Anda a falar-se muito desta possibilidade. A propósito (ou a despropósito) da Grécia, da Islândia, da Irlanda, da Espanha, de Portugal e outros... dos PIIGS.
Mas pode um País, um Estado, isto é, uma Nação politicamente organizada, ir à falência?
Só o diz, ou insinua, ou avisa, solene e solerte, quem (uns falaciosamente, outros inocentemente) assemelha ou assimila Estado a empresa, e reduz toda a actividade a empreendedorismo, esse neologismo execrável que, ao fim ao cabo, quer dizer (quando não o explicita…) que tudo tem de mexer e de se avaliar pelo único critério do investimento do capital-dinheiro próprio ou alheio (por crédito bancário por vias e a taxas de juro variáveis) e da sua reprodução e acumulação.
Um Estado não é uma empresa grande!
Um Estado não vai à falência por ter dificuldades resultantes dos caminhos e das gestões/administrações públicas que foram sendo tomadas por si, em seu nome. Tem, ou pode ter, défices, como antes de todos, i) o alimentar se os seus residentes tiverem de recorrer a recursos externos primários ou destes derivados por os próprios serem escassos ou mal/in-aproveitados ou exportados, ii) o da balança comercial, por cobertura desse défice alimentar, e outros, através de importações superiores às exportações, iii) o do orçamento, por o Estado estar a ter despesas a mais (e quais?) e receitas a menos (e porquê?), iv) o défice/dívida pública, por, em resultado de todas as contas, o Estado ter dever mais do que tem a haver.
Então, e se o que existe nos "cofres do Estado", como ouro, divisas, o que for e para os cofres se possa fazer entrar sob essas formas, não chegar para cobrir a dívida, não está falido? Em hermenêutica empresarial estaria, porque esse seria o seu património, o seu activo. Mas o "activo", o "património" de um Estado, é muito mais e diferente do que está nos "cofres do Estado" e coisas avulsas (como empresas públicas) que, vendidas, nele possam entrar ou ir directamente para os credores!
A imagem que me assalta é que nos foram levando (sempre com resistências, sempre com avisos, sempre com prevenções e luta, mas sem que a relação de forças as conseguisse impor) por caminho direito a um abismo e, agora que estamos à beirinha, nos empurram para... dar um saltinho em frente. Porque os mercados decretaram que estamos falidos, como se fossemos uma loja da esquina.
Há é que mudar de políticas, das políticas que nos trouxeram à borda do precipício. E não há que recuar, há é que dar dois passos atrás, virar à esquerda e aproximarmo-nos da ponte que nos leve ao futuro.
Há que valorizar os trabalhadores, os nossos recursos naturais e adquiridos, dar importância vital ao mercado interno porque isso quer dizer mais consumo e melhor viver para os portugueses, há que, claro, incentivar as actividades de exportação mas não as tornar o maior e, muito menos, exclusivo deus ex-machina da economia (porque este são as necessidades das pessoas e a sua satisfação), menos banqueirismo e financeirismo só qb para que a economia funcione.
Podemos fazê-lo sozinhos?
Nada se faz sozinho... mas nada se faz sem sermos nós, onde e quando, a fazê-lo! Esta, sim, é uma imagem em que o Estado pode ser assimilado ou assemelhado a tudo o resto. O mundo internacionalizou-se e está cada vez mais internacionalizado. A interdependência é um facto incontroverso. Mas não pode ser – não será! – tão assimétrica como é e como este caminho que estamos percorrendo a faz.
Mas pelo mundo - que não se reduz à Europa e à União Europeia e Estados Unidos -, vão acontecendo coisas...