sexta-feira, junho 11, 2010

Diálogo de exilados - Brecht

Continuo a ler, saboreando, Dialogues d'exilés, de Bertolt Brecht. E traduzindo pedaços para melhor saborear.
São dois alemães, fugidos do seu país, durante a 2ª guerra mundial, que conversam num bar de uma gare ferroviária. Sobre... tudo.
Na Cena VII é sobre cultura que falam.

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Kalle

Mas houve, na verdade, algum acontecimento concreto que o tivesse decidido a partir? Nas memórias que me tem lido você não fala disso. Apenas se sente uma certa repugnância em ficar.

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Ziffel

Não fiz, ainda, alusão a umacontecimento preciso porque essa incidente não tem uma dimensão geral. No nosso instituto, havia um assistente incapaz de distinguir um protão de um neutrão. Convencido que era a judeiização do sistema que lhe impedia a carreira de cientista aderiu ao partido. Uma vez, tive que lhe corrigir um dos seus trabalhos e ele descobriu que eu não tinha lugar na revolução nacional: eu perseguia-o porque ele ele militante desse como-é-que-lhe-hei-de-chamar? Foi assim que a minha estadia na Alemanha se tornou problemática quando esse como-é-que-lhe-hei-de-chamar? tomou o poder. Por natureza, sou incapaz de me entregar, sem reservas, a grandes sentimentos: não estou à altura de um Chefe (Führer) enérgico. Nessas épocas de grandeza, épicas, gente como eu perturba a harmonia geral. Soube que se construiam campos para lá meter gente como eu, assim nos defendendo da cólera do povo; mas esses campos não me seduziam...

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Kalle

Quer você dizer que, na sua opinião, você não era era suficientemente culto para aquele país?

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Ziffel

De facto, estava longe de ser suficientemente culto para continuar a levar uma existência de homem no meio de tudo aquilo. Chamem a isso fraqueza, se quiserem, mas não sou suficientemente humano para continuar a ser homem face a um excesso de desumanidade.

(...)

1 comentário:

Graciete Rietsch disse...

Temos que ser suficientemente humanos para podermos destruir tanta desumanidade.

Um beijo e obrigada pois a leitura dos teus "post" ensina-me muito.
E aprender,aprender sempre ,é a máxima que eu sigo e procurei incutir nos meus alunos e também na juventude que me está ou esteve mais próxima.