sexta-feira, junho 04, 2010

O que a linguagem revela (ou não esconde…)

Ninguém pode pôr em causa que as palavras têm um sentido. Por vezes mais que um…
Ninguém nega que as palavras são (ou se tornaram) conceitos e são reveladores ideológicos. Por vezes mostrando o que se esconderia se se usassem outras palavras.
Tínhamos serviços públicos, que era como que uma área de reserva em que as actividades não eram motivadas pela procura de lucro, pelo objectivo de acumulação do capital. Até no fascismo era assim. Tratava-se da educação, da saúde, das comunicações, mormente dos correios.
Com o avanço do capitalismo, começou a fazer-se a distinção entre público e privado noutros termos para que o privado invadisse o que, sendo público, pudesse dar lucro, servir para acumular capital. Nestes termos, e com tradução em palavras, passou a falar-se e a escrever-se sobre serviços de interesse geral e acessibilidades.
Quer dizer, essas actividades mantinham-se como sendo de interesse geral mas o privado impunha nelas as suas regras e delas retirava o que o move. No entant, os cidadãos guardavam o direito de aceder a serviços através das acessibilidades que o Estado asseguraria, compensando os privados de lucros não realizados.
Entretanto, a palavra cidadão foi sendo substituída pela palavra utentes, isto é, os que, através das acessibilidades, acediam aos serviços de interesse geral. Pouca dura teve tal prática e terminologia. As acessibilidades, ou não se concretizaram como previamente asseguradas – por palavras ditas e por não feitos –, ou também se tornaram actividades privadas, com todas as decorrências, o que quer dizer que também deixaram de ser um direito mas uma “mercadoria” que é preciso comprar por forma a dar lucro.
Claro que as palavras tiveram de se adaptar às práticas, e os cidadãos deixaram de ser utentes para passarem, progressivamente (é como quem diz…) a ser clientes. Clientes da educação, da saúde, das comunicações.
Mas o que continuamos todos a ser é fregueses, no sentido de habitantes e eleitores de Juntas de Freguesia, e de Câmaras Municipais, e da Assembleia da República, e do Parlamento Europeu, e do Presidente da República. Cujas eleições se começam a aproximar dos fregueses que nós somos…
Com as políticas de direita é este o direito que resta aos clientes, isto é, aos fregueses!

6 comentários:

Anónimo disse...

e porque razão os trabalhadores passaram a chmar-se colaboradores?

Pata Negra disse...

Tudo isto tem fim no princípio do "utilizador-pagador". E já agora, se o estado serve apenas para servir os seus decisores, que se acabe com o estado!
Um abraço a brincar mas preocupado com a brincadeira
"Tirem os brinquedos a esses rapazes!"

Graciete Rietsch disse...

Quer dizer passamos a ser fregueses pagadores com mais ou menos acessibilidades conforme as parcerias publido-privadas o entenderem.
Será que comprendi bem?
Um beijo.

Antuã disse...

E se este caminho se continua a trilhar não seremos cidadãos, nem utentes, nem clientes, mas escravos...

poesianopopular disse...

E quando acordarmos será tarde!
Abraço

aferreira disse...

- Um dia destes acordamos servos da gleba dum qualquer senhor com um qualquer Título nobiliárquico tipo Don ladrão/investidor/especulador etc $ Tal....

-A História não se repete mas que existem coincidências ...lá isso existem.