muito lúcida.
O alerta que Fidel nos dá é muito inquietante. Porém, mais importante o Mundial de Futebol que outra crise ou guerra. Não é só no nosso país que eles injectam futebol, a verdadeira pandemia que poucos estão livres dela.
Viva FIDEL!

Bjs,

GR

João Valente Aguiar disse...

Só vi o filme e gostei. Não é um filme brilhante mas é bastante expressivo da desumanidade do sistema nazi. É igualmente expressivo de como é possível um sistema criar indivíduos que têm vidas privadas relativamente "normais" e serem profundamente irracionais e assassinos relativamente àqueles que os nazis chamavam de "animais".

Mesmo hoje o sistema capitalista vive desta tensão na vida quotidiana (além da dinâmica da acumulação de capital): ou seja, os capitalistas e seus servidores são capazes de se comportarem relativamente bem em relação aos seus filhos e família, mas a moralidade imputada pelo sistema impede-os de ver os trabalhadores e os povos como seres humanos. Para os capitalistas, os trabalhadores são apenas recursos para explorarem e, quando desnecessários, para deitarem ao lixo. Para os capitalistas, os povos só servem se estiverem disponíveis para serem explorados e viverem na miséria. Se se revoltam, então a barbárie e o genocídio são permitidos e elogiados pela classe dominante (Iraque, Palestina, Colômbia, etc., etc., etc.).

Esta lógica moral perversa - que não tem uma origem moral em si mesma mas na estrutura do próprio sistema, na consideração de que tudo é mercadoria portadora de valor - alicerça o "pensar" burguês, a visão do mundo inumana do capital.

É desta visão de que as pessoas, nomeadamente os trabalhadores, só interessam enquanto valorizarem o capital que hoje decorre boa parte dos ataques violentos protagonizados nos PEC's e afins. O que a burguesia quer é amordaçar ainda mais os trabalhadores, retirar direitos, baixar a massa salarial, criar dificuldades à organização colectiva dos trabalhadores e das suas vanguardas políticas e sindicais.

Face a este contexto difícil e até assustador não tenhamos dúvidas que só temos uma resposta a dar: a resposta da luta e da alegria. A luta que, no curto prazo, se efectivará nos dias 17 a 19 (Lisboa, Évora e Porto) deste mês com iniciativas de rua do PCP e a dia 8 de Julho com greves sectoriais e concentrações regionais promovidas pela CGTP. Só pelo reforço da luta poderão os povos e os trabalhadores mudar a sua vida, porque esta só mudará com a mudança de sociedade.

Um abraço camarada e desculpa o comentário exageradamente longo