Ao olhar para a primeira página dos jornais pode descortinar-se a importância relativa das coisas. Ou que se quer dar às coisas.
Essas primeiras páginas dos jornais são lidas, não direi por toda a gente, mas por muita gente. Por muito mais gente que aquela que lê os jornais.
Depois, cada notícia tem a sua caixa de ressonância, na comunicação social falada (rádio) e na "ouvista" (na televisão). Aliás, uns meios encadeiam-se nos outros, e difícil é dizer qual é que é caixa de ressonância de qual.
Tudo isto porque me chocou a primeira página do semanário de que não só, com os olhos. "lambo as maiores", as da capa, como leio... para tomar o pulso à realidade em que sou uma migalha.
A chamada para a entrevista exclusiva do ministro de negócios estrangeiros, a vermelho e "caixa alta", ocupa quatro vezes o espaço da chamada à notícia de que 10 desempregados perdem subsídio a cada hora, em azul desmaiado e, em letra miudinha de sub-título, "Cerca de 7400 pessoas deixam de receber subsídio de desemprego todos os meses porque o período de atribuição chega ao fim".
Os "tans-tans" das caixas de ressonância apenas ampliam, como é de seu mister, o que já é de tão evidente desproporcionalidade.
A entrevista de Luís Amado tornou-se "um caso". Inocentemente? É evidente que não. O cargo de ministro dos negócios estrangeiros é o que, por definição, dá mais contactos com o exterior, aquele que, devendo ser o intérprete das posições nacionais, mais traz os "recados" dos "colegas" de outros "negócios estrangeiros". E duas coisas sublinho, pela minha interpretação da repercussão que estão a ter as declarações do "nosso" (?) MNE:
- este governo "já deu o que tinha a dar" às forças dominantes do... "mercado":
- a "saída do euro" - e não só de Portugal mas de outros países incómodos à "estabilidade monetária" do núcleo central, mormente da Alemanha - prepara-se, com as dificuldades técnicas enormes que essa centrifugação tem.
Quando aos 10 desempregados que perdem o subsídio a cada hora, mais os que, em cada hora, avolumam o número de desempregados com ou sem subsídio, essa é outra história. E, para ela, há outra resposta a dar, que não tem paralelas caixas de ressonância mas que tem de ter outros "tans-tans", os nossos, e para que Greve Geral é uma resposta que tem de ser muito forte.
5 comentários:
Os nossos jornalistas( não todos, felizmente) são muito bem mandados e sabem muito bem qual a repercussão que pretendem que as suas notícias tenham.
Um beijo.
Saber ler é um dom. Dar a conhecer aos outros, uma missão!Excelente, professor:))
Claro,para nós ficou sempre o telefone árabe,usemo-lo.
Há,no entanto,uma dúvida alguma vez esta nação pertenceu ao euro,a não ser para ser explorada.
Um abraço,
mário
Viva a greve geral.
Leituras para todos os gostos...
Míopes, astigmaticos e ceguinhos...
Abraço.
Ana
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