terça-feira, julho 13, 2010

Reflexão lenta, curta... e talvez urgente - 56 (uma entre-vista a-dois com euro e outras coisas-1)

(continuação)
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Serem sempre os mesmos a ser ouvidos, não quer dizer que não haja novidades, que os discursos se repitam sem alteração. Nem assim poderia ser. A realidade impõe-se. A “transformação dialéctica do real é o nosso destino” *. E, sendo nosso, também é o deles.
Por isso…
Numa significativa entre-vista-a-dois, no caderno Economia do Expresso, a primeira questão é a de saber quem são os dois. Sem surpresa, são Silva Lopes e Jacinto Nunes. Dois economistas que, durante décadas, me habituei a ouvir e a respeitar, apesar da opiniões quase sempre diferentes.
Jacinto Nunes foi o meu primeiro professor de economia, no ISCEF, em 1953/4, e que o foi mesmo!, que me abriu muitas janelas em tempo de “tudo fechado”; Silva Lopes, conterrâneo oureense que, entre outras coisas, foi ministro e leal colaborador de Vasco Gonçalves. Embora confesse que, nestes últimos anos, me cansei de os ler e ouvir, e me sentir incomodado com algumas das suas recentes opiniões.
Particularmente com a verdadeira “fixação” de Silva Lopes no argumento (técnico?) de que uma excessiva subida dos salários (!!!) seria responsável pela nossa baixa competitividade, que não se vê como compatibiliza com o indispensável combate à “desigualdade do rendimento que é muito grande em Portugal e não tem diminuído” e com a necessidade de “sustentar” a procura interna.
Mas adiante… De Silva Lopes quero, nesta entrevista-a-dois, sublinhar uma outra resposta, quando lhe foi perguntado qual a decisão mais errada que Portugal tomou, e respondeu “Fui muito crítico quando entrámos para o euro com aquela taxa de câmbio. Podíamos ter entrado mais tarde ou ter deixado cair a taxa de câmbio (…) Isso fez uma perda brusca de competitividade naquela altura.”
Não resisto a trazer a parte final da ficha C3 (o euro e os exportadores portugueses) do meu livrinho Não à moeda única (40 fichas em edição de 1997 de editorial avante!):
«(…) Assim, o exportador português perde, agora, com o “escudo forte”, capacidade concorrencial, que, depois, não poderá recuperar (…) uma vez que toda a política monetária e cambial relativa ao euro se transferiria para o BCE em Frankfurt. Ou que só poderá recuperar através das políticas social e fiscal.»
E isto, que então era evitável, não é, hoje, remediável depois de comprovado o desastre que foi?!
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* - Barata-Moura em cadernos de O Militante
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(continuará com breve comentário sobre afirmações de Jacinto Nunes
nesta entre-vista-dois)
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